Home Futebol Últimas atuações do Flamengo provam que Jorge Sampaoli ainda tem muito trabalho pela frente; confira a análise

Últimas atuações do Flamengo provam que Jorge Sampaoli ainda tem muito trabalho pela frente; confira a análise

Na volta da coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira explica o que se passa com o Fla e como o time pode subir de produção

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Não é novidade pra ninguém que o Flamengo vem pagando caro pelos erros cometidos pela sua diretoria no final do ano passado. A não renovação com Dorival Júnior e a inexplicável opção por Vítor Pereira já foram amplamente debatidas aqui mesmo neste espaço. No entanto, é impossível desvincular todo esse processo do que eu e você estamos vendo em campo com Jorge Sampaoli na beira do gramado. O treinador argentino chegou ao Fla no meio de um furacão e tem que lidar com uma série de problemas como o vestiário dividido e as péssimas condições físicas do elenco. Difícil não perceber que Sampaoli já tem que lidar com alguns dilemas no comando do time de maior torcida do país.

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Este que escreve entende que renovar o elenco faz bem se feito de maneira correta e planejada e não aos solavancos e apostando apenas em “grife” como a diretoria do Flamengo faz há alguns anos. Ao mesmo tempo, todos nós sabemos que Jorge Sampaoli tem seus métodos e uma visão bem clara do que quer de suas equipes. Intensidade máxima, forte pressão pós-perda e muita agressividade no ataque (tudo baseado no “jogo de posição” trabalhado pelo argentino no Santos, no Atlético-MG e na Seleção Chilena). No entanto, o contexto do Flamengo é muito específico.

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É verdade que é muito difícil apontar apenas um problema. O time está muito mais frágil defensivamente, o meio-campo sente demais a falta de um jogador como João Gomes na marcação e na contenção dos espaços e o ataque parece sofrer do velho complexo de “arame liso”. Bem diferente do que vimos de 2019 até aqui. Este colunista também não acredita em “falta de vontade”. Mais fácil falar em dificuldades de adaptação aos conceitos do novo treinador. E nesse quesito, podemos dizer que Jorge Sampaoli também tem uma parcela de culpa nas atuações ruins da equipe.

O empate contra o Cruzeiro no último sábado (27) resume bem a tese deste que escreve. Jorge Sampaoli apostou num Flamengo organizado no 4-3-1-2 bem “argentino” com Matheus França jogando atrás de Gabigol como um “enganche” e Pedro e mantendo Thiago Maia e Gerson como os “volantes/meias” que se alternam nas chegadas ao ataque dependendo do lado em que está a bola. Se é Thiago Maia quem avança, Gerson tende a guardar mais seu posicionamento e vice-versa. A amplitude criada através dos avanços dos laterais Wesley e Ayrton Lucas para a linha de fundo sempre com a dupla de ataque empurrando a defesa adversária para trás e abrindo espaços os jogadores de meio-campo pisarem na área.

Wesley parte pela direita, Ayrton Lucas abre o campo e Pedro e Gabigol empurram a zaga para trás. O Flamengo tem padrões bem definidos com Sampaoli. Foto: Reprodução / Premiere

Só que o Flamengo sofre com dois problemas crônicos no seu meio-campo. Sem Everton Ribeiro e Arrascaeta, o time sofre sem ter quem faça o time jogar mais por dentro e acaba abusando das bolas levantadas para a área em determinados momentos da partida. Essa falta de criatividade fica evidente quando o Fla precisa se lançar ao ataque e correr atrás de algum resultado (como aconteceu nas partidas contra o Racing e o Ñublense pela Copa Libertadores da América). E Gerson ainda não conseguiu repetir as boas atuações que teve com Sampaoli no Olympique de Marselha.

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Tudo isso acaba resultado no velho complexo de “arame liso”. O time do Flamengo circula a bola, adianta as linhas, mas não consegue agredir a área adversária. E sem contundência no ataque, o Fla acaba sobrecarregando sua defesa. A opção pelo 4-3-1-2 funcionava bem no ano passado porque João Gomes “carregava o piano” no meio-campo e cobria bem os espaços. Sem ele, o time se ressente demais de um jogador com essa capacidade. Não foi por acaso que o Cruzeiro encontrou tanta facilidade para levar a bola até a área rubro-negra no último sábado (27).

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Mesmo protegendo a entrada da sua área, o time do Flamengo esteve frouxo na marcação e sofreu bastante com os ataques do Cruzeiro no sábado (27). Foto: Reprodução / Premiere

Acaba que tudo isso provoca um verdadeiro “efeito cascata” no escrete rubro-negro. O ataque não converte as (poucas) chances que o meio-campo produz durante a partida e a defesa (sempre jogando bastante adiantada como quer Jorge Sampaoli) sofre horrores para controlar a profundidade (o popular “correr para trás”). Mesmo com Everton Cebolinha voltando pela esquerda e transformando o 4-3-1-2 num 4-4-2, o Flamengo sofre para fechar os espaços na frente da última linha. O que se vê na prática são as claras dificuldades da equipe para conter adversários que sabem jogar por dentro e usar a entrelinha, visto que Pulgar, Gerson e Thiago Maia não conseguem cobrir esses espaços.

Um dos grandes problemas do Flamengo é a contenção dos espaços entre as linhas da equipe. A equipe sofre contra adversários que sabem usar esses espaços. Foto: Reprodução / Premiere

As decisões terríveis da diretoria rubro-negra reverberam até hoje. Principalmente dentro de campo. Por outro lado, é meio estranho ver Jorge Sampaoli reclamando dos problemas físicos durante as coletivas e terminando as partidas sem fazer todas as substituições mesmo quando os jogadores dão sinais claros de desgaste. Ao mesmo tempo, a insistência em jogadores como Vidal e David Luiz (que já não rendem como já renderam) é outro problema. E ainda sem poder contar com os “refuerzos” prometidos pela diretoria, talvez a melhor opção seja fazer adaptações tais como diminuir um pouco a altura das linhas e apostar na juventude e guardar a experiência para outros momentos da partida.

Certo é que Flamengo e Jorge Sampaoli vivem momentos decisivos. Não somente pela proximidade do jogo contra o Fluminense pela Copa do Brasil e pelos compromissos na Libertadores mas pelo tempo escasso para treinamentos e recuperação de jogadores. E insistir num modelo de jogo que exige muito dos atletas pode não ser a decisão mais acertada. Restam as dúvidas. Sampaoli vai “morrer abraçado” com suas convicções ou vai acordar a tempo de perceber que precisa ceder para não perder o grupo e as partidas que tem pela frente? Cartas para o Ninho do Urubu.

Better Collective