Estádio do Atlético Mineiro. Foto: Gilson Lobo/AGIF (via AP)
A Polícia Federal prendeu Daniel Vorcaro, dono do Banco Master e um dos acionistas da SAF do Atlético-MG, na noite de segunda-feira em Guarulhos. O empresário tentava deixar o Brasil em um avião particular quando foi abordado pelos agentes. Logo após a prisão, ele foi levado para a Superintendência da PF em São Paulo, onde permanece à disposição das autoridades.
Investimentos de Vorcaro na SAF atleticana entram no radar
O Ministério Público de São Paulo investiga a origem dos recursos usados por Vorcaro para adquirir 20,2% da SAF do Atlético-MG. O inquérito é um desdobramento da Operação Carbono Oculto, que apura lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio ligados ao Primeiro Comando da Capital. Entre 2023 e 2024, o empresário investiu cerca de R$ 300 milhões no clube por meio do fundo Galo Forte FIP. O MP suspeita que parte do valor tenha circulado por fundos utilizados para mascarar recursos de origem criminosa.
O modelo societário do clube está dividido da seguinte forma: a associação detém 25% da SAF, enquanto a Galo Holding concentra 75%. Dentro dessa composição, Rubens e Rafael Menin somam 41,8% das ações; o Galo Forte FIP, ligado a Vorcaro, possui 20,2%; Ricardo Guimarães tem 6,3%; e o FIGA responde por 6,7%. Mesmo preso, o empresário mantém sua participação societária até que as investigações e eventuais decisões judiciais avancem.
Como isso afeta o Atlético-MG
Mesmo com a gravidade das investigações, especialistas em direito esportivo afirmam que o Atlético não corre risco de punição desportiva. A legislação não prevê rebaixamento ou perda de pontos por irregularidades financeiras cometidas por investidores. A responsabilidade recai sobre o acionista, não sobre o clube, desde que não haja participação direta ou conivência da instituição. O Atlético, em nota anterior, afirmou não ter conhecimento de qualquer irregularidade envolvendo o fundo.
A Lei da SAF foi criada para separar a gestão do clube social da empresa responsável pelo futebol profissional. Isso significa que eventuais irregularidades pessoais de acionistas não atingem automaticamente a instituição esportiva. A SAF possui contabilidade própria, auditorias obrigatórias e é fiscalizada pela CVM, que exige transparência sobre a origem dos recursos e identificação dos beneficiários finais. O objetivo é blindar o futebol de escândalos financeiros que não envolvam diretamente a operação do clube.
Entenda o motivo da operação e das acusações
A operação que levou à prisão faz parte da investigação sobre a venda de títulos de crédito falsos. Segundo a PF, a instituição emitia CDBs com promessa de rendimento até 40% acima da taxa básica do mercado, algo que não se confirmava na prática. As autoridades afirmam que esses papéis eram oferecidos ao público mesmo sem lastro real. A ação integra a Operação Compliance Zero, deflagrada para combater crimes cometidos por instituições financeiras do Sistema Financeiro Nacional.
Além da crise do Banco Master, Vorcaro já era investigado por suposta ligação indireta com lavagem de dinheiro conduzida por fundos interligados. Segundo o MP-SP, esses veículos financeiros ocultavam cotistas e permitiam reinserção de recursos de origem ilícita no sistema financeiro. Parte desses fundos teria alimentado o Galo Forte FIP, responsável pelos aportes na SAF do Atlético. A defesa nega irregularidades, e o clube não é alvo do inquérito, mas o caso segue em andamento e pode gerar novos desdobramentos.

