Os encontros têm um papel muito importante na vida do gremista Guilherme Alf, 41 anos, escritor, palestrante e, agora, empresário do ramo de entretenimento infantil. Do encontro com a sua esposa Fernanda, irmã e manager do zagueiro Léo Ortiz, do Bragantino — cria do Internacional, diga-se — nasceu a pequena Nina, hoje com três anos.
Já do encontro entre futebol e música, ambos objetos de uma experiência de mais de 20 anos de Alf na área de relações públicas, nasceu o projeto “Turma da Bola”, desenho infantil sobre o esporte mais popular do planeta.
Em menos de dois anos, o “Turma” acumulou mais de nove milhões de visualizações só no YouTube, sem contar Instagram, TikTok e Spotify.
Para além das métricas, o produto — definido como “transmidiático” por Guilherme — mostra um impacto expressivo também a partir das parcerias que teve mesmo em pouco tempo de vida, ainda que os contatos profissionais do criador certamente tenham ajudado.
Entre os boleiros, o apresentador Denílson, da Band, e o ex-jogador Jackson Follman se destacam nas participações; entre os músicos, o cantor Michel Teló é que mais traz prestígio para a turma.
Engraçado que foi também um encontro que originou a ideia da “Turma da Bola”. “Um dia eu conheci o Igor Faria, que é o CEO do ‘Patati Patatá’ (dupla de palhaços de sucesso estrondoso no público infantil), conheci ele num rolê aleatório”, lembra Guilherme Alf, em entrevista exclusiva ao Torcedores.com.
“A gente ficou brother, cara, e um dia fomos almoçar. Ele me contou a história do Patati Patatá, e eu fiquei encantado com essa história, isso foi em 2018. Eu fui embora do almoço e fiquei me perguntando porque tinha desenho de palhaço, desenho de animais, desenho de tudo, e não tinha um desenho de futebol no Brasil, no país do futebol”, completa.
A ideia ficou matutando por um tempo na cabeça de Guilherme, até ser eventualmente reforçada pelo nascimento de sua filha, Nina.
“Minha filha nasceu em 2020. E pelo fato do meu cunhado jogar, e a minha esposa é manager da carreira do meu cunhado, então aqui em casa a gente respira futebol 24 horas”, explica, antes de mostrar as “credenciais” boleiras da família e, principalmente, da filha.
“Com um ano de idade ela estava no Brasil x Argentina na final da Copa América, no Maracanã. Depois, em 2021, a gente foi na final da Sul-Americana, que o Braga jogou a final. Então a gente frequenta estádio com ela desde muito cedo. E isso também fez a coisa aflorar na minha cabeça, sabe? Tipo, pô, e aí eu não tenho um desenho de futebol para mostrar para ela, sabe?”, relembra o RP, que também começou nas arquibancadas desde muito cedo.
Em 2022, ano de Copa do Mundo, os anseios de Guilherme foram enfim realizados e o “Turma da Bola” foi criado, já com uma série de 22 clipes animados que combinam futebol e música, mas num encontro mais amplo de temas como saúde, diversidade e, claro, cultura brasileira.
“No fim das contas é tudo sobre identificação”
Para um jornalista sem filhos e portanto sem a capacidade crítica sobre o conteúdo infantil, seja na parte pedagógica ou do entretenimento, as animações da “Turma da Bola” chamam atenção pela riqueza cultural.
A começar com os personagens, que representam, de um lado, arquétipos clássicos do futebol brasileiro, seja ele profissional ou não — como a “Dedê Defesa”, zagueira que é uma líder serena e que sabe sair jogando —, e de outro, pessoas reais da sociedade brasileira, mesmo que fora do padrão “boleiro” — como o “Gogo Goleiro”, goleiro geek e PCD (Pessoa Com Deficiência).
Além da identidade da Turma da Bola, o que a cerca também conversa com a realidade e a cultura brasileira, seja ela futebolística ou não. Um personagem, por exemplo, ensina a pedalar em um vídeo, e em outro procura um par para dançar na festa de São João.
Em um outro episódio, canta-se por um prato colorido para a criançada, e com várias versões de refeições bem brasileiras: arroz e feijão, ovo frito e um frango assado, baião de dois com direito a queijo coalho e tudo, entre outros.
Toda essa construção cultural, claro,foi pensada por Guilherme Alf na hora de idealizar o projeto. “A gente na Turma da Bola tem essa oportunidade de criar ambientes ali, brasileiros, e que cada criança que gosta de futebol se identifique, né?”, comenta o empolgado criador, não sem antes reforçar o peso da identidade para o projeto.
“No fim das contas, acho que tudo é sobre identificação. As coisas da Disney, por exemplo, são incríveis. Eu sou muito fã. Ontem fui num show da Disney com minha filha. Mas é difícil a Nina olhar uma coisa da Disney e falar isso aqui eu me identifico”, completa.
“A gente está tentando botar luz naquilo que é bom do futebol”
As menções de Guilherme à sua filha Nina acontecem naturalmente durante a entrevista. Afinal, a pequena cumpre um papel duplo no projeto, a de musa e de público alvo.
Além de ser a inspiradora da personagem “Cacá Caneta” — a “nossa camisa 10”—, Nina lembra ao pai dos valores dentro do futebol que o projeto almeja inspirar. Até porque, apesar de todos os encontros culturais, temáticos e midiáticos, estamos falando da Turma da Bola.
Nesse ponto, Guilherme se permite ser mais sonhador, diferente da precisão da representatividade do audiovisual e da assertividade de um produto de mídias sociais.
Aqui, o pai da Nina quer mesmo é deixar um legado para a filha, reforçando os pontos positivos da cultura futebolística. No caso, levantar uma bandeira de um esporte que vai além do clubismo cego, da violência, da sua parte mais tóxica, enfim.
“É meio utópico, mas cara, eu acho que tem uma chance de a gente contribuir aqui para um futebol mais saudável. Porque talvez a Nina vai crescer não ouvindo que quem torce para o outro time é malvado e tem que se dar mal. Ela vai talvez crescer ouvindo coisas legais. Talvez ela tenha uma outra cabeça de futebol. Acho que a gente está tentando botar luz naquilo que é bom do futebol”, declara o sonhador Guilherme Alf.
Imbuído de sua visão otimista, quase missionária sobre o futebol, Guilherme quer levar a Turma da Bola para outros lugares. Planeja livros, bonecos, presença em mídias mais tradicionais e até em outros segmentos do entretenimento — sem, claro, esquecer do carro chefe, com uma enxurrada de novos formatos de vídeos para divertir e educar a molecada que começa a se apaixonar pelo futebol.

