Home Futebol Argentina vence “jogo de xadrez” contra a Holanda e se garante nas semifinais da Copa do Mundo

Argentina vence “jogo de xadrez” contra a Holanda e se garante nas semifinais da Copa do Mundo

Luiz Ferreira destaca o duelo entre Lionel Scaloni e Louis van Gaal e o jogo desta sexta-feira (9) na coluna PAPO TÁTICO

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Alguns dias antes do início da Copa do Mundo, este que escreve analisou a equipe da Argentina e enumerou uma série de pontos que a colocavam como grande favorita ao título no Catar. Nem mesmo a derrota para a Arábia Saudita não mudou essa convicção embora o time comandado por Lionel Scaloni não tenha ido bem contra o México e se aproveitado da fragilidade da Polônia da Austrália. Nesta sexta-feira (9), no entanto, a Albiceleste mostrou a que veio, foi melhor do que a Holanda de Louis van Gaal e mereceu a vaga na semifinal apesar do “apagão” no final do tempo normal. Fora isso, os dois treinadores nos presentearam com um senhor “jogo de xadrez” na beira do gramado.

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O duelo de estratégias já começou com as escalações iniciais. Van Gaal manteve seu esquema com três zagueiros, mas deixou Klaassen no banco e optou pela velocidade de Bergwijn ao lado de Gakpo e Memphis Depay num 3-4-1-2 que à vezes se assemelhava a um 3-4-3 por conta da movimentação do trio ofensivo. A “Laranja Mecânica” também manteve as variações das suas últimas partidas nessa Copa do Mundo. Dumfries era muito mais meia do que ala e Timber muito mais lateral pela direita do que zagueiro. No entanto, a Holanda não tinha um “fora de série” no time.

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E a Argentina tinha Messi. O camisa 10 foi importantíssimo ao jogar numa área que causou muitos problemas para a defesa adversária. O Estádio Lusail viu Lionel Scaloni espelhar o esquema com três zagueiros de Louis van Gaal, mas com algumas diferenças. Ao invés de colocar mais um atacante, o técnico portenho manteve o meio reforçado com Enzo Fernández, De Paul e Mac Allister e deixou seu principal jogador livre no ataque ao lado de Julián Álvarez. Mais atrás, Lisandro Martínez se juntou a Romero e Otamendi num 5-3-2 de muita força defensiva.

Formação inicial das duas equipes. Lionel Scaloni espelhou o esquema com três zagueiros de Louis van Gaal e viu a Argentina engolir a Holanda no primeiro tempo.

Uma das grandes sacadas de Lionel Scaloni foi, sem dúvidas o posicionamento de Messi numa zona do campo que bagunçou completamente a marcação por encaixes individuais da Holanda. Se um dos zagueiros saísse da última linha, ele abriria o espaço para a chegada em diagonal de um dos alas no espaço aberto na defesa holandesa (exatamente como no gol marcado por Molina aos 34 minutos do primeiro tempo). Se um dos volantes (De Roon ou Frenkie de Jong) colasse no camisa 10 da Albiceleste, o que sobrasse ficaria com a missão de fechar uma grande faixa do campo e abriria ainda mais espaços para a chegada de Mac Allister, De Paul e companhia. Messi desequilibrava técnica e taticamente.

Messi se movimentava pelo setor que mais gerava dúvidas na Holanda. Foi dali que o camisa 10 descolou o passe para Molina abrir o placar. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

A ideia de Lionel Scaloni não era apenas espelhar a formação da Holanda, mas garantir que sua equipe mantivesse a posse através das vitórias nos duelos físicos (por isso a manutenção de um meio mais “forte” na Albiceleste). Difícil não notar as dificuldades de Marten de Roon e Frenkie de Jong na marcação (principalmente com De Paul colado no camisa 21 holandês. Ao mesmo tempo, a Argentina também encaixava a marcação na saída do time de Louis van Gaal com botes certeiros e alta intensidade na transição para o ataque. Além disso, a movimentação de Messi no espaço entrelinhas da Holanda e a profundidade dada por Julián Álvarez só aumentavam o domínio portenho no Estádio Lusail.

A Argentina encaixou a marcação na saída de bola da Holanda. Um jogador vigiava De Jong de perto e Enzo Fernández ficava mais livre no meio. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

Mas precisamos lembrar que, embora não tenha um craque do nível de Messi, a Holanda tem Van Gaal. Depois das entradas de Berghuis e Koopmeiners (e do segundo gol da Argentina marcado por Messi em penalidade sofrida pro Acuña), Weghorst entrou no lugar de um apagado e desgastado Memphis Depay e formou um 4-4-2 formando dupla de ataque com Luuk de Jong para aproveitar as bolas levantadas na área. A estratégia deu certo aos 37 minutos do segundo tempo. Berghuis levantou na área, Weghorst se antecipou a Lisandro Martínez e marcou um belo gol. E aos 55 minutos, o mesmo camisa 19 aproveitou passe de Koopmeiners e empatou a partida em belíssima (e inesperada) jogada ensaiada.

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Weghorst se antecipa a Lisandro Martínez e desconta para a Holanda. Van Gaal acertou ao posicionar uma dupla de ataque na área argentina. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

Apesar da “vantagem moral” da Holanda na prorrogação, foi a Argentina quem seguiu mandando e desmandando no tempo extra. Lautaro Martínez (duas vezes), Enzo Fernández, Di María e Messi poderiam ter feito o terceiro da Argentina através das boas trocas de passe no meio-campo e da desorganização do time de Van Gaal no últimos trinta minutos de bola rolando. Scalone desfez o 5-3-2 e manteve seu camisa 10 mais solto num 4-4-2 mais móvel e que tinha em Montiel a grande válvula de escape pelo lado direito de ataque com Tagliafico um pouco mais contido. O volume de jogo colocado pela equipe comandada por Lionel Scaloni impressionava não somente pela intensidade, mas também pela organização.

A Holanda não conseguiu mais encaixar a marcação e a Argentina ganhou campo. Lautaro, Di María e Enzo Fernández desperdiçam boas chances. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

Na decisão por pênaltis, brilhou a estrela de Emiliano Martínez com as defesas das cobranças de van Dijk e Berghuis, resolvendo um problema de décadas na Argentina. Fazia muito tempo que a Albiceleste não tinha um goleiro confiável. Mas talvez o ponto alto da partida desta sexta-feira (9) tenha sido o duelo tático de proporções épicas entre Lionel Scaloni e Louis van Gaal. As escalações, as orientações para os jogadores, as substituições e as mudanças na formação foram alguns capítulos desse confronto que terminou com a vitória do treinador da Albiceleste ainda que o experiente técnico tenha igualado a aposta no final do segundo tempo. Mas Scaloni tinha Messi. E isso fez toda a diferença.

É por causa desse e outros fatores já colocados anteriormente que a Argentina ganha ainda mais confiança e pinta como grande favorita (talvez abaixo apenas da França de Mbappé, Giroud e Griezmann) ao título dessa Copa do Mundo. É verdade que a equipe sul-americana flertou com o perigo e adicionou algumas doses de drama no enredo dessa história. Mas diante do que eu e você estamos vendo, vai ser muito difícil alguém tirar esse Mundial de Messi. E o jogo contra a Croácia será ESPETACULAR. Anotem.