Filho de autor do hino do Internacional acusa Grêmio de racismo contra o pai nos anos 40

“Glória do desporto nacional/Oh Internacional/Que eu vivo a exaltar“. Muitos não sabem, mas o autor do hino oficial do Internacional era carioca de nascimento e torcedor do Flamengo. Assim, Nelson Silva nasceu em 1916 e chegou a Porto Alegre aos 27 anos, em 1943. O músico desembarcou na capital gaúcha para se apresentar com seu conjunto Águias de La Noche e nunca mais deixou o Rio Grande do Sul.

Tanto que Nelson Silva se tornaria um notável torcedor colorado, a ponto de compor o hino do clube logo após uma derrota do Internacional. Ela aconteceu num amistoso contra o Aimoré, disputado em São Leopoldo em 1956, com vitória por 3 a 1 do Índio Capilé. A música, denominada “Celeiro de Ases”, venceria um concurso promovido pelo Colorado, 10 anos depois, em 1966, se eternizando como o hino oficial do Sport Club Internacional.

Contudo, o compositor se aproximaria do Colorado por conta de um episódio triste ocorrido em 1949. Conforme relatado pelo filho de Nelson Silva, o publicitário Turiassú Silva, o músico tinha a intenção de assistir a uma partida entre Grêmio e Flamengo. Afinal, era rubro-negro. Mas foi barrado na entrada do antigo Estádio da Montanha, em Porto Alegre.

“O senhor não vai poder entrar porque é negro! Nosso clube não admite negros!”, relatou Turiassú Silva, descrevendo a resposta que seu pai ouviu, em coluna publicada nesta segunda-feira (13) no jornal Zero Hora. Mesmo que Nelson Silva tenha insistido que era carioca, não pertencendo às regras do Estado, ouviu que as normas eram do clube, no caso, o Grêmio.

Nelson Silva vibrava e chorava até em jogos do Internacional contra o Flamengo, seu time de coração anterior

Posteriormente, o músico descobriria o Internacional, considerado popular e que aceitava pessoas negras. De acordo com seu filho, ali nascia o amor dele pelo Colorado. “O sentimento pelo clube só aumentou após escrever seu hino, tornando-se tão colorado que, nos jogos entre Inter e Flamengo, torcia pelo clube gaúcho a ponto de vibrar e chorar!”, contou Turiassú Silva.

Por fim, o publicitário lamentou que a sociedade tenha regredido em alguns pontos, com ofensas e injúrias raciais até hoje ocorrendo nos estádios. “Se hoje estivesse vivo, certamente Nelson Silva ficaria chocado”, finalizou o filho do compositor, falecido em 1983 aos 66 anos.