Jogadores do Vasco da Gama comemoram gol sobre o Fluminense. Foto: Ruano Carneiro/Alamy Live News
A investigação sobre a criação da SAF do Vasco da Gama e a venda de 70% das ações para a 777 Partners teve mais um capítulo nesta semana. Um relatório apontou pagamentos suspeitos, distorções contábeis e suposta manipulação de informações para acelerar a negociação.
O documento indiciou 21 pessoas, entre ex-dirigentes e conselheiros. Além disso, recomendou punições que podem incluir a exclusão do quadro social. Os acusados terão 15 dias úteis para apresentar defesa antes da elaboração do parecer final.
Pagamento de R$ 775 mil sem comprovação
Entre as acusações mais graves está o pagamento de R$ 775.833,34 à empresa MJ Capital LTDA, de Blumenau. A comissão afirma que não há provas de que o serviço foi prestado. Segundo o relatório, a empresa foi criada apenas 34 dias antes da assinatura do contrato e encerrada sete meses depois.
O pagamento foi feito sob o título de “Instrumento Particular de Acordo Preventivo de Litígio”. A comissão considerou o ato injustificável. “Todos os que aprovaram ou não contestaram essa operação praticaram ato atentatório contra o Vasco, passível de responsabilização civil e criminal”, diz o texto.
Balanço contábil forjado e dívida oculta
Outro ponto central da investigação é o suposto “maquiamento” do balanço financeiro do clube antes da criação da SAF. Um ex-funcionário relatou que o então vice-presidente de Finanças, Adriano Mendes, teria manipulado planilhas no Excel para reduzir artificialmente o valor das dívidas apresentadas ao Conselho Deliberativo.
A comissão aponta que mais de R$ 200 milhões em passivos foram omitidos do relatório oficial, o que teria distorcido a real situação financeira do Vasco. “A venda da SAF, divulgada como solução financeira, deixou escondida uma dívida dissimulada e colocou o clube em situação de insolvência”, afirmou o documento.
Núcleo decisório e possível conflito de interesses
O relatório identificou um grupo central, chamado de “Núcleo Central Decisório”, responsável por conduzir todas as etapas da negociação com a 777 Partners. Entre os integrantes estavam o ex-presidente Jorge Salgado, os ex-vices Carlos Osório, Roberto Duque Estrada, Adriano Mendes, Zeca Bulhões e Carlos Fonseca, além de Luiz Mello, ex-CEO do Vasco e, posteriormente, da própria SAF.
A comissão destacou um possível conflito de interesses envolvendo Luiz Mello, que participou das negociações como representante do clube e, logo depois, assumiu o cargo de diretor executivo da empresa compradora. “É um caso claro de parcialidade e negligência. Ele negociou pelo Vasco e, em seguida, passou a representar os interesses da 777”, afirma o texto.
Empresa misteriosa e sócios ocultos
Os conselheiros também questionaram a diferença entre as empresas envolvidas. Segundo o relatório, o contrato foi firmado com a 777 Carioca LLC, e não com a 777 Partners, nome divulgado à época. O grupo de investigação afirmou não ter encontrado informações claras sobre a origem e estrutura da subsidiária, que seria uma “empresa de fachada”.
Um organograma anexado ao documento mostra a presença de dois sócios ocultos vinculados à 777, o que viola o estatuto do clube e as regras de transparência exigidas em operações dessa magnitude.

