No dia 12 de novembro irá acontecer a etapa final do WEC, com a disputa das 8 horas do Bahrein. E depois de quase 35 anos, após Raul Boesel vencer o antigo Mundial de Protótipos, correspondente ao atual WEC, o Brasil poderá ter um piloto vencendo um campeonato mundial de automobilismo. André Negrão, piloto da Alpine, tem a chance de conseguir o título na prova que será realizado no Oriente Médio.
Em entrevista exclusiva concedida ao Torcedores.com, André Negrão fez um balanço da temporada, projetando a próxima etapa. Além disso, já adiantou uma importante informação sobre a disputa da LMP2 em 2023, uma vez que sua equipe não irá disputar a Hypercar na próxima temporada, justamente para preparar o novo carro para a temporada 2024.
Torcedores.com – Qual a expectativa para a disputa do Bahrein?
Andre Negrão – Chance na última etapa do campeonato, depois de um campeonato excelente, com duas vitórias. Infelizmente Le Mans foi bem complicado para nós devido os problemas técnicos que nós tivemos.
Estamos na reta final ponto a ponto com os Toyotas e aqui estamos. Vamos ver o que vamos fazer nessas oito horas do Bahrein.
Torcedores – Qual o principal desafio da oito horas do Bahrein?
Andre Negrão – O desafio na verdade é sempre a desvantagem para o Toyota por eles serem híbridos, então eles têm um motor a combustão e a bateria e nós não temos essa vantagem. Mas a pista do Bahrein é uma pista quente, mesmo estando no inverno naquela parte do mundo, mas é um lugar quente, que faz 36, 37 graus durante a prova, apesar da prova começar no final da tarde e entrar na parte da noite.
Mas é uma vantagem para nós pelo fato do nosso carro ser um pouco mais leve que o deles. Desenvolvemos nosso pneu novo para 2022 no Bahrein, com dados que foram coletados no final de 2021 para começar o ano com esse novo Michelin que fizeram exatamente para nosso carro.
Tínhamos também uma desvantagem de correr com os pneus da Toyota, que é um carro 4×4. Nós temos um com tração traseira e isso também dificultava na temperatura do pneu dianteiro, a gente não conseguia aquecê-los. Então temos algumas vantagens e outras não.
Vai depender muito da FIA, pelo fato de estarmos em um campeonato que tem a regra do BoP (Balance of Performance). Eles determinam quantos cavalos, quantos quilos a menos cada carro vai ter, para ficar mais o mais parecido possível.
Como ganhamos em Monza, tivemos uma das maiores penalidades. No Japão chegamos em terceiro, então vai ser reduzido. Vamos ver o que vamos conseguir fazer e esperar para essa etapa. Tentar de tudo para ser o mais honesto possível e ter uma batalha justa nessa reta final.
T – A preparação muda para a etapa do Bahrein por conta do peso ou preparação física ou até mesmo ajustes do carro da Alpine?
AN – Eu acabo treinando muito no Brasil. Infelizmente não treinamos com o carro, ele já está no Bahrein, saiu diretamente do Japão via navio. Mas tem diversas jeitos de treinar, eu no caso faço triatlo e inclusive machuquei meu ombro ao cair de bicicleta.
Mas eu e meus companheiros estamos super bem treinados, conhecemos o carro, já estivemos no Bahrein, o mais importante é se hidratar o máximo possível e tentar fazer uma boa prova.
T – Qual sua análise da temporada?
AN – O balanço é excelente. A gente fez um desenvolvimento do carro em 2021 muito grande, com muitos dados, foi um ano de aprendizagem. Não foi um ano que ganhamos nenhuma prova, todas em 3º lugar, sempre atrás das Toyotas. Não tínhamos muito o que fazer, a equipe estava ainda em fase de crescimento, desenvolvimento do carro, softwares novos, pneus novos. Então realmente foi uma escolinha em 2021.
