Home Futebol Ataque rápido, marcação forte e adaptações pontuais: o que esperar de Odair Hellmann no Santos

Ataque rápido, marcação forte e adaptações pontuais: o que esperar de Odair Hellmann no Santos

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa os conceitos, as ideias e o estilo de jogo do novo treinador do Peixe

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

O Santos anunciou a contratação de Odair Hellmann na última quarta-feira (16) de maneira até certo ponto surpreendente diante das especulações de final de ano no futebol nacional. O catarinense de Salete estava sem clube desde a sua saída do Al-Wasl (clube dos Emirados Árabes) e teve a indicação de ninguém menos que Paulo Roberto Falcão, novo coordenador de futebol do clube. Não deixa de ser uma escolha interessante por parte da diretoria do Santos, visto que Odair Hellmann é adaptável e sabe organizar sistemas defensivos sólidos. Justamente uma das suas marcas registradas e um dos pontos fracos do time na última edição do Brasileirão.

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A primeira impressão muitas vezes não é a que fica. Mas é preciso levar em consideração a tentativa da diretoria santista de fazer algo diferente do que foi feito nos últimos meses. Vale lembrar que o Santos teve CINCO treinadores diferentes em 2022: Fábio Carille, Marcelo Fernandes (interino), Fábian Bustos, Lisca e Orlando Ribeiro (também interino). Ou seja, a escolha por Odair Hellamann deixa claro que os dirigentes pretendem encontrar algum período de estabilidade no clube. Se não com conquistas, mas com bons resultados e boas campanhas.

Odair Hellmann, dentre todos os nomes que estavam livres no mercado, parece ser o mais adaptável, isto é, o que mais respeita as características do elenco que tem em mãos. E isso pode ser um ganho imenso no Santos. Exatamente como fez num Internacional que tinha acabado de subir para a primeira divisão e que terminou o Brasileirão no G4. Um 4-1-4-1 com muita marcação, encaixes, perseguições curtas e que tinha nos volantes Edenílson e Patrick as principais válvulas de escape de um time forte na defesa e muito veloz no ataque.

Odair Hellmann montou o Internacional num 4-1-4-1 com muita força na marcação e velocidade no ataque. Foto: Reprodução / Premiere

É interessante notar que mesmo tendo um estilo mais adaptável, Odair Hellmann gosta de deixar algumas das suas marcas nas suas equipes. Existe sim a pressão alta no campo do adversário, mas a tendência são linhas mais baixas e muita compactação. No caso do Internacional, o 4-1-4-1 tinha cara de 4-3-3 quando os volantes se aproximavam dos atacantes e pisavam na área. Não foram poucas as vezes em que Patrick e Edenílson marcaram gols importantes. A gol da vitória sobre o Grêmio no Brasileirão de 2018 nasceu de um ataque rápido nascido de um dos lados do campo. Jonatan Álvez arrastou a zaga e Uendel colocou a bola na cabeça de Edenílson.

Jonatan Álvez arrasta a zaga e Edenílson ataca o espaço no lance do gol da vitória do GreNal de 2018. Foto: Reprodução / Premiere

Odair Hellmann acertou com o Fluminense em 2019 e teve que se adaptar à realidade financeira do clube e adaptar seu estilo aos jogadores que tinha à disposição. Com Nenê e Fred no elenco, a ideia foi apostar num 4-2-3-1/4-4-2 que liberava os dois veteranos da marcação, mas que acabava sobrecarregando os pontas e volantes. A ideia era compensar isso com linhas mais baixas de marcação e muita velocidade pelos lados com Fernando Pacheco e Wellington Silva (e os jovens Luiz Henrique e Marcos Paulo). Mesmo com problemas para manter a folha salarial em dia, o Fluminense conseguiu se manter na parte de cima da tabela e teve boas atuações.

No Fluminense, a primeira ideia de Odair Hellmann foi apostar num 4-2-3-1 que liberava Nenê e Fred. Foto: Reprodução / YouTube / GE

Com Fred permanecendo mais tempo no departamento médico do que em campo, Odair Hellmann conseguiu dar mais intensidade ao Fluminense com Nenê vindo jogar pelo lado do campo num 4-3-3 de muita compactação e velocidade nas transições. Foi assim que o time conseguiu criar sérios problemas para o Flamengo de Jorge Jesus no estadual de 2020. E mesmo com os veteranos em campo, Odair ainda criava alternativas interessantes para compensar essa falta de combatividade. Hudson e Nenê fechavam os lados, Fred ficava mais à frente e os jovens Caio Paulista e Michel Araújo ficavam mais por dentro numa postura mais agressiva na marcação.

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Nenê e Hudson (mais lentos) ficavam mais à frente e Caio Paulista e Michel Araújo saltavam para a pressão. Foto: Reprodução / YouTube / GE

É óbvio que Odair Hellmann vai encontrar uma realidade completamente diferente no Santos. O time possui jovens valores de altíssima qualidade (como Marcos Leonardo, Ângelo, Lucas Pires, Rwan e Lucas Barbosa) e nomes mais experientes (como Maicon, Eduardo Bauermann, João Paulo, Luan e Carlos Sánchez), mas a impressão que fica é a de que o elenco está muito desequilibrado. Não é por acaso que os nomes de Patrick e Edenílson já começaram a ser ventilados na Vila Belmiro. Mesmo assim, é pouco para quem tem a aspiração de PELO MENOS brigar por vaga na Libertadores de 2024. Está claro que o Santos precisa subir de patamar.

Mas nada disso será possível se Odair Hellmann não encontrar a confiança que recebeu em Internacional e Fluminense para trabalhar e montar o time da maneira que achar mais adequada. E que o torcedor santista entenda de uma vez: não será com o novo treinador que o tal “DNA” do clube vai reaparecer. Por mais que seja adaptável e respeite as características do elenco, Odair veio muito mais para arrumar as coisas do que para dar espetáculo. Uma coisa de cada vez, não é mesmo?