Home Mercado da Bola Técnico brasileiro que fugiu da guerra na Ucrânia relata saída para a Polônia: “Soldado colocou arma na minha cabeça”

Técnico brasileiro que fugiu da guerra na Ucrânia relata saída para a Polônia: “Soldado colocou arma na minha cabeça”

Gilmar Tadeu estava na Ucrânia desde 2011; treinador soma passagens por clubes como FC Metalurh Zaporizhya e FC Lviv

Wilson Pimentel
Jornalista esportivo desde 1998. Cobriu os principais eventos esportivos da última década. Passou pelas redações do SBT, Record TV, CNT, Esporte Interativo, Rádio Tupi, Rádio Brasil e Rádio Manchete. É correspondente de veículos de comunicação da Colômbia, Croácia, Paraguai e Portugal. Está no Torcedores.com desde 2019.

Quando a guerra começou, Gilmar Tadeu tinha uma vida consolidada na Ucrânia. O técnico brasileiro naturalizado ucraniano, de 52 anos, viveu de perto os efeitos que a guerra iniciada pela Rússia em março de 2022 pode causar nas pessoas e no país.

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Ele estava em Lviv, cidade do oeste da Ucrânia, perto da fronteira com a Polônia. Agora, o treinador está em São José dos Campos, interior de São Paulo, na casa da família onde encontra paz e conforto para reconstruir a vida.

“A vida na Ucrânia está longe de uma normalidade, mesmo que não se fale mais tanto sobre isso. Os ataques não diminuíram e soube que na semana passada atingiram o prédio aonde eu morava. Cheguei ao Brasil, fiquei feliz, mas meu coração ainda está na Ucrânia com amigos e familiares. Mas o pior foi um jogador do meu time que morreu na guerra. Cinco deles foram convocados para a guerra e um acabou falecendo. Hoje, ainda existe o risco de me convocarem para a guerra já que tenho toda a documentação do país”, revelou Gilmar Tadeu em entrevista ao canal “OurSports”, no YouTube.

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A fuga da Ucrânia

Gilmar Tadeu utilizou uma rota de fuga, a primeira a ser utilizada pelos ucranianos, para tentar entrar na Polônia. Ao chegar na fronteira, ele relata o momento de maior tensão antes de deixar o país bombardeado pelas tropas russas.

“Quando fui sair da Ucrânia, entrei numa estação de trem com mais de 14 mil pessoas. Um local aonde só cabiam duas mil. Estava tudo lotado. Ali eu percebi que não conseguiria entrar por ter muitas pessoas e soldados”, disse o técnico antes de prosseguir:

“Quando eu fui entrar no trem, o soldado colocou uma arma na minha cabeça e disse que eu não poderia entrar por só ter mulheres e crianças. Eles me pediram o documento, mostrei e me disseram que deveria estar na guerra. Ele foi dar uma volta e me deixou entrar no trem para poder sair do país.

A volta ao país

Gilmar Tadeu é natural da cidade de São Paulo estava na Ucrânia desde 2011, quando foi contratado pelo FC Metalurh Zaporizhya. Depois disso, foi contratado pelo FC Lviv que fazia boa participação no Campeonato Ucraniano que acabou sendo suspenso por causa da guerra.

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O treinador trabalhou em clubes de menor investimento no Brasil como União Mogi e Osvaldo Cruz, ambos de São Paulo. Ele também soma passagens pelo Al-Mojzel, da Arábia Saudita e CPK, de Macau.

Antes do conflito, ele sonhava em comandar uma equipe de ponta da Ucrânia. No entanto, por enquanto, o sonho de fazer carreira na Europa foi interrompido. Apesar disso, Gilmar Tadeu enfrentou novamente o conflito para concluir o curso da UEFA para obter a Licença Pro.

“Voltei em outubro por uma autorização especial para ficar cinco dias. Eu tenho o sonho de disputar a Liga dos Campeões e a Liga Europa. O treinador tem que pensar no que espera para o futuro, claro que não é qualquer um que pode parar e estudar por quatro anos (para ter o diploma da Uefa). É a primeira barreira, mas quem for bem aqui abre portas. Tenho amigos europeus que me perguntam como é o treinador brasileiro”, finalizou.

Assista um trecho da entrevista de Gilmar Tadeu ao canal OurSports!