Home Futebol Sem Cristiano Ronaldo, Portugal encaixa a melhor atuação coletiva da Copa do Mundo com goleada sobre a Suíça

Sem Cristiano Ronaldo, Portugal encaixa a melhor atuação coletiva da Copa do Mundo com goleada sobre a Suíça

Luiz Ferreira explica o que mudou na equipe comandada por Fernando Santos com a barração de CR7 aqui na coluna PAPO TÁTICO

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Quem poderia imaginar que Cristiano Ronaldo seria deixado no banco de reservas num jogo eliminatório de Copa do Mundo? Quem poderia imaginar que Portugal fosse ser responsável pela melhor atuação coletiva do Mundial do Catar sem seu grande astro em campo? E para completar, quem poderia imaginar que o jovem Gonçalo Ramos, substituto de CR7, se transformaria no grande nome da goleada de 6 a 1 sobre a Suíça com três gols marcados? Fernando Santos bancou a barração do astro português e viu a “seleção das Quinas” amassar o time comandado por Murat Yakin com requintes de crueldade e um futebol de altíssimo nível. Exatamente de acordo com a qualidade do elenco lusitano.

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O treinador português falou em “alternativas táticas” para justificar a ida de Cristiano Ronaldo para o banco, mas eu e você sabemos que a atitude tem relação direta com a briga entre os dois após a derrota para a Coreia do Sul. Além de CR7, João Cancelo e Rúben Neves também perderam espaço. Diogo Dalot e Otávio foram para o jogo desta terça-feira (6) e ajudaram a dar a consistência que Portugal buscava. O 4-3-3 tinha mais cara de 4-2-3-1 por conta do posicionamento mais à frente de Bernardo Silva e da movimentação de João Félix e Bruno Fernandes.

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Do outro lado, a Suíça entrou em campo organizada num 5-3-2 com Embolo e Shaqiri mais avançados Edmilson Fernandes e Ruben Vargas nas alas e Ricardo Rodríguez jogando como zagueiro pela esquerda. Formação bem diferente do 4-2-3-1 que travou a Seleção Brasileira na fase de grupos, mas que falhou logo no começo da partida no Estádio Lusail. Logo aos 17 minutos, João Félix recebeu na esquerda e passou para Gonçalo Ramos dentro da área. O camisa 26 girou em cima da zaga e acertou o ângulo do goleiro Sommer. O plano de Fernando Santos começava a dar certo.

A Suíça marcava no 5-3-2, mas permitiu que João Félix servisse Gonçalo Ramos dentro da área no lance do primeiro gol português. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

Portugal levava vantagem porque conseguia fazer um jogo de muita aproximação. O cada vez mais decisivo João Félix só não fez chover saindo da esquerda e buscando o jogo por dentro. Bruno Fernandes e Bernardo Silva davam opção de passe, Diogo Dalot e Raphaël Guerreiro avançavam pelo corredor, Otávio aparecia como “quarto meia” e Gonçalo Ramos arrastava a marcação do trio de zagueiros suíços e abria espaços nos contra-ataques. É até difícil admitir isso, mas a “seleção das Quinas” se saía muito bem sem Cristiano Ronaldo em campo. O time ganhou muito mais fluidez e conseguiu manipular os espaços no meio-campo para atacar a área do goleiro Sommer sempre em altíssima velocidade.

João Félix carrega a bola, Bruno Fernandes dá opção de passe Diogo Dalot e Raphaël Guerreiro avançam e Gonçalo Ramos arrasta a zaga. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

É preciso dizer também que o gol marcado por Gonçalo Ramos logo aos 17 minutos condicionou toda a partida no Estádio Lusail. A Suíça, que entrou em campo com o objetivo de se fechar na defesa para acelerar com bolas longas para Embolo e Shaqiri no ataque, precisou sair mais para o jogo e deu todos os espaços que Portugal queria. Pepe fez o segundo aos 33 minutos da primeira etapa e complicou ainda mais a vida da equipe helvética. Tanto que Murat Yakin desfez a linha de cinco e voltou ao 4-2-3-1 depois do intervalo. Mas a marcação continuou frouxa.

Gonçalo Ramos fez o terceiro aos seis minutos e Raphaël Guerreiro fez o quarto aos dez minutos (em jogada retratada no frame acima). O bom zagueiro Akanji descontou para a Suíça três minutos depois, mas a “reação” parou por aí. Isso porque Gonçalo Ramos faria o quinto gol lusitano após mais uma jogada puxada por João Félix partindo da esquerda para dentro. A linda cavadinha que venceu o goleiro Sommer e o camisa 26 se transformava no primeiro jogador a fazer um “hat trick” na Copa do Mundo depois de… Cristiano Ronaldo! Que enredo hein…

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Com a ampla vantagem no placar, Fernando Santos descansou alguns atletas e mandou CR7 para o jogo aos 28 minutos do segundo tempo. O astro português ainda teve a chance de balançar as redes, mas foi flagrado em impedimento. A Suíça bem que tentava encaixar algumas jogadas, mas acabou abrindo ainda mais espaços na sua defesa e esbarrando no bem postado 4-1-4-1 lusitano. Vitinha, Rúben Neves, Rafael Leão e Ricardo Horta ajudaram a “compensar” a falta de mobilidade de Cristiano Ronaldo entre os zagueiros suíços com muita atenção nos movimentos do adversário e contra-ataques bem encaixados. Portugal nos presenteava com a melhor atuação coletiva de uma seleção nessa Copa do Mundo até aqui.

Com Vitinha e William Carvalho à frente de Rúben Neves e Cristiano Ronaldo no ataque, Fernando Santos montou um 4-1-4-1 no final da partida. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

Ainda haveria tempo para o ótimo Rafael Leão marcar o sexto gol português em belíssima finalização da entrada da área. Os 6 a 1 desta terça-feira (6) não deixam de ser surpreendentes pelo contexto geral. Cristiano Ronaldo, um dos melhores jogadores de todos os tempos, havia sido barrado, fato que muita gente encarou como um crime hediondo por conta da sua história da sua capacidade de decidir jogos complicados. No entanto, CR7 viu Gonçalo Ramos destruir o confronto contra a Suíça com três gols e uma assistência. Tudo do banco de reservas. A forma como o time se comportou diante de um adversário conhecido pela sua solidez defensiva também é algo digno de nota.

No entanto, este que escreve não vai se juntar ao grupo que já está decretando a aposentadoria de Cristiano Ronaldo. Ele mesmo já ressurgiu das cinzas mais de uma vez e não há motivos para acreditar que as coisas seriam diferentes agora. No entanto, os quase 38 anos e as atitudes fora de campo (com brigas e declarações polêmicas) estão cobrando seu preço. Cabe a CR7 entender o que a realidade está cobrando dele e se adaptar. Como sempre fez ao longo de tantos tempo encantando o mundo com seu futebol.

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