Home Futebol Conheça as ideias, os conceitos e o estilo de jogo de Renato Paiva, novo técnico do Bahia

Conheça as ideias, os conceitos e o estilo de jogo de Renato Paiva, novo técnico do Bahia

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira destaca algumas das ideias e conceitos do novo treinador do Tricolor de Aço

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

A chegada de Renato Paiva ao Bahia não deixa de ser o marco de uma nova era no clube após a venda de 90% da SAF (a Sociedade Anônima do Futebol) para o Grupo City. É verdade que a contratação do português de 52 anos pegou muita gente de surpresa. Mesmo assim, a escolha dos novos donos do futebol do Tricolor de Aço indica o caminho que será seguido daqui pra frente e também a filosofia de jogo que será trabalhada com os jogadores. Isso porque Renato Paiva gosta de equipes ofensivas e que exerçam pressão alta no seu adversário. E o fato de ter se formado na mesma escola de treinadores que José Mourinho passou só aumenta as expectativas em cima do novo comandante do Bahia.

PUBLICIDADE

Mesmo assim, tempo e paciência serão fundamentais para que as coisas funcionem como o esperado no elenco do Tricolor de Aço. Todo mundo sabe (ou pelo menos deveria) que um elenco não se transforma numa equipe competitiva do nada. Por mais que a torcida do Bahia esteja sim carente de títulos de importância nacional e de ver seu time novamente brigando na primeira prateleira do futebol brasileiro é compreensível. Mas é sempre preciso lembrar que estamos falando de um processo de reconstrução de um clube. Exatamente como acontece no Vasco e no Botafogo.

PUBLICIDADE

Renato Paiva tem cerca de 15 anos de carreira como treinador e passou a maior parte dela no comando do time B do Benfica. Em 2021, cruzou o Atlântico e acertou com o Independiente del Valle, onde conquistou o Campeonato Equatoriano daquela temporada. No comando dos “Rayados del Valle”, o treinador português implementou um 3-5-2/5-4-1 de muita velocidade e pressão alta. Os alas são muito presentes no ataque e jogam bem abertos, abrindo o campo para que os volantes se aproveitem da movimentação do centroavante para pisar na área adversária.

O Independiente del Valle de Renato Paiva jogava com uma linha de três zagueiros, alas espetados e um centroavante de força no ataque. Foto: Reprodução / YouTube / Conmebol Libertadores

É interessante notar que um dos jogadores mais importantes do Independiente del Valle de Renato Paiva era Sornoza. O camisa 10 da equipe jogava mais solto com um segundo atacante e buscava sempre se posicionar de modo a dar opção de passe e servir os volantes Faravelli, Pellerano e outros que passaram pelos “Rayados del Valle”. Na defesa, os alas desciam até a última linha e fechavam os lados do campo. Há jogos em que o Del Valle jogou num 5-3-2 ou até num 5-4-1 sem a bola, mas tudo depende mais das características de cada adversário. Certo é que Renato Paiva nunca abriu mão da marcação alta, da intensidade nas transições para o ataque e da pressão no portador da bola.

Os alas desciam até o trio de zagueiros e formavam um 5-3-2 sem a bola no Independiente del Valle. A pressão no portador da bola é lei. Foto: Reprodução / YouTube / Conmebol Libertadores

É verdade que a postura mais agressiva dos time de Renato Paiva (principalmente o Independiente del Valle) trazia riscos. Alguns calculados, outros nem tanto. Mas é algo que o novo treinador do Bahia tem pleno conhecimento. Um outro ponto que merece destaque nas equipes treinadas pelo português é a chamada dinâmica de “terceiro homem”. Basicamente, um jogador tem a bola e outro se aproxima para receber o passe, mas o alvo é um “terceiro” jogador que aparece no espaço vazio. E assim o time vai se projetando até chegar no campo adversário.

É possível perceber essa e outras dinâmicas em várias equipes comandadas por Renato Paiva. No Independiente del Valle, isso era bem evidente quando o time armava os contra-ataques. Os atacantes (ou os alas) abriam o campo, dois volantes se aproximavam e um terceiro jogador se lançava no espaço vazio. Não é por acaso que os atletas de meio-campo possuem um papel importantíssimo e bastante nos times treinados pelo novo comandante do Bahia. Eles precisam ser fortes na marcação e ter qualidade no passe e também na finalização.

PUBLICIDADE
A dinâmica de “terceiro homem” é bastante utilizada nos times de Renato Paiva. O Independiente del Valle usava com muita frequência. Foto: Reprodução / YouTube / Conmebol Libertadores

Mas é bom deixar claro que Renato Paiva não se prende ao esquema com três zagueiros. Ele sabe encontrar a formação que melhor se adeque às características dos jogadores que tem à disposição. No curto período em que esteve à frente do León (do México), o treinador português usou um 4-4-2/4-2-3-1 na maioria das partidas, mas sempre mantendo os conceitos descritos anteriormente. A pressão no portador da bola, as ligações diretas quando necessário e a dinâmica de “terceiro homem”. Tudo com uma linha de cinco jogadores empurrando a defesa adversária para trás. Pontas avançam, atacantes encaixam nos zagueiros e um dos laterais subiam ao ataque. Sempre com a aproximação dos volantes.

Renato Paiva usou um 4-4-2/4-2-3-1 no León, mas sempre mantendo a linha com cinco atacantes, a aproximação dos volantes e a marcação alta. Foto: Reprodução / YouTube / LIGA BBVA MX

Mesmo sem ser tão conhecido aqui no Brasil e com o currículo modesto quando o assunto é experiência internacional e títulos, Renato Paiva tem plenas condições de fazer um bom trabalho no Bahia. Ainda mais tendo a oportunidade de começar um projeto praticamente do zero e com tempo para colocar suas ideias em prática. É verdade que times que aderiram à SAF (como o Botafogo de John Textor) encontraram algumas dificuldades para se adaptar no começo desse processo por conta de uma série de fatores e não deve ser nada diferente com o Tricolor de Aço. Ainda mais pela desconfiança de boa parte da imprensa do “eixo” e dos críticos da “moda” dos treinadores estrangeiros aqui no Brasil.

Conforme mencionado no começo desta humilde análise, a chegada de Renato Paiva ao Bahia marca o início de um processo de reconstrução de um clube tradicionalíssimo e dono de uma torcida apaixonada. A forma como o futebol do Tricolor de Aço será gerido também vai mudar com o Grupo City. Portanto, não se surpreendam se os donos da SAF do Esquadrão mantiverem o treinador mesmo com maus resultados. É todo um processo que está em jogo.