Home Futebol Em jogo eletrizante, Palmeiras aproveita vacilos defensivos do Flamengo e conquista a Supercopa do Brasil

Em jogo eletrizante, Palmeiras aproveita vacilos defensivos do Flamengo e conquista a Supercopa do Brasil

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as escolhas de Abel Ferreira e Vítor Pereira no primeiro grande embate do ano

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Tem gente que não enxerga na Supercopa do Brasil nada além de um torneio amistoso e sem muito valor na temporada. Para este que escreve, no entanto, a competição vem se consolidando a cada ano e se tornando uma espécie de “abertura oficial” do calendário do futebol brasileiro. Dito isto, apesar de todas as polêmicas que a partida deste sábado (28) teve, o Palmeiras mereceu sair de campo vencedor diante de um Flamengo que paga o preço da escolha na mudança no comando técnico. Ao mesmo tempo, difícil não concluir que Abel Ferreira (apesar do comportamento explosivo e destemperado à beira do gramado) superou Vítor Pereira mais uma vez em mais um duelo tático de altíssimo nível.

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Antes mesmo da bola rolar, já estava claro que o grande trunfo do Palmeiras era a permanência do seu treinador. Mesmo sem Danilo e Gustavo Scarpa (negociados com o futebol inglês), o time manteve a consistência e a competitividade contra um adversário que esbanjava talento e técnica, mas que ainda passa pelo processo de entendimento dos conceitos de Vítor Pereira. Estamos falando de duas equipes em estágios completamente diferentes. O Verdão já conhece os conceitos de Abel Ferreira há pelo menos três anos. Vítor Pereira ainda não tem nem um mês de Flamengo.

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Esse cenário ajuda a explicar (um pouco) a postura das duas equipes na Arena Mané Garrincha. A impressão que ficou para este colunista era a de que o escrete rubro-negro parecia sempre um passo atrás do Palmeiras. O time esteve espaçado, correndo de maneira desorganizada e concedeu campo demais para um Palmeiras mais compactado e muito melhor posicionado em campo. O 4-2-3-1 de Abel Ferreira levou ampla vantagem sobre o 4-4-2 de Vítor Pereira. E nem mesmo o pênalti muito bem cobrado por Gabigol diminuiu o ímpeto alviverde na capital federal do Brasil.

Formação inicial das duas equipes. O Flamengo sofreu para fechar os espaços na frente da última linha e foi presa fácil para o veloz e intenso ataque do Palmeiras.

A palavrinha mágica dessa Supercopa do Brasil se chama INTENSIDADE. Vejam bem que não estamos falando de correr mais ou de ser mais veloz, mas de pensar e reagir rápido. E o Palmeiras faz isso muito bem. Com tanto tempo de Abel Ferreira no comando técnico, é como se o time jogasse “de memória” (tal como o Flamengo fazia com Jorge Jesus). O empate veio em mais um gol de Raphael Veiga (decisivo como sempre) e a virada veio numa bomba de Gabriel Menino (o melhor em campo na opinião deste que escreve). Aliás, todo o lance do segundo gol palmeirense mostra muito bem como a marcação do Flamengo esteve frouxa e como os jogadores de meio-campo estavam afastados uns dos outros.

Piquerez recebe o passe de Rapahel Veiga e acha Gabriel Menino entrelinhas. A marcação do Flamengo na frente da área esteve muito ruim. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

É preciso dizer que o Flamengo já mostrava certa fragilidade antes mesmo de Gabigol abrir o placar. Lembrem-se mais uma vez de que estamos falando de uma equipe talentosa e de muitos recursos, mas que está se adaptando aos conceitos do seu novo treinador. É mais do que natural que os problemas apareçam. Mas até certo ponto. Por mais que o nível do Campeonato Carioca não seja lá tão alto, já era pra se ver no rubro-negro da Gávea um certo padrão de jogo ou (pelo menos) alguns conceitos melhor assimilados. Mesmo com menos de um mês de temporada.

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O Palmeiras simplesmente aproveitou o cenário favorável mesmo apresentando problemas semelhantes aos do seu adversário. A diferença estava no entendimento da proposta de jogo de cada treinador. Notem que o Flamengo cresceu bastante na partida quando Vítor Pereira acertou o posicionamento do setor ofensivo. Com os jogadores mais próximos, o time cresceu e marcou dois belos gols. O primeiro com Gabigol (após belíssima assistência de Everton Ribeiro por dentro) e o segundo em troca de passes cinematográfica na frente da área e no calcanhar de Pedro.

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O Flamengo melhorou quando apostou na troca de passes curtos e nas associações na frente da área. O gol de Pedro é um bom exemplo disso. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

No entanto, mesmo com o talento ajudando a resolver a bagunça tática que era o Flamengo, o Palmeiras passava uma sensação de segurança muito grande com e sem a bola. Mesmo com todos os problemas de início de temporada. Dois pontos chamam a atenção no time de Abel Ferreira. O primeiro é a forma como Gabriel Menino entendeu sua função na “volância” e fez com que a torcida se esquecesse de Danilo. E o segundo foi a grande atuação de Raphael Veiga. Não somente pelos dois gols marcados, mas pela forma como distribuiu o jogo no meio-campo e deu opção de passe. O Palmeiras esteve muito mais intenso nas transições e aproveitou muito bem os latifúndios que o Flamengo deixou na frente da sua área.

Gabriel Menino recebe sem marcação e inicia a jogada do quarto gol do Palmeiras. Gerson, Thiago Maia e Everton Ribeiro marcam à distância. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

O Palmeiras mereceu o título. Jogou muito entendeu o que a partida pedia. O Flamengo, por sua vez, mostra que ainda precisa de tempo para se adaptar às ideias do seu treinador. Sobre as polêmicas, este que escreve viu interferência de Mayke no lance do quarto gol alviverde, mas nada, ABSOLUTAMENTE NADA justifica a postura do goleiro Santos no lance. Encolher o braço esperando que Wilton Pereira Sampaio ou o VAR assinale o impedimento ou que São Judas Tadeu desça dos céus para tirar a bola é de uma ingenuidade sem tamanho. E o que dizer do pênalti cometido por Everton Ribeiro? A verdade, meus amigos, é que o Flamengo deu dois gols de graça para o Palmeiras. Fora as outras falhas.

Enquanto Abel Ferreira colhe os frutos do excelente trabalho à frente do Palmeiras e comemora mais uma conquista, Vítor Pereira já deve ter percebido que terá que se adaptar às características do elenco que tem à disposição. Isso será fundamental para que o Flamengo se mantenha brigando por títulos e também para que o português se mantenha no cargo sem muitos problemas. Embora não passe de um “torneio amistoso” para alguns, a Supercopa do Brasil tem sim seu valor. E pesa na avaliação de cada trabalho.

Better Collective