Home Futebol O histórico Santos de Pelé e a mais fantástica formação ofensiva da história do futebol mundial

O histórico Santos de Pelé e a mais fantástica formação ofensiva da história do futebol mundial

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira explica como o Rei do Futebol se encaixava no lendário ataque do Peixe nos anos 1960

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Você já deve ter ouvido falar do histórico Santos dos anos 1960 e da lendária linha ofensiva formada por Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe em algum momento da sua vida. Você também já deve ter visto essa equipe nas primeiras posições de incontáveis listas de melhores times de todos os tempos e à frente de times como o Barcelona de Pep Guardiola e o Milan de Arrigo Sacchi. Não, não estamos falando de nenhuma onda de saudosismo. O Santos de Pelé foi sim uma das melhores equipes que esse mundo já viu. E a sua linha ofensiva conseguiu executar o conhecido 4-2-4 daqueles tempos como se estivesse passeando pelas ruas próximas da Vila Belmiro.

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Era bem comum ver as equipes de antigamente escaladas com essas linhas de cinco no ataque pela imprensa e pelos torcedores. Era a lógica do WM (uma espécie de 3-2-2-3 inventado por Hebert Chapman nos anos 1920) ainda presente no imaginário do futebol. Se o Santos tinha Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe, por exemplo, o Real Madrid pentacampeão europeu contava com Canário, Del Sol, Di Stéfano, Puskás e Gento, o histórico Benfica era escalado com José Augusto, Coluna, Águas, Eusébio e Simões, e por aí vai. No entanto, não é exagero afirmar que nenhuma equipe daqueles tempos atingiu o nível de excelência do time comandado pro Luís Alonso Pérez, o Lula.

Apesar do hábito de escalar os times na lógica do WM (com a famosa linha de cinco atacantes), quase todo mundo já jogava no 4-2-4 naqueles tempos. No entanto, quando se trata da formação apresentada ao mundo pela Hungria em 1954 e aperfeiçoada pelo Brasil quatro anos depois (com o recuo de Zagallo para o meio-campo), o Santos da década de 1960 foi a equipe que melhor executou o 4-2-4 em todos os tempos. Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe ganhavam a companhia de Mengálvio e davam uma fluidez incrível ao time de Lula. Lembrem-se de que estamos falando de tempos em que a estrutura oferecida para a prática do futebol era muito mais precária do que vemos hoje em dia.

Formação história do Santos com Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. A equipe comandada por Lula foi a que melhor executou o 4-2-4 em todos os tempos.

Se Pelé foi o primeiro a fazer tudo que os grandes ídolos da atualidade fazem, aquele time do Santos também pode ser considerado pioneiro dentro do ponto de vista tático. Além de ter se transformado no melhor exemplo de execução do 4-2-4 em todos os tempos, o “Ataque dos Sonhos” se completava de uma maneira incrível. Não se sabe dizer ao certo se era uma característica comum aos times daquela época, mas aquele Santos apresentava comportamentos que encontramos com facilidade em algumas das principais equipes do nosso futebol hoje em dia. Trocas de posições, triangulações, recuo das linhas para proteger a defesa e muita intensidade nas transições.

Pelé e Coutinho (talvez a maior dupla de ataque de todos os tempos quando falamos de clubes de futebol) se movimentavam a todo momento no ataque. Se o camisa 10 dispensa comentários, o centroavante santista era o tipo do jogador que gostava muito de atacar o espaço e partir em velocidade. Pelos lados, Dorval e Pepe podiam abrir o campo ou se aproximar da área. E mais atrás, Mengálvio aparecia como mais uma opção de passe e até arriscava algumas arrancadas na direção do gol adversário. No papel, tínhamos o 4-2-4 clássico. Dentro de campo, aquele Santos podia se apresentar nas mais diferentes formações. O time de Lula tinha muita fluidez, mobilidade e intensidade.

