O Palmeiras adotou uma novidade tecnológica no Allianz Parque em 2023: o reconhecimento facial. A medida foi motivada pelo combate ao cambismo que chegou a virar investigação policial no final de 2022. Apesar dos elogios imediatos, a tecnologia de reconhecimento facial também gerou críticas e questionamentos sobre a privacidade dos torcedores.
O reconhecimento facial utilizado funciona da seguinte maneira: o torcedor cadastra o rosto no banco de dados e sua biometria é usada para entrar no estádio, ao invés do tradicional ingresso impresso ou digital. Porém, o armazenamento de dados sobre a biometria das pessoas também traz riscos de segurança e ameaça à privacidade.
O sistema promete agilizar a entrada no estádio, além de dificultar o cambismo, problema que foi um dos assuntos do Verdão em 2022. Uma vez que a entrada é feita por meio do rosto, impossibilita que uma pessoa compre e repasse ou revenda o ingresso a outro indivíduo.
Em entrevista ao podcast “Dinheiro em Jogo”, Everaldo Coelho, diretor de marketing do Palmeiras, falou sobre o problema de cambismo enfrentado: “Abrimos uma auditoria interna, que desencadeou num inquérito policial, e nessa apuração constatamos que centenas de torcedores, de forma lícita, entravam no nosso sistema de compra online, baixavam e comercializavam os ingressos de forma abusiva.”
Segundo o Palmeiras, a tecnologia de reconhecimento facial empregada segue a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). O clube alviverde assegura que não irá vender esses dados a outras empresas e tem mecanismos de segurança impedindo o acesso do funcionários.
Além da facilidade de entrar no estádio e de conter o cambismo, há possibilidades do Verdão utilizar os dados para planejar e executar ações de marketing mais específicas. Afinal, seria possível saber exatamente quem está dentro do Allianz Parque e seus hábitos de consumo.
No entanto, dados tão específicos geram preocupação pela privacidade. Rodrigo Capelo, da coluna Negócios do Esporte no portal ge.globo, entrevistou Rafael Zanatta, advogado e diretor da associação Data Privacy Brasil. O advogado explicou que essa tecnologia capta dados pessoais sensíveis e existe uma mudança na Constituição sobre esses dados. Agora, para uma empresa armazenar informações com esse grau de risco, ela deve comprovar a necessidade e a finalidade.
“Você pode ter coisas perturbadoras, como o Palmeiras ser forçado por autoridade fiscal a passar informações específicas de quem frequenta o jogo, ou a tentação de querer monetizar o tempo todo e construir perfis de publicidade direcionada a partir das emoções das pessoas”, alertou Zanatta.
De acordo com Everaldo Coelho, o Palmeiras estudou a fundo a tecnologia para preservar a privacidade e evitar problemas. O diretor de marketing ressaltou que o clube respeita a LGPD e não irá imagens das pessoas à distância e filmar a pessoa de longe. “Foi feito todo um processo para que estivesse dentro da lei e em nenhuma hipótese pudesse ter vazamentos”, garantiu Everaldo.

