Home Futebol Croácia se garante no talento individual (e nas penalidades) para superar o Japão e avançar na Copa do Mundo

Croácia se garante no talento individual (e nas penalidades) para superar o Japão e avançar na Copa do Mundo

Luiz Ferreira destaca as ideias de Zlatko Dalic e Hajime Moriyasu e as armas do adversário do Brasil nas quartas de final

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Definitivamente, Japão e Croácia não fizeram um bom jogo nesta segunda-feira (5). Ainda que não tenha faltado disposição nas duas seleções, o que eu e você vimos no Al Janoub Stadium foi uma partida mais amarrada e de poucas chances de gol. Em parte porque a equipe comandada por Zlatko Dalic pouco controlou as ações dentro das quatro linhas e tentou ao máximo tirar a velocidade dos “Samurais Azuis”. Por mais que o escrete de Hajime Moriyasu tenha buscado o gol da classificação a todo momento, quiseram os deuses do futebol que a partida fosse para as penalidades. E foi aí que a estrela do goleiro Livakovic brilhou forte, com boas defesas e três cobranças defendidas.

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Como era de se esperar, o técnico Hajime Moriyasu mandou o Japão a campo no mesmo 5-4-1/3-4-3 das viradas históricas sobre Alemanha e Espanha na fase de grupos. Tomiyasu, Yoshida e Taniguchi formavam o trio de zagueiros. Mais à frente, os volantes Endo e Morita davam boa dinâmica na saída de bola e contavam com a boa movimentação de Maeda, Kamada e Ritsu Doan sempre buscando o espaço entre o meio-campo e a defesa da Croácia. Sem a posse, Junya Ito e Nagatomo recuavam para formar uma linha de cinco na frente da área do goleiro Shuichi Gonda.

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A formação escolhida por Hajime Moriyasu um objetivo bem claro. O técnico japonês sabia muito bem que um dos pontos fortes da Croácia eram as jogadas em profundidade com Modric e Kovacic buscando Perisic, Kramaric e Bruno Petkovic às costas da defesa (principalmente dos laterais Juranovic e Barisic). Com as linhas compactadas e os contra-ataques bem organizados, o Japão conseguiu criar boas chances na base da velocidade. Sem profundidade, o 4-3-3 costumeiro de Zlatko Dalic perdeu consistência e a Croácia encontrou dificuldades para impor seu estilo.

Formação inicial das duas equipes. Hajime Moriyasu manteve seu 5-4-1 no Japão e tirou toda a profundidade do time da Croácia com linhas bem compactadas.

A organização defensiva do Japão fez com que Kovacic e Modric (as duas “cabeças pensantes” do time da Croácia) ficassem sem ter para quem fazer os lançamentos em profundidade. Além disso, o “Time Xadrez” apresentou uma marcação bem mais frouxa do que o esperado no portador da bola e muitas vezes fez a recomposição de maneira desorganizada. Com seu adversário concentrando os passes pelo meio, os “Samurais Azuis” encontravam espaço de sobra pelos lados do campo e aceleravam com Junya Ito, Nagatomo, Kamada e Ritsu Doan procurando Maeda mais por dentro para concluir as jogadas. A Croácia sofria sem profundidade e também para fechar os espaços na frente do goleiro Livakovic.

O Japão explorou bem os lados do campo com Junya Ito e Nagatomo explorando as costas dos laterais Juranovic e Barisic. Foto: Reprodução / YouTube / Cazé TV

Mas é sempre preciso lembrar que a Croácia não é a atual vice-campeã mundial por acaso. O elenco tem experiência e sabe se livrar de situações complicadas dentro de cada jogo. E contra o Japão não seria diferente. Embora ainda não tenha mostrado a mesma consistência vista na Rússia e abusado da lentidão em todos os aspectos, o time de Zlatko Dalic é extremamente talentoso com a bola no pé. Nem é preciso lembrar que Modric, Brozovic, Gvardiol e companhia são muito técnicos e muito fortes mentalmente. E isso faz toda a diferença. Mesmo sem jogar tão bem.

Fato é que a Croácia ainda não controlava totalmente as ações no campo, mas mostrou um pouco mais de organização e ganhou um pouco mais de profundidade com as alterações táticas feitas por Zlatko Dalic no intervalo. Apesar de bem continuar fechando a entrada da área no 5-4-1 proposto por Hajime Moriyasu, o Japão vacilou na pressão no portador da bola e não pressionou o zagueiro Lovren antes deste fazer o cruzamento para Perisic empatar a partida no Al Janoub Stadium. Bastou que a bola chegasse mais um pouco para a Croácia entrar de vez no jogo.

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Com o time mais presente no campo de ataque, a Croácia ganhou a profundidade que buscava e chegou ao empate com Perisic. Foto: Reprodução / YouTube / Cazé TV

O mais curioso é que a Croácia não faz tanta questão de controlar o jogo. Sempre que tem a bola, Modric, Brozovic e companhia buscam o jogo mais vertical e as bolas para o trio ofensivo brigar lá na frente. E a partida contra o Japão nos mostrou um pouco dessa “faceta” mais contraditória do escrete de Zlatko Dalic. Isso porque o Japão, mesmo com menos posse de bola, chegou com mais força no ataque do que o “Time Xadrez”. E também não foram poucas as vezes em que a última linha ficou desprotegida por conta da recomposição ruim dos volantes. Mesmo no tempo extra, o panorama seguiu o mesmo. O Japão acelerava dos lados para dentro e explorava o buraco que havia na frente da defesa croata.

A Croácia tinha dificuldades para controlar o jogo e concedeu muitos espaços ao Japão por conta da recomposição defensiva ruim. Foto: Reprodução / YouTube / Cazé TV

Na decisão por pênaltis, o goleiro Livakovic se transformou no grande herói da Croácia ao defender as cobranças de Minamino, Mitoma e Yoshida. Classificação garantida para as quartas de final numa Copa do Mundo até agora não mais do que mediana por parte do escrete comandado por Zlatko Dalic. O elenco, conforme mencionado anteriormente, é extremamente talentoso, sabe o que fazer com a bola e sabe muito bem como jogar uma competição de altíssima exigência técnica e mental. No entanto, o “Time Xadrez” parece estar uma rotação abaixo da equipe que ficou com o vice-campeonato na Rússia. E isso fica bem perceptível quando notamos a dificuldade da Croácia em fechar os lados do campo.

Mesmo assim, a Seleção Brasileira terá pela frente um adversário complicadíssimo e que vai exigir dos comandados de Tite que nenhum outro adversário exigiu nessa Copa do Mundo. Além disso, quem tem um meio-campo formado por Modric, Brozovic e Kovacic e pontas como Kramaric e Perisic, tem talento de sobra para decidir jogos num único lance. O jogo desta sexta-feira (9) tem tudo para ser um dos mais emocionantes desse Mundial até o momento. Podem anotar.