Home Futebol Em busca da primeira estrela: o que esperar da seleção brasileira na Copa do Mundo Feminina?

Em busca da primeira estrela: o que esperar da seleção brasileira na Copa do Mundo Feminina?

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira destaca a expectativa pela estreia do time de Pia Sundhage no Mundial da Austrália e da Nova Zelândia

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

A Seleção Feminina inicia a caminhada pela sua primeira estrela nesta segunda-feira (24) contra o Panamá no Hindmarsh Stadium, em Adelaide. Ainda que o primeiro adversário do time comandado por Pia Sundhage (que fez e faz sim um bom trabalho apesar das críticas deste que escreve e de outros colegas) não seja dos mais complicados (pelo menos em tese), fato é que todo o elenco sabe muito bem o que está em jogo. Não se trata apenas de colocar em prática tudo aquilo que foi passado durante o último ciclo. Toda estreia em torneios grandes como uma Copa do Mundo Feminina pede muito mais do que conhecimento técnico e tático. É preciso ter a frieza e a firmeza dos verdadeiros campeões.

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Mas, afinal de contas, o que esperar da Seleção Brasileira nessa Copa do Mundo Feminina? Para se responder essa e outras perguntas, é preciso entender bem que o Brasil não faz parte da primeira prateleira da modalidade. Equipes como Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra, França (que também está no Grupo F do Mundial) têm ligas muito mais estruturadas do que a nossa e trabalhos mais consolidados. Além disso, o processo de renovação da Seleção Feminina só começou há poucos anos. Geyse, Gabi Nunes, Kerolin, Ary Borges, Angelina, Duda Sampaio e outras se juntaram às veteranas Marta, Tamires, Rafaelle e Bárbara num time que ganhou muita consistência no decorrer desse ciclo.

Pia Sundhage tinha objetivos claros na Seleção Brasileira além da tão necessária renovação do time. O primeiro deles era fazer as jogadoras entenderem que precisavam jogar com e sem a bola. Ter intensidade, ler os espaços no campo e ocupá-los sem deixar que seu oponente tenha tempo pra pensar. Não que isso não tenha sido feito anteriormente, mas faltava nas atletas a noção mais clara de que o futebol é jogado com muito mais velocidade do que há dez anos atrás, por exemplo. E o segundo era consolidar seus conceitos. O seu 4-4-2 preferido poderia ficar um 4-2-4 ou até mesmo um 3-1-4-2 dependendo do adversário. No amistoso contra o Chile, Pia optou por uma formação mais ofensiva.

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A Seleção Brasileira assimilou bem os movimentos do 4-4-2/4-2-4 proposto por Pia Sundhage. Há variações, aproximação e jogo com e sem bola. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

Notem que algumas das escolhas de Pia seguem o critério do jogo sem bola e da clara necessidade de ser intenso em todas as situações de jogo. Kerolin, Ary Borges, Geyse, Antônia, Rafaelle e outras atletas se encaixaram muito bem nesse modelo e executam bem aquilo que a treinadora sueca pede da sua equipe dentro de campo. Além disso, um dos pontos mais fortes da Seleção Brasileira é o jogo aéreo. Este que escreve confessa que não se lembra de ver o Brasil com tanta qualidade e força nesse quesito como nesse momento. E com a equipe bem organizada seja no ataque ou na defesa, explorar os cruzamentos nas costas da defesa se transformou num bom caminho para encontrar espaços.

Gabi Nunes e Geyse arrastam a defesa para trás, Antônia e Tamires abrem o campo e Nycole e Ana Vitória atacam o espaço vindo mais por dentro. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

É óbvio que a Seleção Brasileira subiu de patamar nesse ciclo. As atuações contra Inglaterra (na Finalíssima) e Alemanha comprovam essa tese e fizeram com que muita gente lá fora passasse a prestar mais atenção na equipe comandada por Pia Sundhage. Por outro lado (e assim como qualquer outra seleção do planeta), o Brasil não está livre de erros. Além das escolhas questionáveis da treinadora sueca na convocação final para a Copa do Mundo, ficam as dúvidas sobre como algumas dessas jogadoras vão encarar a sua estreia em mundiais. Um ponto positivo é a alta competitividade dentro do próprio elenco. Pelas entrevistas, o grupo parece ter entendido que é preciso ter seriedade e foco nesse momento.

Disputar uma Copa do Mundo exige um nível de força mental e concentração que muitas ali na Seleção Brasileira ainda estão buscando. Além disso, o time comandado por Pia Sundhage, embora bastante organizado e muito mais sólido defensivamente falando do que no Mundial passado, ainda apresenta alguns pontos fracos. O amistoso contra o Chile (na Arena Mané Garrincha) mostrou bem isso com os problemas de cobertura na última linha e as dificuldades da defesa em fechar as linhas de passe. Com a falta de concentração e intensidade vistas em determinados momentos do ciclo, aparecem as falhas na recomposição. Essa situação tende a piorar contra adversários mais qualificados.

A Seleção Feminina ainda tem dificuldades para fechar os espaços na última linha. Fora isso, a falta de concentração ainda é um problema sério. Foto: Reprodução / TV Globo / GE

Mesmo assim, é preciso deixar claro que a Seleção Feminina tem um trabalho já bastante consolidado e já chamou a atenção dos seus adversários. Se antes, o Brasil era conhecido “apenas” pelo talento, hoje já se fala em organização tática, intensidade e consistência defensiva. Se Pia Sundhage perdeu a polivalente e versátil Nycole Raysla por lesão, ela pode ganhar ainda mais força no meio-campo com a recuperação de Angelina. E conforme mencionado por este que escreve na análise da convocação para a Copa do Mundo, o elenco é bom, tem ótimas opções e alternativas para se mudar uma formaçao tática e muita qualidade. E reduzir o trabalho de Pia a polêmicas vazias é, no mínimo, desonesto.

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E ainda há a Rainha Marta. A nossa camisa 10 vai para sua “Última Dança” e as jogadoras já afirmaram (em entrevista ao excelente “Rainha das Copas” no Twitter) que desejam ganhar a Copa do Mundo para ela. Por mais que eu e você tenhamos em mente que esse sonho é um pouco distante, é bom ver que todo o elenco está fechado num propósito único e bastante comprometido com o que deve ser feito em campo. Agora, o que nos resta é torcer para que Marta e o Brasil conquistem a tão sonhada primeira estrela.