Home Futebol Virada sobre Portugal comprova a qualidade da Coreia do Sul e indica sérios problemas para a Seleção Brasileira

Virada sobre Portugal comprova a qualidade da Coreia do Sul e indica sérios problemas para a Seleção Brasileira

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a partida desta sexta-feira (2) e as ideias do técnico Paulo Bento

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

A frase “não existe mais bobo no futebol” nunca fez tanto sentido como nessa Copa do Mundo. Não somente pelas vitórias de seleções que estão na segunda e da terceira prateleira sobre equipes como Argentina, Espanha, Alemanha e França, mas pela forma como Arábia Saudita, Japão e Tunísia construíram resultados históricos no Catar. A virada da Coreia do Sul sobre Portugal, em jogo disputado nesta sexta-feira (2), no estádio Cidade da Educação, comprova essa tese e também a qualidade da equipe comandada por Paulo Bento (que assistiu ao jogo das cadeiras do estádio). Muita velocidade e muita intensidade nas trocas de passe num time rápido e inteligente com a bola no pé.

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Esqueça por um momento que a Coreia do Sul enfrentou um adversário repleto de jogadores reservas. Dos titulares de Portugal, apenas Cristiano Ronaldo, Rúben Neves, João Cancelo e Diogo Costa iniciaram a partida. Mesmo assim, o time comandado por Paulo Bento foi muito corajoso no ataque e inteligente para tomar as melhores decisões com a bola no pé. Sem o zagueiro Kim Min-Jae, o treinador dos “Tigres da Ásia” optou pela entrada de Kwon Kyung-Won. Lee Kang-In entrou no meio-campo e Lee Jae-Sung entrou no ataque. O craque Son se manteve mais à frente.

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Do outro lado, Fernando Santos manteve seu 4-3-3 básico com CR7 no comando de ataque, Fernando Horta e João Mário pelos lados, João Cancelo na lateral-esquerda e os volantes Vitinha e Matheus Nunes pisando na área. Portugal conseguia se impor no ataque muito mais na base da qualidade individual dos seus jogadores e da organização coletiva. A Coreia do Sul encontrava dificuldades para encaixar a pressão em cima do seu forte adversário e deixava espaços demais nas costas da última linha. O goleiro Kim Seung-Guy evitava o pior com boas defesas.

Formação inicial das duas seleções. O time reserva de Portugal conseguia se impor e criava dificuldades para a Coreia do Sul com boa organização.

Ricardo Horta abriu o placar logo aos cinco minutos de jogo em bela jogada de Diogo Dalot no lado direito de ataque. A Coreia do Sul respondia com a já conhecida e mencionada organização nos momentos de posse apesar das dificuldades em ficar com a bola no pé. Não foram poucas as vezes em que o time comandado por Paulo Bento teve que se fechar na frente da área para evitar uma goleada ainda no primeiro tempo diante do volume de jogo português. Os “Tigres da Ásia”, no entanto, mostraram algumas dificuldades para fechar os espaços entrelinhas em alguns momentos da primeira etapa. O domínio do time de Fernando Santos na primeira etapa foi claro. Faltava consistência na Coreia do Sul.

A Coreia do Sul se fechava com duas linhas com quatro jogadores quando atacada. O goleiro Kim Seung-Guy evitou o pior no primeiro tempo. Foto: Reprodução / YouTube / Cazé TV

O time de Paulo Bento chegou ao empate aos 27 minutos do primeiro tempo com o zagueiro Kim Young-Gwon aproveitando uma pixotada impressionante de Cristiano Ronaldo (um dos piores em campo na opinião deste que escreve). O gol serviu para que a Coreia do Sul se acalmasse e nos mostrasse a sua conhecida organização com a bola no pé. Muitas inversões para explorar a velocidade de Kim Moon-Hwan no lado direito ou para deixar Son no mano a mano com os defensores portugueses. Fora isso, a equipe mostrava padrões muito interessantes na ocupação dos espaços.

Portugal continuou dominando as ações no segundo tempo, mas a Coreia do Sul se manteve firme na marcação e cresceu depois que Fernando Santos sacou Rúben Neves e Vitinha para as entradas de Rafael Leão e João Palhinha. Com Hwang Hee-Chan no lugar de Lee Jae-Sung, os “Tigres da Ásia” ganharam mais uma opção de velocidade pela esquerda. Grande estrela da equipe, Son foi jogar mais pelo lado direito e explorava bem os espaços que apareciam à sua frente. O 4-3-3 de Paulo Bento encaixou e a Coreia do Sul obrigou o goleiro Diogo Costa a trabalhar bastante.

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Hwang Hee-Chan entrou e melhorou a produção ofensiva da Coreia do Sul. O ataque ocupou bem os espaços e passou a incomodar bastante. Foto: Reprodução / YouTube / Cazé TV

É preciso dizer que Portugal perdeu completamente o controle das ações nos minutos finais. E foi nesse período da partida que a Coreia do Sul mostrou uma das suas maiores qualidades: a intensidade e organização nos contra-ataques. Aos 46 minutos do segundo tempo, Son Heung-Min pegou a sobra de escanteio cobrado na área coreana e partiu na direção da área lusitana. Mesmo cercado por Willian Carvalho, João Palhinha e Diogo Dalot, a grande estrela dos “Tigres da Ásia” conseguiu manter a posse e esperou o momento certo de passar a bola para Hwang Hee-Chan. O atacante coreano aproveitou a hesitação de Bernardo Silva e marcou o gol da classificação do time de Paulo Bento.

Son Heung-Min atrai a marcação de três jogadores portugueses e espera o momento certo para passar a bola para Hwang Hee-Chan. Foto: Reprodução / YouTube / Cazé TV

É verdade que equipe da Coreia do Sul tem suas limitações e que a Seleção Brasileira pode sim vencer o confronto da próxima segunda-feira (5) sem maiores problemas. No entanto, o time comandado por Paulo Bento tem suas qualidade e mostrou ser muito organizado e perigoso com a bola no pé. Principalmente quando acelera pelos lados do campo. Quem espera um jogo fácil nas oitavas de final pode acabar caindo do cavalo diante da velocidade e da força coletiva de um time que superou muita coisa para estar no Mundial do Catar. A classificação na segunda posição do Grupo H (ainda que conquistada na “bacia das almas”) dá sim confiança para a sequência dessa Copa do Mundo.

O jogo contra o Brasil será tão importante quanto as partidas (polêmicas) contra Espanha e Itália em 2002, quando a Coreia do Sul chegou numa honrosa e surpreendente quarta posição. Pode ser que tenha chegado a hora de Son e companhia fazerem história novamente. Desafiar mais um gigante do futebol mundial e manter o sonho vivo. E não é lá muito prudente duvidar dos “Tigres da Ásia” e de outras seleções numa Copa do Mundo recheada de zebras.