Home Futebol Do Palmeiras de Abel Ferreira ao Vitória de João Burse: os melhores de 2022 no futebol brasileiro

Do Palmeiras de Abel Ferreira ao Vitória de João Burse: os melhores de 2022 no futebol brasileiro

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira aponta os destaques dessa temporada seja por títulos ou pelas histórias de superação

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Embora bastante confuso por conta do calendário ainda mais insano do que em temporadas anteriores, o ano de 2022 nos trouxe muitas coisas boas no futebol brasileiro. Equipes que levantaram taças, que quebraram recordes e que superaram dificuldades imensas para conquistar a vaga numa competição internacional ou o acesso de divisão. Todos os casos que serão abordados nesta humilde análise aqui nos lembram que ainda existe muita coisa boa sendo feita aqui por estas bandas. Do Palmeiras de Abel Ferreira, passando pelo Flamengo de Dorival Júnior e chegando até o valente Vitória de João Burse, aqui estão os melhores de 2022 na opinião da coluna PAPO TÁTICO.

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A ideia desta reportagem nasceu da “tier list” divulgada pelo SPORTV no último dia 26 de dezembro. É óbvio que é impossível agradar a todos quando o assunto é futebol e que toda eleição dos “melhores do ano” sempre será marcada por alguma polêmica. Há como se discordar de várias coisas da lista acima e elaborar outras talvez ainda mais controversas. No entanto, a ideia aqui não é contestar as escolhas do SPORTV ou estabelecer uma ordem, e sim apenas apontar as equipes que deixaram alguma marca no futebol brasileiro nessa última temporada, seja no âmbito das inovações táticas ou da adaptação de cada um desses times aos problemas que cada jogo trazia.

Por mais que as nossas atenções estejam voltadas para a Série A, a Copa do Brasil e a Libertadores, o ano de 2022 nos mostrou que existem bons trabalhos sendo realizados em divisões inferiores do Brasileirão. O primeiro clube que vem à nossa mente é o Cruzeiro de Paulo Pezzolano. A campanha histórica na Série B com 78 pontos conquistados nas 38 rodadas da competição consolidou de vez o trabalho do treinador uruguaio e seu 3-4-3 de altíssima intensidade. E é interessante notar que a Raposa não mudava seu jeito de jogar nem mesmo quando algum titular não estava à disposição de Paulo Pezzolano. Os números comprovam o grande ano do Cruzeiro.

Paulo Pezzolano apostou num 3-4-3 de muita intensidade e linhas altas de marcação. O título do Brasileirão da Série B veio depois de goleada sobre a Ponte Preta fora de casa.

Falando de Série C, o Mirassol levou o título, mas a grande história de superação é a do Vitória. O Leão frequentou a zona de rebaixamento, deu a impressão de que se afundaria de vez, mas reuniu forças para se recuperar e conquistar o acesso para a Série B numa sequência incrível de ótimos resultados. O jogo que confirmou a vaga na “Segundona” foi o empate com o Paysandu no dia 24 de setembro. O técnico João Burse (um dos grandes responsáveis pela recuperação do Vitória) apostou num 4-3-3 de grande movimentação e que trazia Léo Gomes fazendo a “saída de três” entre os zagueiros Ewerton Páscoa e Marco Antônio. As boas atuações falam por sí só.

O Vitória fechou sua campanha de recuperação com o acesso para a Série B. João Burse conseguiu organizar e recuperar a confiança do time ao apostar num 4-3-3 bastante móvel.

Qualquer lista de “melhores de 2022” que não traga o Palmeiras de Abel Ferreira não merece crédito. O time fez uma temporada quase perfeita com os títulos do Paulistão, da Recopa Sul-Americana e do Brasileirão, grande sonho de consumo do treinador português. Aliás, as variações eram tantas que fica difícil apontar um “time-base” no Verdão nesse ano. A equipe que venceu o América-MG de virada no jogo de entrega da taça do Campeonato Brasileiro jogou numa espécie de 4-2-4 com Gustavo Scarpa e Endrick se movimentando bastante por dentro e abrindo espaços para as chegadas de Dudu e Rony em diagonal. O Palmeiras, como de costume, foi gigante.

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No jogo de entrega da taça do Brasileirão, Abel Ferreira apostou num 4-2-3-1/4-2-4 de muita movimentação e altíssima intensidade em todos os pedaços do campo.

Talvez o ponto de mais discordância deste que escreve com relação à “tier-list” do SPORTV seja a posição do Flamengo. Como falar que um time que levou a Copa do Brasil e a Libertadores no MESMO ANO foi “apenas” bem? Ainda mais quando se sabe que Dorival Júnior teve todos os méritos na recuperação de um elenco que era dado como acabado por muita gente depois da passagem desastrada de Paulo Sousa pelo clube. O encaixe de Pedro e Gabigol no ataque, o posicionamento de Éverton Ribeiro como “volante-meia” e de Arrascaeta como “enganche” num 4-3-1-2 foram outras sacadas de mestre de Dorival Júnior que foram ignoradas por muitos colegas de imprensa.

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Dorival Júnior tem todos os méritos no encaixe de Pedro, Gabigol, Arrascaeta e Éverton Ribeiro num 4-3-1-2/4-3-3 de muita mobilidade no Flamengo tricampeão da América.

E se estamos falando de superação e de campanhas históricas, o que falar do Fortaleza de Juan Vojvoda? O Leão do Pici frequentou o último lugar do Brasileirão no primeiro turno, enfrentou saídas importantes e conseguiu se levantar de uma maneira incrível. Do conhecido 3-4-1-2 do início da temporada, Vojvoda aproveitou a saída de Yago Picachu para o futebol japonês para encaixar um 4-4-2 de muita intensidade nas transições e uma das melhores pressões pós-perda do futebol brasileiro. A conquista da vaga na Libertadores veio com uma vitória incontestável sobre o Santos na Vila Belmiro e toda a versatilidade de um elenco altamente comprometido com a proposta de jogo.

O Fortaleza frequentou a zona de rebaixamento e ressurgiu no segundo turno com um 4-4-2 de altíssima intensidade, uma das marcas registradas dos times de Juan Vojvoda.

Ainda seria possível citar o Athletico Paranaense de Luiz Felipe Scolari (e a campanha na Libertadores), o Fluminense de Fernando Diniz (que chegou a brigar pelos títulos da Copa do Brasil e do Brasileirão) e o valente América de Natal comandado por Leandro Sena (campeão da Série D em 2022) como outras equipes que também se destacaram na temporada. Cada uma delas trouxe sua parcela de contribuição nesse ano conturbado para o futebol brasileiro e mostraram qualidade e poder de decisão. Ao mesmo tempo, não se deseja aqui estabelecer uma ordem de grandeza ou de relevância, mas apenas apontar quem se destacou nesse confuso e complicado ano de 2022.

A única certeza que este que escreve tem quando se fala no futuro é que as polêmicas vão continuar dentro e fora de campo. Toda lista de melhores ou piores da temporada vai provocar sorrisos, risadas e protestos por parte de todos os torcedores que vão contestar as escolhas deste ou daquele jornalista (ou até deste aqui). Mas a grande lição que fica para 2023 é a lembrança de que ainda produzimos muita coisa boa quando o assunto é o velho e rude esporte bretão.

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