Home Futebol Senegal faz bom jogo, mas Holanda consegue vitória no fim por se atentar mais aos detalhes

Senegal faz bom jogo, mas Holanda consegue vitória no fim por se atentar mais aos detalhes

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a vitória neerlandesa e o duelo de estratégias entre Aliou Cissé e Louis van Gaal

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

É verdade que a Holanda, apesar da atuação mais abaixo do esperado, mereceu sair de campo com a vitória e os três pontos. O escrete comandado por Louis van Gaal foi mais efetivo e esteve mais atento a detalhes que veremos daqui a pouco. No entanto, o futebol praticado por Senegal merece sim ser exaltado. Mesmo sem Sadio Mané (sua principal estrela), o time de Aliou Cissé conseguiu provocar diversos problemas para o selecionado neerlandês e só não saiu de campo com um resultado melhor por conta das circunstâncias e da falta de capricho nos momentos decisivos. Apesar da derrota, os “Leões da Teranga” mostraram sim que podem ir longe nessa Copa do Mundo.

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No entanto, é preciso lembrar sempre que o futebol é um esporte movido a paixão e decidido em detalhes mínimos. Por mais que a Holanda de Louis van Gaal não tenha feito um bom jogo nesta segunda-feira (21) no Al Thumama Stadium, Senegal começou a perder o confronto quando deu campo para que Frenkie de Jong (o melhor em campo na opinião deste que escreve) pudesse descomplicar as coisas para uma Laranja mais travada do que Mecânica por conta de algumas das escolhas de seu treinador que não funcionaram lá muito bem contra um aplicado Senegal.

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Com a posse da bola, a Holanda jogava numa espécie de “pirâmide invertida”, em algo semelhante a um 2-3-5 com De Ligt alinhado a De Jong e Berghuis, Dumfries e Bilnd subiam para o ataque e se juntavam a Janssen, Gakpo e Bergwijn. O problema estava nos momentos sem a bola. O time de Loius van Gaal esteve muito espaçado e sofreu com o 4-1-4-1 bem encaixado de Senegal. Principalmente com as investidas de Boulaye Dia, Diatta e Ismaila Sarr em cima da última linha. Não foram poucas as vezes em que o trio ofensivo encontrou os zagueiros sem cobertura alguma.

Formação inicial das duas equipes. A Holanda encontrou dificuldades para encaixar seu jogo contra o 4-1-4-1 bem montado de Senegal.

Boa parte do sucesso da equipe de Aliou Cissé (apesar dos vacilos da defesa em dois lances no primeiro tempo) estava na estratégia adotada para incomodar a Holanda. Rapidez nos desarmes e alta velocidade nos contra-ataques com toques rápidos. Engana-se redondamente quem pensa que Senegal é só força. Estamos falando de um time ágil, muito bem organizado e com jogadores talentosos. E com tanto espaço no meio-campo, os “Leões da Teranga” conseguiram executar o plano de jogo do seu treinador com ainda mais facilidade. Faltou só acertar o pé nas conclusões a gol e no último passe. Nesse ponto, Sadio Mané fez muita falta no escrete de Aliou Cissé.

Senegal rouba a bola no meio e explora o espaço às costas da defesa da Holanda com passes rápidos. Foto: Reprodução / YouTube / Caze TV

Do outro lado, o escrete neerlandês sofria com a falta de mobilidade e com os espaços entrelinhas. Apenas Gakpo tentava fazer algo diferente a partir de associações com Blind e da movimentação atrás da dupla de ataque, as sem muito sucesso. Não foi por acaso que Louis van Gaal mexeu na estrutura da sua equipe após o intervalo. Memphis Depay (mesmo sem estar 100% fisicamente) entrou no lugar de Janssen e deu mais mobilidade ao ataque neerlandês e Klsassen entrou no lugar de Bergwijn para fechar mais o meio. No entanto, o jogador que mais se destacou em campo foi Frenkie de Jong ao fazer o óbvio: recuar para encontrar tempo e espaço para trabalhar as jogadas.

Difícil não perceber que Senegal pecou num detalhe importantíssimo num momento em que o jogo se encaminhava para um empate sem gols. Por mais que o 4-1-4-1 de Aliou Cissé estivesse bem fechado e bem organizado, faltou quem subisse a pressão em cima de De Jong no lance que originou o primeiro gol da Holanda. Podemos mencionar o vacilo do goleiro Édouard Mendy e o cochilo de Diallo na perseguição a Gakpo. Mas precisamos exaltar sim a “fatiada” de cinema que o camisa 21 holandês fez. Cruzamento perfeito e bola na rede aos 38 minutos do segundo tempo no Al Thumama Stadium. Para a felicidade da torcida laranja e o desespero dos senegaleses.

De Jong tem espaço e tempo de sobra para colocar a bola na cabeça de Gakpo no lance do primeiro gol. Foto: Reprodução / YouTube / Caze TV

O gol desmontou os “Leões da Teranga” que levaram mais um nos acréscimos com Klaassen aproveitando rebote de Édouard Mendy em chute defensável de Depay. Um castigo para o time de Aliou Cissé que conseguiu se adaptar ao contexto da partida e criar problemas para uma das principais seleções dessa Copa do Mundo. A desatenção nos momentos decisivos e a falta de apego aos detalhes parece ter minado o jogo de Senegal numa derrota doída, mas que deixa lições importantes para as partidas contra Catar e (principalmente) Equador. Já a Holanda vai precisar mostrar muito mais do que mostrou nessa segunda-feira (21). Principalmente em contextos mais complicados.

A vitória neerlandesa também pode ser vista do ponto de vista individual. Se Louis van Gaal tinha Gakpo, Depay e Frenkie de Jong para descomplicar as coisas dentro de campo, Aliou Cissé sentiu demais a ausência de Sadio Mané na hora de decidir as jogadas. Mas nem isso apaga o fato de que a Holanda acabou rindo por último porque se atentou mais aos detalhes e foi mais eficaz quando teve a chance. Futebol também é objetividade e simplicidade.