Home Futebol Corinthians leva o bicampeonato da Supercopa Feminina, mas é o Flamengo quem fica com a grande lição

Corinthians leva o bicampeonato da Supercopa Feminina, mas é o Flamengo quem fica com a grande lição

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as ideias de Arthur Elias e Luis Andrade e o projeto rubro-negro para a modalidade

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Mais do que se consolidar com o grande “papão de títulos” no Brasil com a conquista do bicampeonato da Supercopa Feminina, o Corinthians cada vez mais se mostra como exemplo de sucesso. Este que escreve não está falando apenas de termos táticos e no modo como a equipe de Arthur Elias domina seus adversários dentro de campo. A goleada na Neo Química Arena também deixou uma grande lição para o time comandado por Luis Andrade e toda a diretoria do Flamengo. Não adianta nada “apenas” injetar dinheiro, encher o elenco de jogadoras renomadas e esperar que as taças “aterrissem” no clube como num “passe de mágica”. É preciso ter projeto sério e uma mínima noção do que a modalidade exige.

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E quando se fala em projeto, estamos falando de anos de trabalho, dedicação, divulgação e fomento de uma modalidade esportiva que ainda encontra MUITA resistência aqui no Brasil. Mesmo depois de Marta, Cristiane, Sissi, Formiga e várias outras lendas do futebol feminino. A chegada de um clube do tamanho do Flamengo seria altamente benéfica para todos se sua diretoria realmente pensasse em algo além de dinheiro. Algo bem diferente do Corinthians. Há um abismo entre os dois clubes em termos de planejamento e isso foi comprovado neste domingo (12).

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Aliás, é impressionante como tudo se reflete no campo. A partida disputada na Neo Química Arena nos mostrou um time já consolidado e que joga “de memória” encarando um adversário que baseia seu jogo no talento individual, mas que ainda precisa de consistência. Arthur Elias apostou num 4-3-3 que trazia Diany e Vic Albuquerque jogando por dentro e se aproximando de Tamires, Millene e Gabi Portilho para travar as saídas do 4-2-3-1 espaçado de Luis Andrade. O gol logo no primeiro minuto já era a prova da superioridade desse Corinthians sobre o Flamengo.

Formação inicial das duas equipes. Diany e Vic Albuquerque jogaram por dentro e exploraram bem o espaço entrelinhas de um Flamengo muito espaçado e sem consistência.

Notem que o Fla tem quarteto ofensivo de respeito. Crivelari e Maria Alves pelos lados, Sole James no comando de ataque e Duda Francelino vindo de trás com a bola dominada. Muito apoio de Monalisa e Jucinara pelos lados do campo e as investidas de Thaísa por dentro. Tudo muito bonito no papel se não fosse a falta de jogo coletivo dessa equipe. Do outro lado, o Corinthians aproveitava bem essa falta de organização do Flamengo com ótimas trocas de posição, passes pelo chão e ótimas inversões de jogo. Diany (a melhor em campo na opinião deste colunista) se juntava ao ataque e trocava de posição com Gabi Portilho enquanto as demais corintianas criavam superioridade numérica no ataque.

Diany fica mais à frente, Gabi Portilho recua e Millene aproveita o belo passe de Vic Albuquerque no lance do terceiro gol do Corinthians. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

Nem é preciso lembrar que o primeiro tempo foi de amplo domínio do Corinthians. Estamos falando de um time que começou jogando num 4-3-3 e que variou sua formação tática para um 4-2-4 e até mesmo para um 3-2-5 com os avanços de Diany e Belinha pelo lado direito. A camisa 6 das Brabas, aliás, parece ter sido um dos grandes acertos do time nessa janela de transferências. Enquanto isso, o Flamengo ia correndo atrás do prejuízo e seus torcedores miravam no técnico Luis Andrade sem saber que ele é mais consequência do que causa de um problema muito maior. Tamires (autora de dois gols na partida) resumiu bem o pensamento deste que escreve sobre a forma como o Fla trata o futebol feminino.

Este que escreve demorou para compreender a entrada de Agustina no lugar de Thaísa e o posicionamento de Thaís Regina como volante. O time continuou exposto e só conseguiu fazer seu gol de honra com Daiane acertando bela cabeçada após cobrança de escanteio de Jucinara. Kailaine Júnior (assim como Kaylane Melo) tinha que cobrir distâncias enormes por conta da falta de compactação do time rubro-negro em todos os setores. Enquanto isso, o Corinthians apenas administrava o jogo. Mesmo com as entradas de Jaqueline, Liana Salazar, Jheniffer, Katiuscia e Gabi Morais, a equipe de Arthur Elias mantinha a postura ofensiva e comprovava sua superioridade diante de um adversário perdido em campo.

Com Agustina na zaga e Thaís Regina no meio, o Flamengo se lançou ao ataque no segundo tempo, mas só levou perigo quando foi mais objetivo. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

Essa talvez seja a grande lição que deve ser aprendida por todos no Flamengo. Não basta contratar jogadoras experientes e trazer um técnico estrangeiro (impressionante como os dirigentes rubro-negros adoram um passaporte internacional). É preciso projeto, dedicação e MUITO TRABALHO. Não se trata apenas de jogar no Maracanã ou não, mas de fazer algo além de injetar dinheiro sem critério nenhum. É preciso entender que o futebol feminino ainda precisa de marketing forte e presente, de divulgação e conscientização dos torcedores e de alguém que realmente se ame a modalidade. Pontos estes que são as características mais fortes do Corinthians bicampeão da Supercopa Feminina.

Como bem disse o analista de desempenho e amigo Luis Felipe Pereira, ao Flamengo fica a reflexão de que muita coisa precisa ser feita para que a enorme qualidade individual do elenco seja potencializada dentro da engrenagem coletiva. O Corinthians entendeu isso anos atrás e hoje colhe os frutos do trabalho bem feito no futebol feminino. Falta à diretoria rubro-negra a compreensão de que equipes vitoriosas não nascem apenas com despejo de dinheiro e contratações baseadas em “grife”. Essa é a grande lição dessa Supercopa Feminina.

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