Há quem fale em necessidade de adaptação a um futebol cada vez mais veloz e mais intenso. E há quem fale em final de carreira. Este que escreve, no entanto, prefere analisar mais a fundo aquele que está se transformando num dos principais assuntos dessa Copa do Mundo. O que é certo, meus amigos, é que a situação de Cristiano Ronaldo em Portugal é um dos assuntos mais comentados nessa Copa do Mundo. A péssima temporada de 2022 (com péssimas atuações pelo Manchester United e pela “seleção das Quinas”), os problemas familiares e as intermináveis polêmicas fora das quatro linhas parecem ter afetado CR7.
É difícil falar isso de qualquer jogador fora de série como ele e mais difícil ainda acreditar que Portugal está se virando melhor sem o maior nome do futebol em todos os tempos no país. Ao mesmo tempo, a escolha de Fernando Santos pela sua barração no jogo contra a Suíça deixou bem claro que CR7 não está conseguindo entregar aquilo que sua equipe mais necessitava: velocidade para arrastar a zaga adversária, profundidade para abrir espaços e movimentação para dar opção de passe na frente. Parece até maluquice dizer isso, mas a impressão que fica é a de que Cristiano Ronaldo está ficando para trás.
Mas notem bem que este que escreve falou em “impressão”. Não se sabe o que ele pensa sobre isso tudo e como ele está lidando com seus problemas. Pode ser que haja a necessidade de uma adaptação ao sistema do seu treinador facilite as coisas. Ou até mesmo um pouco de diálogo. Seja como for, o que se viu na última terça-feira (6) foi um passeio português em cima da Suíça. A entrada do predestinado Gonçalo Ramos facilitou bastante as coisas para os quatro “camisas 10” que entraram em campo (Bernardo Silva, Bruno Fernandes, Otávio e João Félix). Muita mobilidade e muita intensidade nas trocas de passe.

Não é errado afirmar que HOJE Cristiano Ronaldo não consiga dar aquilo que o esquema tático de Fernando Santos exige. Por outro lado, pode ser que esses e outros problemas sejam resolvidos com pequenas adaptações no estilo de jogo de CR7. Não adianta insistir nas antigas arrancadas na direção do gol e no corpo para garantir a posse da bola. Os zagueiros estão ainda mais fortes, mais rápidos e mais habilidosos do que há cinco anos. Por outro lado, a história de grandes nomes do futebol mundial pode indicar caminhos interessantes, ainda que estejamos falando de jogadores com características diferentes.
Tomemos o exemplo de Romário. Campeão mundial em 1994 e conhecido por ser o “gênio da grande área”, o Baixinho teve que mudar um pouco seu estilo conforme a idade foi chegando. Ao invés do jogador rápido que deixava todos para trás na base da velocidade e do drible, um centroavante que lia os espaços na defesa adversária como ninguém. As arrancadas ficaram mais curtas, mas não menos letais. E o posicionamento sempre buscava os buracos na última linha para servir os companheiros (como no passe para Juninho Pernambucano na final da Copa João Havelange) ou balançar as redes como fez mais de mil vezes.

Romário só não fez chover no Vasco de Joel Santana em 2000. E um outro grande exemplo é Ronaldo Nazário. De volta ao Brasil depois da Copa do Mundo de 2006, o “Fenômeno” assumiu o comando de ataque no Corinthians de Mano Menezes e mostrou que não ganhou esse apelido por acaso. É óbvio que a queda física era visível, mas a genialidade permanecia. Não eram poucas as vezes em que Ronaldo conseguia se impor na base da força e da habilidade. Mas talvez o ponto mais impressionante da sua passagem pelo Timão seja a capacidade de se livrar da marcação com apenas UM PASSO PARA O LADO. Simplesmente fenomenal.

Mas também existe o “outro lado”. Sacrificar sistemas ou pedir que os jogadores “joguem para que o craque decida” nem sempre é uma atitude das mais corretas. Um bom exemplo é o da Espanha de Luis Aragonés na Copa de 2006. O então treinador da “Fúria” percebeu o futebol de toques rápidos e defesa baseada na posse da bola que jogadores como Iniesta, Xavi e outros praticavam no Barcelona. Depois de vencer Ucrânia e Tunísia, Aragonés deu uma chance para Raúl González no jogo contra a Arábia Saudita. Notem que o estilo do ídolo do Real Madrid (muito mais vertical do que o necessário) não combinava com o estilo daquela Espanha.
Raúl jogou as duas últimas partidas da Espanha na Copa do Mundo. A vitória sobre os “Falcões Verdes” e a derrota para a França de Zidane, Vieira, Ribéry e Raymond Domenech nas oitavas de final. Ao invés do 4-3-3 utilizado na primeira fase, Luis Aragonés montou um 4-3-1-2 com o camisa 7 jogando atrás de Fernando Torres e David Villa. “La Furia” perdeu velocidade pelos lados do campo e acabou eliminada. Em entrevistas e relatos a pessoas próximas, Aragonés se arrependeu de não ter sacado Raúl do time no jogo contra a França. Justo porque o craque do Real Madrid não oferecia aquilo que seu sistema pedia.

A história nos mostra que os dois lados estão certos. Cristiano Ronaldo pode começar o jogo contra Marrocos do banco de reservas, entrar em campo e marcar três gols. Ou pode começar de início e não ir bem. Não existe uma maneira certa de se jogar futebol. O que se viu até agora é que Portugal realmente jogou melhor sem CR7 e que suas atitudes fora de campo não condizem com um jogador do seu porte e da sua experiência. Mesmo assim, este que escreve não crava um final de carreira. Pode ser que realmente falte adaptação. Ou até mesmo o diálogo que Cristiano Ronaldo não quis ter com seus treinadores em 2022.

