Home Futebol Intensidade e ótimo jogo coletivo marcam a melhor atuação da seleção feminina na era Pia Sundhage

Intensidade e ótimo jogo coletivo marcam a melhor atuação da seleção feminina na era Pia Sundhage

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a goleada sobre a Noruega e explica como o Brasil construiu o resultado

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

É possível afirmar sem medo de ser feliz ou de soar “resultadista” que a goleada sobre a Noruega nos entregou a melhor atuação da Seleção Feminina sob o comando de Pia Sundhage. Vimos intensidade, concentração, segurança defensiva, velocidade com a posse da bola e ótimo trabalho sem ela. Mas talvez a grande notícia desta sexta-feira (8) tenha sido a mudança na postura. Ao invés das atuações “água de salsicha” da Copa América e dos amistosos contra a África do Sul, vimos um time ligado em todos os lances e que procurava executar as orientações de Pia Sundhage com o máximo de perfeição possível. Finalmente o Brasil fez aquilo que se esperava dele há muito tempo.

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Este que escreve entende muito bem que ainda há uma série de ajustes que precisam ser realizados na equipe brasileira. No entanto, ainda que o time não tenha apresentado a compactação tão pedida por Pia Sundhage na frente da última linha em alguns momentos, foi bom ver a Seleção Feminina adiantando as linhas de marcação, forçando o erro na saída de bola da Noruega e explorando as alternativas que a partida apresentava. O jogo coletivo e a maneira como as jogadoras se entenderam em campo também precisa ser destacado.

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Muita coisa passava também pela forma como a treinadora sueca montou a Seleção Feminina. Ao invés do 3-4-2-1 utilizado nas vitórias sobre a África do Sul, o Brasil se organizou num 4-4-2/4-1-3-2 mais nítido, com Duda Sampaio na frente da última linha e Ary Borges pisando na área com frequência. A grande surpresa da escalação ficou por conta do posicionamento de Geyse, mais aberta pela direita e venceu quase todos os duelos contra a lateral Tuva Hansen. Tamires também escapava pela esquerda e participava da armação das jogadas.

Ary Borges avançava, Duda Sampaio armava o jogo e Tamires e Geyse exploravam os lados do campo. Foto: Reprodução / SPORTV

Não demorou muito para que a Seleção Feminina se impusesse dentro de campo e controlasse as ações da partida. Ludmila e Adriana trocavam de posições a todo momento e exploravam bem o lado direito da defesa da Noruega. Ao mesmo tempo, Bia Zaneratto prendia uma das zagueiras e abria o espaço que Ary Borges atacava por dentro. Com as jogadoras mais próximas umas das outras e a marcação bem encaixada na saída de bola norueguesa, a Seleção Feminina foi conseguindo provocar o erro das suas adversárias e criar chances de gol aos montes. E não é exagero nenhum afirmar que a equipe comandada por Pia Sundhage poderia ter vencido a partida desta sexta-feira (8) por uma vantagem ainda maior.

A Seleção Feminina adiantou suas linhas e encaixou a marcação na saída de bola da Noruega. Foto: Reprodução / SPORTV

É interessante notar também que três dos quatro gols da Seleção Feminina sobre a Noruega nasceram ou da troca de passes desde o campo de defesa (onde Antônia, Tainara e Kathellen mostravam muita segurança no combate ao ataque adversário e no posicionamento) ou da forte pressão na saída de bola adversária. E quem acompanha as entrevistas de Pia Sundhage seja nas convocações ou após as partidas sabe muito bem que ela sempre procurou que sua equipe fizesse isso sem campo. A diferença é que as coisas (finalmente) começaram a fluir.

Conforme este que escreve sempre gosta de frisar, você tem todo o direito de não gostar do estilo da treinadora sueca ou de algumas escolhas, mas não pode negar que há uma ideia clara de jogo, todo um trabalho sendo realizado dentro e fora de campo com a Seleção Feminina. Não se trata apenas de escolher esta jogadora ou invés de outra de mais “grife”, mas de entender o que a equipe precisa no momento. Há como discordar sim. Desde que se reconheça o acerto em várias escolhas feitas nesse ciclo iniciado após Tóquio 2020.

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Num dos únicos vacilos do sistema defensivo brasileiro, Ildhusöy marcou o gol de honra da Noruega logo depois de Bia Zaneratto acertar belo chute de direita da entrada da área no início do segundo tempo. Mesmo assim, a Seleção Feminina manteve a pegada e foi construindo a goleada na base da troca de passes e de todos os elementos já descritos anteriormente. Vale destacar aqui que o time não diminuiu o ritmo nem mesmo quando Pia Sundhage mandou Gabi Nunes, Tarciane, Kerolin, Millene, Duda Francelino e Jaqueline para o jogo. Aliás, a camisa 24 quem fechou a goleada em bela jogada iniciada por Duda Sampaio na entrada da área. Tamires explorou a linha de fundo e Jaque apareceu por trás da zaga.

Duda Sampaio lança Tamires, o ataque arrasta a zaga e Jaqueline aparece para fazer o quarto gol. Foto: Reprodução / SPORTV

Vale lembrar que a Noruega não perdia uma partida oficial jogando em casa há cinco anos. Duda Sampaio foi muito bem iniciando a saída de bola junto com Antônia, Tainara e Kathellen e distribuiu passes generosos para as jogadoras de ataque. Falando nelas, talvez a grande surpresa (pelo menos para este que escreve) tenha sido Geyse. Mesmo atuando num setor onde não se sente tão confortável, a atacante do Barcelona simplesmente engoliu a lateral Tuva Hansen e criou algumas das principais jogadas de ataque da Seleção Feminina. Quando quis jogo, Bia Zaneratto colocou seu talento à disposição da equipe brasileira. Adriana, Tamires e Ary Borges também merecem destaque.

O único “porém” ainda é o último passe. Por mais que tenha dominado o jogo no Ullevaal Stadion, a Seleção Feminina pecou demais nesse quesito e desperdiçou ótimas chances de construir um placar até mais elástico. São lições que ficam para a sequência da preparação para a Copa do Mundo de 2023. Mas fica a certeza de que o caminho parece ser o mais promissor possível.

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