Mengálvio encostava no ataque, Dorval e Pepe se aproximavam e Coutinho e Pelé faziam as “tabelinhas” na entrada da área. Foto: Reprodução / TV Cultura / Santos TV

Defensivamente, não era raro ver Coutinho jogando um pouco mais recuado do que Pelé. Tudo para liberar o camisa 10 de obrigações defensivas e usar sua genialidade nos contra-ataques (vários deles dignos dos melhores manuais de futebol). Ao mesmo tempo, os pontas Dorval e Pepe poderiam fechar a subida dos laterais adversários ou até mesmo recuar para ajudar Zito e Mengálvio na marcação. Esses comportamentos foi observado nas finais da Libertadores contra o Peñarol (em 1962), contra o Boca Juniors (em 1963) e em vários outros registros daquele histórico Santos dos anos 1960. É impressionante como esse time já jogava como algumas das equipes da primeira linha da Europa dos nossos dias.

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Sem a bola, Coutinho recuava, Pelé ficava mais à frente e Dorval e Pepe fechavam as subidas dos laterais adversários. Foto: Reprodução / TV Cultura / Santos TV

Assim como todo time que marcou uma determinada época, aquela formação histórica do Santos nem sempre esteve em campo. Além das viagens e convocações para a Seleção Brasileira, haviam as contusões por conta do desgaste e dos gramados ruins daqueles tempos. Por outro lado, mesmo com a entrada de jogadores reservas, os padrões descritos anteriormente permaneciam intactos. O polivalente Lima podia jogar como lateral pela direita, pela esquerda, na zaga ou até como substituto direto de Zito ou Mengálvio no meio-campo. Dalmo, lateral-esquerdo autor do gol do título mundial de 1963 em cima do Milan, podia jogar na zaga com Geraldino completando o sistema defensivo.

Certo era que nada se perdia naquele Santos. Por mais que o quinteto histórico pudesse não estar completo em alguns momentos, o nível do futebol apresentado era sempre altíssimo. Em 12 de novembro de 1962, o Peixe realizou um amistoso contra o Hamburgo na Alemanha e pôde mostrar um pouco da sua magia. Com Laércio no lugar de Gilmar, Lima jogando no meio campo e o ponta Bé substituindo Pepe, o Santos manteve seu estilo sem jogar tão bem assim contra a equipe germânica. Mas a partida (que pode ser facilmente encontrada no YouTube) nos mostrou toda a dinâmica do time comandado por Lula. Coutinho recuava, Mengálvio pisava na área e Pelé dava o tom de cada jogada.

Coutinho recua, Mengálvio avança e Pelé ataca o espaço. Mesmo sem o histórico quinteto em campo, o Santos mantinha seu estilo de jogo intacto. Foto: Reprodução / NDR

De 1960 (quando foram tiulares pela primeira vez) a 1966, Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe fizeram 99 partidas juntos com 71 vitórias, nove empates e 19 derrotas (aproveitamento de 76,6%), com 327 gols marcados (média superior a três gols por jogo) e 158 sofridos. Foram duas Libertadores, dois Mundiais de Clubes, cinco edições da Taça Brasil e mais uma infinidade de títulos, vitórias históricas e atuações marcantes. O Santos dos anos 1960 não é considerado um dos melhores times de todos os tempos apenas por ter sido o clube que revelou Pelé para o mundo, mas pelo pioneirismo e pela forma como o histórico quinteto ofensivo se comportava. Este que escreve não consegue imaginar nada mais adequado para o “Rei do Futebol”.

FONTES DE PESQUISA:

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RSSSF Brasil / Resultados Históricos
Site oficial do Santos Futebol Clube
Almanaque do Santos FC, de Guilherme Nascimento (Editora Magma Cultural)
A Pirâmide Invertida, de Jonathan Wilson (Editora Grande Área)
Escola Brasileira de Futebol, de Paulo Vinícius Coelho (Editora Objetiva)