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Desafios e perspectivas do Esporte durante e após a Covid19

Coronavírus paralisou e adiou principais eventos do mundo esportivo

Aira Bonfim
Colunista do Torcedores.com.
Estádio do MorumBIS

Palmeiras deixou de jogar no MorumBIS - Ricardo Moreira/Getty Images

Como já sabemos, os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio 2020 foram recentemente adiados, fato inédito nos mais de 100 anos do principal evento esportivo do globo terrestre.

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Campeonatos mundiais e locais: adiamentos e cancelamentos

Com a ausência da realização dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos ainda no ano de 2020, parte significativa dos atletas de alto rendimento, do Brasil e do mundo, ficaram sem a sua mais importante certeza: a classificação.

O adiamento por um ano das Olimpíadas e Paralimpíadas, por si só, já gera uma verdadeira dor de cabeça logística, econômica e jurídica (ou enxaqueca para ser bem dramática e realista).

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O calendário esportivo mundial, por anos, segue uma sequência de combinações de eventos co-dependentes em si. Em outras palavras: não só foi adiado o maior evento do planeta, mas também, a maior parte dos caminhos para se chegar até ele, os campeonatos mundiais e regionais classificatórios.

Nesse contexto, planejar Tóquio de 2021 é também projetar como cada atleta, país, confederação e federação darão conta de alinhar todos os prazos e compromissos em meio há um cenário global de incertezas motivados pela pandemia do Covide 19.

A segurança de toda a cadeia de atores esportivos (públicos, equipes técnicas e atletas), de acordo com algumas entidades, tem sido o foco central das discussões. No entanto, as incógnitas em relação ao contágio e cura sobre esse vírus, são hoje o maior desafio para a criação dos primeiros planos de protocolos de segurança para o meio esportivo.

No Brasil, reuniões já amplificaram o desejo dos clubes de futebol retornarem as atividades dos jogadores dentro de campo, com transmissões e arquibancadas esvaziadas. Mas o que será que outros especialistas tem discutido?

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Um passo para profissionalização?

As reflexões aqui compartilhadas fizeram parte do evento virtual produzido pela FGV Projetos chamado Webinar: Desafios e Perspectivas do Esporte após a Pandemia do Covid-19.

Para a atividade, no centro do debate, foram convidados Andrew Parsons, Presidente do Comitê Paralímpico Internacional,  Marcus Vinícius Freire, empresário do Setor do Esporte e Ex-Diretor do Comitê Olímpico Brasileiro e Sergio Barbosa Domenici, CEO da Liga Nacional de Basquete. Na mediação, José Eduardo Quintella, Gerente Executivo da FGV Projetos e Ricardo Leyser Gonçalves Consultor da FGV Projetos e Ex-Ministro do Esporte.

A FGV Projetos, promotora do encontro, é a unidade responsável pela geração e aplicação do conhecimento técnico e acadêmico, produzido internamente e acumulado nas escolas e institutos que integram a Fundação Getulio Vargas. Em um cenário em que a maioria dos setores tem buscado a criação de comitês científicos e técnicos para o planejamento dos passos e soluções futuras, iniciativas como a da FGV me pareceram muito caras para o setor esportivo brasileiro.

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Vale lembrar, que para além das proposições da reorganização de um campeonato mundial como os Jogos Olímpicos, que sempre levou em conta lemas que propagavam o incentivo da prática esportiva entre as pessoas comuns, o encontro virtual trouxe para o debate a importância de não se perder de vista a ideia de Esporte também como uma setor produtivo, responsável por uma gigantesca cadeia como qualquer outro setor de mercado.

Ainda sob essa perspectiva, o desejo de melhor “profissionalizar” o cenário esportivo, qualificando as relações entre compromissos e contrapartidas dessa cadeia, foi unânime entre os convidados da FGV.

Recursos públicos emergenciais já vem sendo debatidos para alguns grupos e trabalhadores desta cena. Por essa razão, na opinião de Marcus Freire, a pandemia é inclusive uma oportunidade de melhoria das gestões esportivas presentes em todo território, considerando, por exemplo, a reestruturação de estatutos, mandatos, planejamento de recursos e o incentivo à qualificação da formação dos próprios atletas.

As considerações sobre a utilização de recursos tecnológicos como games no auxílio do treino dos atletas e outras formas de transmissão online dos jogos também foram colocadas na roda.

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Outros caminhos: formação política e a criação de protocolos

A troca no comando do Ministério da Cidadania em 2020, de Osmar Terra (MDB-RS) para Onyx Lorenzoni (DEM-RS), trouxe o jornalista Marcello Magalhães, conhecido como Marcello Negrão, para chefiar a Secretaria Especial do Esporte. Vale recordar que ele é o terceiro secretário de Esporte do governo Jair Bolsonaro (sem partido) em pouco mais de 400 dias de gestão em uma área que em outras épocas já teve status de ministério.

