De fato, Ferroviária e Corinthians fizeram um jogo morno nesta quinta-feira (7). Não é exagero nenhum afirmar que as quase dez mil pessoas presentes na simpática Fonte Luminosa, em Araraquara, se depararam com duas equipe que se arriscaram pouco durante os noventa e poucos minutos do “primeiro round” da decisão do Brasileirão Feminino. O contexto ajuda a explicar um pouco a postura cautelosa ao extremo por parte das equipes comandadas por Jéssica de Lima e Arthur Elias (agora também treinador da Seleção Feminina). Acabou que a emoção ficou reservada para o jogo de volta, marcado para o próximo domingo (10) na Neo Química Arena, em São Paulo.
Não foi uma partida marcada pelo grande número de chances de gol, é verdade. E isso pode ser explicado (em parte) pelas escolhas dos treinadores para a partida desta quinta-feira (7). Do lado da Ferroviária, Jéssica de Lima apostou num 5-4-1/3-4-2-1 com Day Silva, Luana Sartório e Géssica formando um trio de zagueiras e liberando Mônica Bittencourt e Barrinha para o apoio ao ataque. Já Arthur Elias mantinha seu estilo mais ofensivo com Duda Sampaio atuando como única volante no 4-3-3 inicial no Corinthians. Se Laryh se movimentava bastante pelos lados das Guerreiras Grenás, Jheniffer fazia mais um pivô e segurava a bola para a chegada das companheiras de equipe.

Era mais do que natural que as Brabas fossem tomar a inciativa do jogo desde o começo. Jéssica de Lima sabia bem disso e tratou de montar sua equipe de modo a explorar o espaço às costas do seu forte adversário. Sem muito espaço para tabelar e trocar passes no meio-campo, não restou outra alternativa ao time comandado por Arthur Elias senão explorar as bolas longas para Jaque Ribeiro, Gabi Portilho, Belinha e Jheniffer mais à frente. Com muita marcação e pouquíssimo espaço para criatividade, acabou que o jogo ficou mais limitado aos lançamentos e aos toques para o lado. Nesse ponto, a Ferroviária conseguia incomodar um pouco mais no primeiro tempo.

A estratégia de Jéssica de Lima funcionava apenas num primeiro momento. A Ferroviária conseguia travar as jogadas do Corinthians na frente da área e as alas Mônica e Barrinha fechavam bem os lados do campo. Além disso, Katiuscia e Belinha encontravam dificuldades para chegar até a linha de fundo por terem que ficar de olho nas descidas de Eudimilla, Suzane e companhia às suas costas. Por outro lado, as Guerreiras Grenás também encontravam dificuldades para levar a bola até o campo ofensivo. Mesmo quando Raquel Domingues e Mylena Carioca conseguiam superar os duelos no meio-campo. Faltava perna no ataque e as tomadas de decisão não eram tão boas assim.

O segundo tempo nos mostrou um Corinthians um pouco mais presente e incisivo no ataque do que nos primeiros quarenta e cinco minutos. Vale lembrar também que as entradas de Diany, Paulinha e Fernandinha deram um pouco mais de equilíbrio ao time na defesa e ajudaram a povoar mais o meio-campo (problema facilmente perceptível no início da partida em Araraquara). No entanto, faltou um pouco mais capricho nas finalizações e também um pouco de sorte no lance de impedimento de Gabi Portilho antes de Jheniffer balançar as redes. De fato, diante do que se viu na Fonte Luminosa, o primeiro jogo da final do Brasileirão Feminino não poderia ter outro resultado senão o empate sem gols.

O duelo tático entre Jéssica de Lima e Arthur Elias ainda nos reserva mais um capítulo no próximo domingo (10). Não é errado afirmar que a técnica das Guerreiras Grenás conseguiu encontrar o ponto fraco do Corinthians (que são as bolas lançadas às costas da última linha). Só que a organização que sobrou na defesa (com destaque para a atuação gigante de Luana Sartório na proteção da área da goleira Luciana) não apareceu quando o time tinha a posse da bola. Já pelo lado das Brabas, apesar da postura e da escalação mais ofensiva, faltou também um pouco mais de paciência para rodar a bola e encontrar os espaços na linha de cinco montada pela Ferroviária.
Resumindo toda essa história, o confronto está completamente aberto para a partida de volta da grande final do Brasileirão Feminino. Difícil não ver uma certa vantagem para o Corinthians pelo simples fato de jogar em casa e de poder contar com outras jogadoras que não entraram em campo nesta quinta-feira (7). E a certeza que fica é a de que o excesso de cautela que vimos na Fonte Luminosa não deve se fazer presente na Neo Química Arena. Não com os mais de quarenta mil torcedores que devem tomar conta do estádio em mais uma demonstração clara de amor ao futebol feminino.

