Home Futebol Demissão de Diego Aguirre depois de apenas cinco jogos resume bem o que é o Santos hoje em dia

Demissão de Diego Aguirre depois de apenas cinco jogos resume bem o que é o Santos hoje em dia

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a derrota para o Cruzeiro e a fase terrível do Peixe nessa temporada

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Responda com toda sinceridade: você acha mesmo que é possível avaliar o trabalho de um treinador com apenas cinco partidas no comando de uma equipe? A diretoria do Santos acha que sim e optou pela demissão de Diego Aguirre do comando técnico da equipe na última sexta-feira (15). É mais uma decisão bastante questionável diante do que tem se observado durante toda a temporada. O Peixe foi eliminado nas oitavas de final da Copa do Brasil e na fase de grupos da Copa Sul-Americana e do Paulistão e agora trava uma árdua luta contra o rebaixamento no Brasileirão. Difícil afirmar que Diego Aguirre é o único responsável pela fase ruim diante de todo o contexto.

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Esta análise aqui no TORCEDORES não é uma defesa do trabalho do agora ex-treinador do Santos. Muito longe disso. Até porque o treinador uruguaio também tomou decisões (no mínimo) questionáveis no curto período em que comandou o time (como veremos a seguir). O que se quer aqui é entender como o clube se enfiou num buraco tão grande por conta das decisões ainda mais questionáveis dos seus dirigentes. Lembrem-se de que o Santos vai em busca do quarto treinador apenas em 2023. Antes de Aguirre, Paulo Turra e Odair Hellmann passaram pela Vila Belmiro.

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Esse é o ponto central dessa análise. Se a diretoria santista opta pela demissão de um treinador depois de cinco jogos, é porque a escolha pela contratação deste profissional não foi a acertada. Por outro lado, esse mesmo grupo de dirigentes mostra que não tem a menor ideia do que vem fazendo à frente do clube e, por conseguinte, não tem os melhores critérios para decidir se Diego Aguirre ou qualquer outro treinador deve ser demitido ou não. Parece um daqueles paradoxos matemáticos misturados com filosofia, mas eu garanto que o buraco é bem mais profundo.

Fato é que o Santos vem colecionando atuações ruins e decisões confusas de quem está no comando. E por mais que se entenda que o contexto influencia demais no trabalho feito à beira do gramado, é possível sim questionar algumas decisões de Diego Aguirre. Na derrota para o Cruzeiro, por exemplo, o uruguaio apostou num 4-2-3-1 que tinha Jean Lucas mais próximo de Marcos Leonardo e Júnior Caiçara jogando como lateral-direito. Com Lucas Lima no banco de reservas (talvez o único jogador do elenco com alguma capacidade de criar jogadas), o Peixe não fez nada além de esperar o adversário chegar no seu campo para aproveitar as bolas esticadas para o ataque. Muito pouco.

Contra o Cruzeiro, Diego Aguirre apostou no seu costumeiro 4-2-3-1 com Jean Lucas mais adiantado e Júnior Caiçara na lateral-direita. Não deu certo. Foto: Reprodução / Premiere
Contra o Cruzeiro, Diego Aguirre apostou no seu costumeiro 4-2-3-1 com Jean Lucas mais adiantado e Júnior Caiçara na lateral-direita. Não deu certo. Foto: Reprodução / Premiere

Se o Santos sofria com seu sistema defensivo mal posicionado, as coisas também não iam nada bem no ataque. A impressão que fica (e não é de hoje) é a de que o time depende demais do futebol de Marcos Leonardo e do lampejo de jogadores como Soteldo, Lucas Lima e Mendoza (só para citar alguns). Mas é o camisa nove quem mais sofre com a falta de criação no meio-campo do Peixe. Não são poucas as vezes em que a jovem promessa santista se vê obrigada a descer para armar o jogo e levar a equipe para o ataque. Some isso aos espaços generosos entre os setores e a falta de organização ofensiva e teremos o combo perfeito para uma derrota acachapante (e justa) dentro da Vila Belmiro.

Sem ter que faça a bola chegar na frente, Marcos Leonardo se via obrigado a descer até o meio-campo para organizar as jogadas de ataque no Santos. Foto: Reprodução / Premiere
Sem ter que faça a bola chegar na frente, Marcos Leonardo se via obrigado a descer até o meio-campo para organizar as jogadas de ataque no Santos. Foto: Reprodução / Premiere

No dia seguinte aos três a zero sofridos contra o Cruzeiro, a diretoria optou pela saída de Diego Aguirre depois de apenas cinco partidas. Sim, podemos dizer que várias decisões do treinador uruguaio foram questionáveis e equivocadas. Mas a grande dúvida deste que escreve é o critério nas demissões de treinadores no Peixe desde o início da gestão Andres Rueda. Desde que o mandatário assumiu o clube em janeiro de 2021, as trocas no comando técnico do time levam DEZENOVE DIAS EM MÉDIA. E falando especificamente de 2023, a demissão de Odair Hellmann se transformou no grande equívoco da gestão Rueda. E os números do Peixe após a saída de Hellmann comprovam essa tese.

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Conforme mencionado anteriormente, a diretoria santista prova a cada dia não ter a menor capacidade, conhecimento ou nervos para fazer a melhor escolha para a equipe. Não há critérios claros na escolha de quem chega e nem na opção pela saída desse ou daquele profissional do clube e esse cenário mostra muito bem o que o se passa com o Santos hoje em dia. Na prática, falta competência e várias doses de bom senso. Este que escreve vê bons nomes no elenco do Peixe e qualidade suficiente para tirar a equipe dessa situação. O grande problema está no comando, em quem decide as coisas. As campanhas do Santos nas principais competições nacionais e internacionais fala por si só.

Demitir um treinador (seja Diego Aguirre, Paulo Turra ou quem quer que seja) com menos de dez partidas é a prova definitiva de que as escolhas não foram as melhores. Mas qual é o critério para se avaliar um trabalho com tão pouco tempo? É complicado demais. Tudo é baseado no “achismo” e influenciado pela “corneta” de conselheiros e todo tipo de aproveitador. E quem sofre é o torcedor santista que vê o clube afundar como nunca afundou antes. A cada dia que passa, a situação fica mais difícil e a impressão é a de que não há salvação.