O exercício de resgate deste contexto atual nos ajuda a compreender a falta de familiaridade e articulação entre o governo e as instituições esportivas brasileiras e seus atores. Para os convidados do debate, as frentes institucionais (Confederações e Federações), com muita dificuldade, e com o relógio correndo, ainda buscam diálogos urgentes e necessários com as instâncias políticas.

O cenário de pouca formação política dos atletas e pós atletas contribui com a falta de lideranças esportivas com visibilidade e atuantes no meio político e midiático. Com a chegada da pandemia ao país, as circunstâncias se agravam e geram ainda mais prejuízos ao ambiente dos investimentos/financiamentos e a condução de pautas e consensos sobre diretrizes básicas a serem adotadas no campo esportivo em relação ao vírus. Olha-se para os clubes de futebol no exterior, para o COI, COB, Japão, atletas e qualquer outros exemplos palpáveis, e ao mesmo tempo não tão seguros ou condizentes com as realidades de cada nação.

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As iniciativas dos comitês de trabalho em cada modalidade, técnicos e científicos, propostos neste momento de pandemia, tem se sobrecarregado com a reorganização contratual de uma cadeia gigantesca de compromissos comerciais dos patrocinadores, relacionamentos jurídicos e a necessidades urgente de se começar a pensar em procedimentos sanitários para a manutenção da cena esportiva, os chamados protocolos.

Protocolo é uma convenção de caminhos. Orientações aos profissionais de setores específicos. Visa, entre tantas coisas, agilizar os fluxos de informações e procedimentos aos profissionais.

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O encerramento do campeonato masculino de basquete: um exemplo de plano de protocolo

Enquanto alguns campeonatos nacionais iniciados nos primeiros meses de 2020 foram precocemente encerrados em função do covide 19, outras competições, ainda sem campeões definidos, foram apenas interrompidas com a expectativa de retornarem após a passagem da fase mais crítica do vírus no território brasileiro.

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Esse foi o caso do campeonato masculino do basquete brasileiro.

De acordo com Sergio Barbosa Domenici, CEO da Liga Nacional de Basquete, essa semana que se encera conta com o compartilhamento do plano de protocolo proposto pela Liga para os clubes nacionais de basquete que estavam em competição apreciarem e decidirem se adotam ou não.

O protocolo foi proposto por um comitê eclético composto por médicos, treinadores e preparadores físicos envolvidos com o basquete no Brasil. Compartilho abaixo alguns highlights do plano debatidos no encontro online de 29/04 na FGV para nos ajudar a compreender a complexidade de um protocolo esportivo em tempos de covide 19:

  • a ideia inicial do comitê é encerrar o campeonato no final de julho, como antes programado, e para tanto, precisa de um mês de treinamento para os atletas e equipes, antes dos recomeçarem. Esse fato compreende o início dos treinos já em início de junho de 2020.
  • o plano de encerramento do campeonato, ao invés de ocupar diferentes cidades, aconteceria exclusivamente em São Paulo, onde a maioria das equipes finalistas residem com exceção de uma, que se deslocaria do estado da Paraíba para São Paulo (menos deslocamentos e menos aeroportos).
  • todo o grupo reunido de atletas, como de suas comissões, ficaria segregado em um hotel com estrutura para locais de treinos, academia e alojamentos individual de todas as pessoas envolvidas.
  • na primeira semana de treinamento, os atletas treinariam isoladamente, principalmente na academia, e condicionados a um teste de Covide19.
  • na segunda semana os treinos dos atletas seriam em coletivo, e mais um teste para Covide 19 seria feito em todo mundo.
  • o comportamento do grupo dentro do hotel seria submetido a sérias condições de restrições sociais e isolamento físico: áreas de treinos, academias, restaurante e banhos.
  • higienização redobrada e adaptadas às instalações físicas do local como dos equipamentos esportivos (passar álcool na bola de basquete, para citar um exemplo).

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Além de todo esse plano recalibrado, que aqui serve de exemplo para outras instituições, coletivos e qualquer pessoa que relaciona-se com o esporte, vale relembrar que essa opção vem também com custos operacionais e logísticos extras.

A Liga, de acordo com o depoimento de Sergio, absorveu o pagamento dos salários dos árbitros de basquete até o mês de julho de 2020, data original da finalização do campeonato nacional. Esse pagamento foi calculado a partir da média de horas praticadas por esses profissionais e vale ressaltar que esses mesmos trabalhadores dedicam-se exclusivamente à esses campeonatos e dificilmente apresentam outras fontes de recursos financeiros.

Os desafios estão postos.

Os cenários continuam incertos e inseguros

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Destaco a validade e pertinência do debate idealizado pela FGV Projetos e a necessidade de que toda a rede esportiva amplifique e qualifique esse tipo de discussão em território nacional.

#fiqueemcasa

Me despeço aqui da coluna no Torcedores.com. Seguimos pesquisando por ai.

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PARA LER MAIS:

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