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Corinthians conquista o Brasileirão Feminino e deixa claro que não vai parar de fazer história

Luiz Ferreira analisa as escolhas de Arthur Elias e a goleada sobre as Gurias Coloradas na coluna PAPO TÁTICO

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Não é exagero nenhum afirmar que eu e você vimos mais um belo capítulo de uma história magnífica sendo escrita neste sábado (24). Isso porque o Corinthians mostrou que não vai parar de quebrar recordes e de surpreender todos aqueles que apoiam e amam o futebol feminino tão cedo. A goleada sobre o bom time das Gurias Coloradas não valeu apenas o título do Brasileirão Feminino, mas a consolidação de um projeto altamente vencedor e hegemônico aqui por estas bandas. Arthur Elias venceu o duelo tático contra Maurício Salgado e provou que tem profundo conhecimento das suas jogadoras. E o time fez sua parte dentro de uma Neo Química Arena lotada.

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É possível dizer que as Brabas começaram a vencer o jogo deste sábado na escalação. Com Diany e Yasmim formando um trio de zaga junto de Andressa e Vic Albuquerque jogando ao lado de Gabi Zanotti como volante, o Corinthians iniciou a partida decisiva com forte pressão na portadora da bola e usando bastante os lados do campo com as alas Jaqueline (um grande achado de Arthur Elias na posição) e Tamires. Mais à frente, Jheniffer, Adriana e Gabi Portilho abriam espaços na última linha de defesa das Gurias Coloradas.

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Do outro lado, o Internacional entrou em campo no 4-4-2 costumeiro de Maurício Salgado, mas apresentava grandes dificuldades para conter o ímpeto ofensivo do seu forte adversário. A única modificação realizada na equipe colorada com relação ao jogo de ida foi a entrada de Eskerdinha no lugar de Isabela, suspensa pelo cartão vermelho (justo) recebido em Porto Alegre. Mesmo assim, não era difícil ver que o Corinthians levava ampla vantagem nos duelos nesse início do jogo. Principalmente quando forçava pelos lados do campo.

Formação inicial das duas equipes. O Corinthians manteve o 3-4-3 do jogo de ida e levava vantagem pelos lados do campo.

É preciso destacar que o Corinthians não se abalou com o gol (bem) anulado de Gabi Zanotti no início da partida e nem quando o Internacional abriu o placar com Sorriso aos 13 minutos do primeiro tempo. O escrete comandado por Arthur Elias se manteve fiel ao seu plano e foi trabalhando bastante as variações pelos lados do campo e explorando as bolas aéreas. O gol de empate veio numa daquelas jogadas que merecem ser estudadas. Yasmim relembrou seus momentos de lateral e foi até a linha de fundo. Enquanto Jheniffer, Adriana e Gabi Portilho arrastavam e prendiam a zaga das Gurias Coloradas, Jaqueline (a ala pela direita) acertou um belo chute de primeira.

Yasmim vai até a linha de fundo, as atacantes arrastam a zaga e Jaqueline aparece para fazer o gol. Foto: Reprodução / SPORTV

Não era difícil perceber que as Gurias Coloradas sofriam demais quando o Corinthians abriam o campo e exploravam as costas das laterais Capelinha e Eskerdinha. As coisas pioravam quando Gabi Portilho recebia a bola na direita e forçava o jogo em cima da camisa 33 (que estava completamente perdida na marcação) e partia pra cima da zagueira Sorriso sempre com a companhia de Jaqueline fazendo a jogada de ultrapassagem. Ao mesmo tempo, Vic Albuquerque passou a se lançar mais ao ataque e se somar ao quinteto ofensivo. Não demorou muito para que o Internacional sentisse sucumbisse diante de tanta intensidade, movimentação ofensiva e velocidade nas transições.

Eskerdinha mostrou muitos problemas na marcação e deixou Sorriso sobrecarregada na defesa. Foto: Reprodução / SPORTV

O gol de Diany (marcado no final da primeira etapa) foi a pá de cal na confiança das Gurias Coloradas. E logo depois do intervalo, Gabi Portilho aproveitou a indecisão da defesa do Internacional para servir Vic Albuquerque no lance do terceiro gol do Corinthians. Maurício Salgado ainda tentou corrigir os problemas da sua equipe com as entradas de Biazinha, Priscila e Isa Haas, mas acabou abrindo ainda mais espaços na frente da sua área. Aliás, este que escreve ainda não compreendeu as mexidas do treinador colorado. Se a ideia era espelhar o 3-4-3 corintiano, por que abrir mão de Sorriso que, apesar de amarelada, era a zagueira mais rápida do Internacional?

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Maurício Salgado tentou espelhar o 3-4-3 do Corinthians, mas só conseguiu abrir espaços na defesa. Foto: Reprodução / SPORTV

Enquanto isso, o Corinthians seguia fazendo seu jogo na base da qualidade técnica e da concentração, duas características bem conhecidas desse elenco. E o gol que fechou a goleada e carimbou o tetracampeonato brasileiro nasceu de uma belíssima troca de passes envolvendo quase todo o time. Diany apareceu pela direita, passou para Adriana e esta tocou de primeira para Jaqueline (que se lançava às costas de Biazinha e Isa Haas). O cruzamento encontrou Jheniffer dentro da pequena área e a camisa 9 só teve o trabalho e escorar para as redes da goleira Mayara. Vitória incontestável de um Corinthians intenso, organizado e cada vez mais disposto a fazer história.

Diany, Adriana e Jaqueline iniciam a jogada do quarto gol explorando a desorganização do Internacional. Foto: Reprodução / SPORTV

Se Diany foi a melhor jogadora da finalíssima (na humilde opinião deste que escreve), Duda Sampaio merece o título de craque desse Brasileirão Feminino. A camisa 10 das Gurias Coloradas pode não ter conseguido fazer a diferença na partida deste sábado (24), mas nunca se escondeu e sempre tentou fazer algo de diferente no meio-campo. Aliás, a campanha do Internacional merece aplausos de todos os que acompanham a modalidade. Embora tenha cometido seus equívocos nas duas partidas das finais, o técnico Maurício Salgado conseguiu formar uma equipe forte e altamente competitiva aliando experiência e juventude num elenco coeso e bem treinado. Belo trabalho.

Quanto ao Corinthians, a impressão que fica é que esse time ainda tem disposição suficiente para seguir quebrando recordes e encantando todos aqueles que amam o velho e rude esporte bretão. Arthur Elias, Diany, Gabi Zanotti, Adriana, Lelê, Yasmim, Tamires, todos no elenco foram gigantescos nos momentos mais complicados. O título está em ótimas mãos. Como sempre esteve.