Literalmente em casa, Pace e Fittipaldi, naturais de São Paulo, fizeram a festa dos brasileiros presentes no aútodromo
Largando muito bem e contando com o abandono de Jean-Pierre Jarier, dono do carro mais veloz do início da temporada, Pace ampliou a hegemonia nacional em casa. Em três corridas, três triunfos brasileiros. Fittipaldi, segundo desta vez, foi o vencedor em 1973 e 1974.
Esta vitória em Interlagos foi primeira e única do piloto na Formula 1. “Moco”, como era conhecido, faleceu precocemente aos 32 anos, em 1977. Devido à uma forte tempestade, o avião monomotor em que viajava sofreu uma queda na Serra Cantareira, município de Mairiporã, região metropolitana de São Paulo.
Como forma de homenageá-lo, o autódromo foi rebatizado com seu nome em 1985.
FORMAÇÃO DO GRID
Antes de toda a empolgação pela maior resultado de sua carreira, Pace passou por um fato inusitado nos bastidores. Logo na sexta-feira, primeiro dia dos treinos oficiais, foi barrado na entrada sob alegação de que sua credencial não dava acesso ao autódromo. Depois de muita insistência e confusão, finalmente foi liberado à tempo de participar das atividades na pista.
Para o final de semana, Emerson Fittipaldi era considerado o favorito. Além de vencer as duas edições iniciais, conquistara em 1974 seu segundo título mundial de Fórmula 1. Para reforçar a condição, também havia recebido a bandeirada em primeiro na estreia da temporada de 1975, na Argentina.
Contudo, Jean-Pierre Jarier esfriou o calor da torcida e as previsões iniciais de domínio do brasileiro. O piloto francês da Shadow novamente impressionou a categoria ao cravar a pole pela segunda vez em duas corridas no ano. E ainda bateu o recorde do circuito com o tempo de 2min29s880. Mesmo Emerson afirmando não levar vantagem como muitos imaginavam, mostrou-se surpreso com o forte desempenho do francês, 0,8 segundos mais rápido que sua McLaren.
Atrás da dupla e de grandes nomes como Carlos Reutemann, Niki Lauda e Clay Regazzoni respectivamente, Pace fez o sexto tempo. Wilsinho Fittipaldi colocou a estreante e única equipe de construtores brasileiras a participar da Fórmula 1, a Copersucar, no 21º lugar e terminou a prova no dia seguinte em 13º.
CORRIDA
Expectativa da torcida brasileira para a largada pois, ainda que não tenha feita a pole, os presentes no autódromo ainda acreditavam que o então bicampeão mundial estava no páreo. No entanto, Fittipaldi não largou bem e caiu da segunda para a sétima posição. Reutemann tomou a ponta de Jarier e seu companheiro de Brabham, o brasileiro Pace, pulou da sexta para a terceira posição.
A liderança de Reutemann não durou muito. Logo na quinta volta Jarier o ultrapassou e comandou a prova. O argentino ainda levou o bote de Pace no Retão na 14ª volta, agitando os torcedores naquele setor. Duas voltas depois foi a vez de Fittipaldi iniciar sua reação. Primeiro, contou com o abandono de Jody Scheckter. Niki Lauda foi a próxima vítima, no giro de número 20. Reutemann, após bom início, sofreu para se manter na pista e foi superado na 23ª volta. Na 29ª, Fittipaldi deixou Clay Regazzoni para trás na curva do Sargento e assumiu a terceira posição em uma bela corrida de recuperação.
SHADOW DEIXA JARIER A PÉ E PACE CAMINHA PARA A VITÓRIA
Tudo se encaminhava para a vitória de Jarier em Interlagos, com boa vantagem à frente de Pace, segundo colocado. Entretanto, assim como na estreia da temporada pelo GP da Argentina, sua Shadow novamente acabou com suas esperanças e o deixou a pé após conquistar a pole. Por um problema no sistema de alimentação do combustível, Jarier encostou na curva do Sargento e deu adeus à corrida a sete voltas do fim.
Os brasileiros nas arquibancadas vibraram tal qual um gol ao avistar a cena, pois ali criou-se o melhor roteiro possível: dois pilotos da casa na iminência de vencer a corrida.
Pace herdou a liderança. Apesar das dificuldades com o freio e a aproximação de Fittipaldi, guiou sua Brabham para receber a bandeirada da vitória do Grande Prêmio Brasil de 1973 com seu conterrâneo e bicampeão mundial em segundo, completando o domínio nacional em Interlagos.
A multidão vibrou bastante nas arquibancadas e, posteriormente, tomou a pista. Cercou o carro de Pace, ávidos para ter contato e cumprimenta-lo. Emocionado, Moco desceu de seu monoposto, deitou no chão, chorou e ganhou o carinho de sua esposa e sua mãe. Carregado nos braços até o pódio, abraçou Fittipaldi e comemorou sua única e merecida vitória da carreira.
Oito etapas mais tarde (10ª do calendário) os brasileiros repetiram a dobradinha na Fórmula 1. Desta vez, mudou-se a ordem. Emerson Fittipaldi em primeiro e José Carlos Pace em segundo.
Apesar do ótimo início de ambos, Fittipaldi ficou com o vice no mundial pela segunda vez, enquanto Pace finalizou em sexto. Guiando a Ferrari, o lendário Niki Lauda foi o grande campeão da temporada 1975.
RESULTADO FINAL
1 – José Carlos Pace (Brabham-Ford) / 1:39:26.290
2 – Emerson Fittipaldi (McLaren-Ford) / +5.790s
3 – Jochen Mass (McLaren-Ford) / + 36.660s
4 – Clay Regazzoni (Ferrari) / + 43.280s
5 – Niki Lauda (Ferrari) / +61.880s
6 – James Hunt (Hesketh-Ford) / +65.120s
7 – Mario Andretti (Parnelli-Ford) / + 66.810s
8 – Carlos Reutemann (Brabham-Ford) / + 99.620s
9 – Jacky Ickx (Lotus-Ford) / + 111.840s
10 – John Watson (Surtees-Ford) / + 149.600s
11 – Jacques Lafitte (Williams) / + 1 volta
12 – Graham Hill (Lola-Ford) / + 1 volta
13 – Wilson Fittipaldi Jr. (Copersucar-Ford) / + 1 volta
14 – Rolf Stommelen (Lola-Ford) / + 1 volta
15 – Ronnie Peterson (Lotus-Ford) / + 2 voltas
Abandonaram:
Vittorio Brambilla, Jody Scheckter, Mark Donohue, Mike Wilds, Arturo Merzario, Tom Pryce, Patrick Depailler e Jean Pierre-Jarier.
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