Falar que o Corinthians não se cansa de fazer história já se transformou numa doce rotina de quem acompanha a modalidade. A conquista do pentacampeonato nacional diante 42.566 torcedores presentes na Neo Química Arena (recorde de público na América do Sul para um jogo de futebol feminino) também foi marcada por mais uma demonstração perfeita de como esse time sabe lidar com as adversidades e encontrar soluções que parecem simples para nós, reles mortais. A atuação coletiva da Ferroviária de Jéssica de Lima e as defesas cinematográficas de Luciana só valorizaram mais a conquista das Brabas neste domingo (10). Mais uma taça para a já abarrotada coleção de títulos.
É possível dizer que Arhtur Elias tirou lições da atuação da sua equipe no jogo de ida em Araraquara. Com Gabi Zanotti no meio-campo, Millene mais próxima de Jheniffer e Duda Sampaio subindo mais para o ataque, o treinador do Corinthians apostou na marcação ainda mais alta e na forte pressão na saída de bola das Guerreiras Grenás. Ao invés das ligações diretas, mais passes pelo chão e a já conhecida dinâmica entre Tamires e Yasmim no lado esquerdo. Em números, era um 4-3-3 que poderia ser um 4-1-3-2 ou até mesmo um 3-2-5 dependendo do momento.
Do outro lado da decisão, Jéssica de Lima repetia o 5-4-1 da partida de ida com uma pequena diferença. Luana Sartório se comportava como volante sempre que a Ferroviária tinha a posse da bola, buscando receber o primeiro passe às costas do ataque adversário. Com isso, Mônica Bittencourt e Barrinha eram mais laterais do que alas, mas não deixavam de aparecer no campo ofensivo. No mais, Laryh era a referência móvel que abria espaços para as chegadas de Mylena Carioca e Eudimilla pelos lados e de Suzane Pires e Raquel Domingues mais por dentro.

Por conta da escalação e de toda a atmosfera na Neo Química Arena, era mais do que natural que o Corinthians fosse buscar o ataque desde o começo da partida. No entanto, a Ferroviária seguia levando perigo nos contra-ataques. E nem mesmo o meio-campo em losango montado por Arthur Elias para “descansar” Tamires e Gabi Zanotti foi capaz de segurar o contra-ataque bem encaixado das Guerreiras Grenás. Destaque para a movimentação de Laryh pelos lados do campo para abrir espaço para as infiltrações das pontas. E foi assim que Mylena Carioca aproveitou o cochilo coletivo do sistema coletivo do Corinthians para abrir o placar logo aos nove minutos do primeiro tempo.

É interessante notar que o Corinthians não se abalou com o gol sofrido e se manteve ao plano traçado por Arhur Elias. A equipe adiantou ainda mais as linhas e seguiu pressionando a saída de bola da Ferroviária. Cada uma das jogadoras fechava em cima de uma das zagueiras das Guerreiras Grenás. Jheniffer vigiava Day Silva, Tamires perseguia Géssica e Millene ficava com Luana Sartório. Se alguém aparecesse por dentro, Gabi Zanotti ou Duda Sampaio saltavam para a pressão para interceptar o passe e recolocar as Brabas na direção do gol. De tanto insistirem, o gol de empate saiu na (fortíssima) jogada de bola parada com Jheniffer vencendo Luciana aos 41 minutos do primeiro tempo.

A entrada de Gabi Portilho no lugar de Jaque Ribeiro ainda no primeiro tempo deu a consistência que Arthur Elias tanto pedia da sua equipe. Principalmente no lado direito de ataque, onde Barrinha e Day Silva já apresentavam certa dificuldade na marcação. Na segunda etapa, o Corinthians voltou ainda mais agressivo na pressão na saída de bola e conseguiu a virada justamente com essa marcação alta. Com Millene partindo pela direita (depois de roubar a bola de Barrinha), Gabi Portilho dividindo a atenção da zaga e Jheniffer abrindo o campo mais pela esquerda, Tamires encontrou espaço suficiente para se lançar entre Géssica e Day Silva para fazer o gol da virada das Brabas.

O Corinthians ainda teve pelo menos mais duas grandes chances de ampliar a vantagem na Neo Química Arena, mas a goleia Luciana mostrou porque foi a grande injustiçada na lista final da Copa do Mundo com pelo menos duas grandes defesas. No final das contas, a Ferroviária se segurou o quanto pôde apesar de criar problemas sérios para Arthur Elias e suas comandadas nas duas partidas da grande final. O pentacampeonato nacional não coroa apenas mais uma grande campanha da equipe no Brasileirão. Foram 21 jogos ao todo, com 17 vitórias, dois empates e apenas duas derrotas, com impressionantes 66 gols marcados e doze sofridos. Título mais do que merecido para quem jogou mais futebol.
Por fim, a conquista do quinto Brasileirão Feminino (sendo a quarta conquista seguida) também marca o “início da despedida” de Arthur Elias. Não deixa de ser também um momento de mais emoção para todos aqueles que aprenderam a admirar esse time e o trabalho feito pelo agora novo treinador da Seleção Feminina. E diante de tudo que eu e você já vimos, é bem possível que o Corinthians escreve mais uma belíssima página dessa história no mês de outubro na disputa da Libertadores Feminina.

