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Gurias Coloradas e Corinthians provam que futebol feminino já é mais do que uma realidade no Brasil

Luiz Ferreira analisa o jogo de ida da grande final do Brasileirão Feminino na coluna PAPO TÁTICO

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

É verdade sim que o caminho ainda é longo e que muito ainda precisa ser feito. Mas ver Internacional e Corinthians entregando um futebol de altíssimo nível na manhã/tarde deste domingo (18) em Porto Alegre deixou todos aqueles que apoiam, defendem e amam o velho e rude esporte bretão jogado por mulheres com aquele calorzinho no coração. O recorde de público para uma partida de futebol feminino no Brasil (36.330 torcedores) e a partida cheia de alternativas, chances de gol e qualidade técnica das Gurias Coloradas e do Timão falam por si só. E o empate em 1 a 1 no “primeiro round” da final do Brasileirão Feminino acabou sendo justo diante do que eu e você vimos.

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A começar pela proposta das duas equipes. Maurício Salgado mandou sua equipe a campo num 4-3-3 que se transformava num 4-4-2 dependendo da situação. Houve quem visse um 4-1-3-2 diante dos avanços constantes de Duda Sampaio para junto do quarteto ofensivo. Do outro lado, Arthur Elias tentava contornar os desfalques da sua equipe apostando num 5-4-1/3-4-2-1 com Jaqueline e Tamires nas alas, Gabi Morais e Gabi Zanotti por dentro e Adriana e Gabi Portilho procurando Jheniffer no comando de ataque. O problema estava no espaço que as Gurias Coloradas encontravam entre zagueiras e alas. Fabi Simões, Maiara Lisboa e companhia levavam ampla vantagem pelos lados.

Formação inicial das duas equipes no Beira-Rio. O Internacional explorou bem os espaços do 5-4-1 do Corinthians.

O que se via no Beira-Rio eram duas equipes altamente qualificadas e que tentavam se adaptar ao contexto da partida deste domingo (18). Por mais que o Internacional levasse vantagem nos duelos físicos no meio-campo (e isso ajuda a explicar a vantagem conquistada no primeiro tempo), o Corinthians também causava problemas quando explorava a velocidade de Adriana e Gabi Portilho e as dificuldades que suas adversárias encontravam para controlar a profundidade (conhecido também como o popular “correr para trás”) e para fechar os espaços na frente da última linha. Elementos de um confronto que já entrou para a história antes mesmo da bola rolar no Beira-Rio.

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Muito da superioridade do Internacional no início de partida se deve à postura do time sem a bola. Todo o time se posicionava de modo a dificultar ao máximo a saída de bola do Corinthians. O objetivo era claro: provocar o passe errado ou o chute para longe, retomar a posse e acelerar na direção do gol de Lelê (uma das melhores em campo com pelo menos três grandes defesas). Maiara Lisboa e Fabi Simões fechavam em cima de Jaqueline e Tamires, Duda Sampaio e Juliana subiam a marcação e Lelê (a atacante) e Millene ficavam de olho em Tarciane e Yasmim. Foi desse modo que as Gurias Coloradas conseguiram controlar o ímpeto ofensivo das suas fortes adversárias no Beira-Rio.

As Gurias Coloradas encaixaram a marcação na saída de bola do Corinthians no primeiro tempo. Foto: Reprodução / BAND

Duda Sampaio escapou pela esquerda e fez o cruzamento que deixou Millene em condições de abrir o placar 31 minutos da primeira etapa. No entanto, o panorama da partida deste domingo (18) mudou drasticamente depois do intervalo por dois motivos. O primeiro foi a entrada de Vic Albuquerque no lugar de Gabi Morais. E o segundo (e talvez o mais importante) foi a entrada de Tâmara no lugar de Capelinha (lesionada). O recuo de Fabi Simões para a lateral deixou as Gurias Coloradas sem intensidade para subir a marcação como no primeiro tempo e com muitos espaços entre suas linhas. Não foi por acaso que Tarciane encontrou tanto espaço para lançar Jheniffer no lance do gol de empate das Brabas.

O Corinthians melhorou com a entrada de Vic Albuquerque e a postura conservadora do Internacional. Foto: Reprodução / BAND

É interessante notar que, além de começar a sentir a forte exigência física da partida, o Internacional também sentiu demais o recuo de Fabi Simões para a última linha. Lelê (a atacante) ficou sozinha na frente e sentiu falta da jogadora de velocidade e força para furar o trio defensivo do Corinthians. A justa expulsão de Belinha no final do segundo tempo complicou ainda mais as coisas para o escrete comandado por Maurício Salgado, embora a goleira Mayara e o sistema defensivo das Gurias Coloradas tenham cumprido bem suas funções diante do forte ataque adversário. O 4-4-1 encontrou algumas dificuldades, mas soube conter as investidas de Tamires, Vic Albuquerque e companhia.

O Internacional se organizou num 4-4-1 depois da expulsão de Belinha e segurou o ímpeto do Corinthians. Foto: Reprodução / BAND

Fato é que o confronto ainda está completamente aberto. Mesmo com a torcida corintiana prometendo quebrar o recorde de público na partida de volta, marcada para o próximo sábado (24), na Neo Química Arena. É possível sim que o time de Arthur Elias esteja alguns passos à frente, visto que Diany volta ao time depois de cumprir suspensão e que o Internacional pode não contar com Capelinha no confronto decisivo em São Paulo. O desfalque de Belinha já é certo. Com isso, Maurício Salgado pode ter que mexer ainda mais na sua equipe e buscar soluções dentro do elenco para conter um Corinthians que promete ainda mais volúpia e intensidade jogando diante da sua torcida.

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Independente de quem levantar a taça no sábado (24) já é certo que o futebol feminino viveu um dia histórico neste domingo (18). Não somente pelos mais de 36 mil torcedores presentes no Beira-Rio, mas pela qualidade do futebol apresentado nesse “primeiro round” da final do Brasileirão Feminino. A modalidade já é uma realidade. E ela veio pra ficar doa a quem doer.