Home Futebol Desorganizado e sem ritmo, Flamengo paga pelas escolhas do passado e vê Al-Hilal rir por último

Desorganizado e sem ritmo, Flamengo paga pelas escolhas do passado e vê Al-Hilal rir por último

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira destaca as ideias de Ramón Díaz e explica o que aconteceu com o time de Vítor Pereira

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Este que escreve já havia “dado o papo” no início da semana. O Flamengo era sim o favorito no confronto contra o Al-Hilal, mas o escrete saudita tinha sim repertório tático e Ramón Díaz tinha boas opções no banco de reservas. Na prática, o que eu e você vimos nessa fatídica terça-feira (7) no Estádio Ibn Batouta é do que o resultado das escolhas feitas pela diretoria. Sem tempo para assimilar os conceitos de Vítor Pereira (treinador contratado no final de 2022) e com três decisões pela frente, o Fla acabou sucumbindo para um adversário mais organizado e muito mais ligado em cada lance. A opção pela mudança no comando técnico cobrou seu preço na cidade de Tanger.

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Flamengo sem ritmo

A vida é feita de escolhas e elas trazem consequências. Funciona do mesmo jeito dentro das quatro linhas. A Supercopa do Brasil já tinha nos mostrado um Flamengo sem ritmo, mas que ainda mantinha um mínimo de organização quando os quarteto ofensivo se aproximava para trocar passes por dentro. Contra o Al-Hilal, vimos um time ainda mais espaçado e que sofreu demais quando Ramón Díaz sacou Michael e mandou o argentino Vietto para o jogo. Jogando num 4-4-2 com Cuellar e Carrillo encaixando em Everton Ribeiro e Gerson, e Marega e Salem Al-Dawsari aproveitando bem o espaço às costas de Matheuzinho e Ayrton Lucas, o escrete saudita conseguiu se impor logo no começo do jogo.

Formações inicias de Flamengo e Al Hilal
Formação inicial das duas equipes. A circulação de Vietto e Ighalo às costas de Gerson e Everton Ribeiro bagunçou a defesa do Flamengo no primeiro tempo.

O próprio Ramón Díaz afirmou depois da partida que sabia que os volantes do Flamengo combatiam pouco. A mudança do 4-3-3 para o 4-4-2 teve esse objetivo, de explorar os espaços que apareciam entre as linhas do time comandado por Vítor Pereira. A mudança para o 4-2-3-1 com Thiago Maia pela direita e Everton Ribeiro mais centralizado deu mais volume de jogo ao Fla depois do gol de Salem Al-Dawsari (em penalidade tola cometida por Matheuzinho). Não foi por acaso que alguns dos bons momentos do Fla no primeiro nasceram da aproximação do quarteto ofensivo. Tal como nos tempos de Dorival Júnior. Toques rápidos, triangulações e boa movimentação no terço final.

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Posicionamento de Thiago Maia e Gerson
Com Thiago Maia alinha do a Gerson, o Flamengo encaixou bons momentos com as triangulações e boas trocas de passe do quarteto ofensivo. Foto: Reprodução / YouTube / Cazé TV

No entanto, a defesa e a falta de ritmo ainda eram os grandes pontos fracos do Flamengo. Difícil não notar que o time deu uma recuada depois de empatar a partida ainda no primeiro tempo. Com Salem Al-Dawsari e Marega explorando as costas de Matheuzinho e Ayrton Lucas e Thiago Maia completamente sobrecarregado na marcação por dentro (muito por conta da péssima atuação de Gerson), o escrete comandado por Vítor Pereira se transformou em presa fácil para as investidas do seu forte e empolgado adversário. Afinal de contas, estava claro para o Al-Hilal que o bicho não era tão feio assim. Havia espaços generosos que pediam para ser aproveitados pela equipe saudita.

Arbitragem e erros bobos de jogadores do Flamengo

Foi bem difícil entender os critérios do árbitro romeno Istvan Kovacs. Mas não dá pra isentar Gerson e outros jogadores de boa parte da culpa pela derrota nesta terça-feira (7). O Flamengo cometeu erros bobos e “deu” dois gols de pênalti para o Al-Hilal por conta da completa desorganização defensiva vista no Estádio Ibn Batouta. Do outro lado, Ramón Díaz fez o simples. Encaixou a marcação de Cuéllar e Carrillo (que era dúvida por conta da lesão sofrida contra o Wydad Casabanca) em cima de Gerson e Everton Ribeiro. Com Thiago Maia recuando para fazer a “saída de três”, abria-se uma verdadeira cratera entre a última linha e os volantes do Flamengo. Faltava intensidade e movimentação.

Posicionamento de Carillo e Cuéllar
Carrillo e Cuéllar fecham em cima de Everton Ribeiro e Gerson e o quarteto ofensivo fecha as linhas de passe na frente de Thiago Maia. Foto: Reprodução / YouTube / Cazé TV

Substituições do Flamengo facilitaram a vida do Al-Hilal

Ao mesmo tempo, é bem difícil entender o que Vítor Pereira pretendia com as saídas de Arrascaeta e Everton Ribeiro no segundo tempo. Por mais que os dois ainda estejam fora de forma, eles são jogadores com capacidade de mudar uma partida num único lance. Além disso, as entradas de Pulgar e Everton Cebolinha acrescentaram muito pouco ao time dentro de campo. Enquanto o camisa 5 perdeu a bola que resultou no terceiro gol do Al-Hilal (marcado por Vietto), o camisa 11 não conseguiu dar sequência a nenhuma jogada de ataque. Enquanto isso, Ramón Díaz colocava velocidade nos contra-ataques com Michael aberto pela direita e Nasser Al-Dawsari mais à esquerda na inversão para um 3-2-5.

Organização tática do Flamengo após as substituições
Sem Arrascaeta e Everton Ribeiro, Vítor Pereira montou o Flamengo numa espécie de 4-2-3 confuso e que sofreu para conter o Al-Hilal. Foto: Reprodução / YouTube / Cazé TV

Nem mesmo o gol de Pedro (já nos acréscimos) conseguiu fazer com que o Flamengo reagisse diante de um adversário que já implorava pelo apito final. Mesmo assim, está mais do que claro que o Al-Hilal mereceu muito a vitória e a classificação para a final do Mundial de Clubes. Sobre Vítor Pereira, é difícil colocar toda a culpa sobre seus ombros apesar dos erros na escalação (era jogo para Filipe Luís) e nas substituições (pelo menos para este que escreve). Seu trabalho ainda está no início e seus conceitos ainda não foram bem assimilados pelos jogadores rubro-negros. Paciência. Não se faz um time vencedor da noite para o dia e se manter no topo é mais difícil do que chegar nele.

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A grande verdade, meus amigos, é que o Flamengo paga pelas escolhas da sua diretoria. Todos nós sabíamos que a mudança no comando técnico era um movimento bastante arriscado às vésperas de três decisões importantíssimas. Tudo por conta da já conhecida necessidade de tempo e paciência para o entendimento mútuo entre jogadores e treinador. Futebol não é mágica. Agora, é conferir se esses mesmos dirigentes bancam Vítor Pereira no comando do time mesmo se os resultados não aparecerem nos próximos dias. Essa eu quero ver.