Home Futebol Sevilla supera o “ônibus estacionado” da Roma e se consolida como o grande “papão de títulos” da Liga Europa

Sevilla supera o “ônibus estacionado” da Roma e se consolida como o grande “papão de títulos” da Liga Europa

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a final em Budapeste e a atuação das equipes de José Mendilibar e José Mourinho

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

É verdade que Sevilla e Roma não fizeram uma decisão marcada pela técnica. Tivemos sim, bons lances como a troca de posições no quarteto ofensivo da equipe de José Mendilibar e os contra-ataques em alta velocidade característicos do time de José Mourinho. Mas essa grande final da edição de 2022/23 da Liga Europa acabou marcada mesmo por doses cavalares de emoção. O escrete “blanquirrojo” acabou levando a sua sétima taça na base da superação, da garra e da força mental na decisão por penalidades depois de uma prorrogação que durou mais de quarenta minutos. A Puskás Arena presenciou mais um capítulo sensacional do “casamento” entre o Sevilla e a Liga Europa.

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Quem acompanhou as duas equipes na última temporada sabia muito bem o que estava por vir nessa quarta-feira (31). Valorização da posse da bola e muitas trocas de posição por parte do Sevilla e o conhecido “ônibus estacionado” de José Mourinho na frente da área da Roma. Só que foi a equipe italiana quem começou dando as cartas na partida com o avanço dos alas Çelik e Spinazzola e um trio ofensivo de muita mobilidade no ataque. Pellegrini ficava mais preso na marcação e liberava Dybala para encostar em Abraham no comando de ataque do time “gialorossi”.

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Do outro lado, o Sevilla se organizava no 4-2-3-1 costumeiro de José Mendilibar com Ocampos e Bryan Gil pelos lados, Jesús Navas um pouco mais presente no apoio do que o brasileiro Alex Telles e o ótimo Rakitic chegando bastante no campo ofensivo a partir do lado esquerdo. O grande problema da equipe da Andaluzia era a insistência nas jogadas pelos lados do campo, setor onde a Roma exercia boa marcação e se impunha na base da força do 5-3-2 de José Mourinho com um meio-campo formado por Cristante, Matic e Pellegrini durante a transição defensiva.

Formação inicial das duas equipes em Budapeste. O Sevilla insistia muito pelos lados do campo e viu a Roma se impor na base da força física e dos contra-ataques rápidos.

É interessante notar que Çelik e Spinazzola batiam de frente com os laterais Jesús Navas e Alex Telles a todo momento. Abusando da amplitude e dos passes em profundidade, o escrete italiano foi se impondo até abrir o placar com Dybala aos 35 minutos do primeiro tempo depois de bola roubada por Cristante no meio-campo. O lance (que teve assistência cinematográfica de Mancini para o argentino) já se desenhava desde o começo do jogo. Com os alas bem espetados e o polivalente Pellegrini se juntando à dupla de ataque, a Roma foi arrastando o Sevilla para trás até conseguir os espaços que queria para balançar as redes do goleiro Bono e conseguir a vantagem no placar.

Spinazzola faz a virada de jogo e encontra Dybala abrindo o campo pela direita. A Roma conseguiu se impor no início do jogo usando os lados do campo. Foto: Reprodução / ESPN Brasil

Era mais do que certo que a Roma ia “estacionar o ônibus” na frente da área do goleiro Rui Patrício. E assim aconteceu. Com uma linha de cinco jogadores e outra com três, a equipe “gialorossi” se fechou na defesa e passou a explorar a velocidade dos seus alas nas transições buscando a dupla de ataque. No entanto, a temporada mais puxada começou a cobrar seu preço. Lembrem-se de que Dybala vinha de certo tempo parado por conta de lesão. Foi nessa balada que o Sevilla começou a ganhar campo e se impor mais na partida na base dos toques rápidos.

Ainda na primeira etapa, o técnico José Mendilibar entendeu que sua equipe precisava se movimentar mais para encontrar espaços e fez essa orientação para seus jogadores. Com En-Nesyri prendendo pelo menos dois zagueiros, Ocampos fazendo boa dupla com Óliver Torres mais à direita e Bryan Gil saindo da esquerda e vindo por dentro, o Sevilla criou a sua melhor chance antes de empatar a partida com o chute de Rakitic na trave. Com as entradas de Suso e Lamela na segunda etapa, os “blanquirrojos” ganharam ainda mais força e velocidade nessas transições.

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En-Nesyri prende os zagueiros, Bryan Gil arrasta a marcação e Rakitic ataca o espaço antes de receber o passe de Óliver Torres na entrada da área. Foto: Reprodução / ESPN Brasil

O empate veio aos dez minutos da segunda etapa com Mancini marcando contra depois de belo cruzamento de Jesús Navas pela direita. Mas o que se via na Puskás Arena era um desdobramento do que se viu no final da primeira etapa. Enquanto a Roma tentava marcar o gol da vitória (e do título) na base das ligações diretas e das bolas levantadas na área, o Sevilla ganhava força com as alterações feitas por José Mendilibar. Não demorou muito para que a equipe espanhola conseguisse criar superioridade numérica no campo ofensivo com Suso e Lamela se somando a En-Nesyri, Ocampos e Jesús Navas numa linha de cinco atacantes de muito volume e muita mobilidade. Faltou somente o gol.

O Sevilla melhorou bastante com as entradas de Suso e Lamela e amassou a Roma com uma linha de cinco atacantes bastante móvel no segundo tempo. Foto: Reprodução / ESPN Brasil

Depois de impressionantes duas horas e 26 minutos de bola rolando (com absurdos onze minutos de acréscimo no segundo tempo da prorrogação), o Sevilla conseguiu a sua sétima Liga Europa batendo a Roma nas penalidades e com grandes herois para festejar. O primeiro dele é o goleiro Bono. O marroquino fez defesas importantes durante a partida e ainda defendeu as cobranças de Mancini e do brasileiro Ibañez. E o segundo (e talvez o mais inusitado) é o argentino Montiel. Depois de entrar no início da prorrogação, o camisa 2 dos “blanquirrojos” converteu a cobrança que deu o título para a sua equipe. Exatamente como aconteceu no Catar no mês de dezembro na grande final da Copa do Mundo.

O Sevilla se consolida como o grande “papão de títulos” da Liga Europa com sete conquistas em sete decisões e de quebra impõe uma dura derrota para José Mourinho. O português jamais havia perdido uma final europeia na carreira. São histórias como essas que os deuses do velho e rude esporte bretão gostam de contar. E depois de uma temporada marcada pela irregularidade e pela crise nos bastidores, o escrete comandado por José Mendilibar se consagra definitivamente com mais um título continental. A Andaluzia nunca esteve tão feliz como está nesse momento.