2022 foi quando olhamos um para cara do outro e sabíamos que iríamos com tudo. Tivemos a pole em Sebring e logo depois ganhamos a corrida. Então depois disso tivemos uma série de coisas legais, o 2º lugar em Spa, o 5º em Le Mans, nossa pior corrida do ano, onde tivemos problemas graves no carro, como falhas na embreagem e depois falha do motor durante corrida. Isso nos custou muito tempo e mesmo assim chegamos em quinto e fizemos pontos preciosos para o campeonato.
Monza uma corrida fantástica do começo ao fim. Nem esperávamos ter essa briga com os Toyotas, é uma pista de alta, sabíamos que eles tinham um motor com muito mais vantagem que nós e acabamos ganhando a corrida.
Fuji, na casa dos Toyotas, vindo de uma corrida que nós ganhamos, sabíamos que seríamos penalizados e mesmo assim fizemos um 3º lugar.
Independente do que vai acontecer no Bahrein, óbvio que todo mundo espera a vitória, a vitória no campeonato, tirar esse tempo todo com o Brasil esperando alguém ganhar um campeonato. Mas a gente nunca sabe o que esperar, mas até agora é uma vitória.
Temos um carro muito defasado, de oito anos, antigo para os padrões de hoje. O que fizemos até agora é muito bom.
T – Já caiu a ficha que você pode repetir o feito do Raul Boesel?
AN – Lógico que passa na minha mente, todas as entrevistas que eu dei todos perguntam isso. Eu tento não pensar nisso, acho que acaba criando um cenário na sua cabeça que depois pode não vir. Como todas as provas que fiz, eu vou prova a prova, indiferente do que está acontecendo.
Óbvio que nessa corrida do Bahrein tem uma carga a mais, por estarmos empatado no campeonato, com um carro defasado, com a Alpine há mais de 30 anos sem ganhar no geral, o Brasil por trás. Mas quero fazer meu trabalho o melhor que puder, na classificação, nos treinos da corrida.
Óbvio que se vier, vou ficar feliz de poder carregar a bandeira do Brasil na altura máxima do pódio e poder me consagrar campeão mundial pela Hypercar. Claro que estou torcendo e tem muita gente torcendo para que isso aconteça depois de tantos anos.
Vários pilotos passaram pelo WEC e nenhum brasileiro conseguiu esse feito. E vamos ter essa oportunidade no Bahrein. Mas como falei, nosso carro é totalmente diferente deles e já fizemos um campeonato excelente pelo que temos.
T – Qual a análise da Alpine em relação a temporada?
AN – Não tivemos nada que não deu certo. Tudo que fizemos em 2021 deu certo em 2022. Software, pneu novo, o combustível que não deriva mais do petróleo, mas sim de coisas orgânicas, supercaro mas menos poluente. Muitas coisas que conseguimos melhorar. O BoP, que a FIA que decide, isso interfere muito no jeito de guiar.
Para o ano que vem esse carro sai. É um carro “velho”, de oito anos e infelizmente ele sai e vai para um museu da Alpine. Ano que vem minha equipe vai voltar para a LMP2, descer um degrau, para os mecânicos, toda a equipe não ficarem parados. Junto com o campeonato vai ser feito o novo Hypercar da Alpine
Então do meio do ano que vem até o final de 2023 vão ser feitos todos os testes, desenvolvimentos de software, de elétrica, bateria para o carro de 2024. E com certeza muitas coisas que desenvolvemos em 21, usamos em 22 estão sendo já passados para o novo software do carro de 2024.
Muitas coisas deram certo. Poucas coisas deram errado. Acho que de verdade, das decisões que fizemos, praticamente quase todas deram certo. Óbvio que tivemos alguns problemas que não estavam no controle da equipe, o problema na embreagem, que era nova, totalmente zerada, em Le Mans. O motor infelizmente não é Alpine, é Gibson, que é derivado de um BWM, que é um V8 e nem conseguimos mexer nele.
Esse problema no motor em Le Mans foi realmente um problema externo. Era um motor novo, revisado, tudo novo, todas as bobinas, todos os pistões, zerado. Fizemos todos os treinos com o motor antigo. Um dia antes da corrida trocaram o motor, trocaram o câmbio, fizeram uma revisão geral no carro, mas são coisas que acontecem.
Mas todo o resto deu super certo.
Carreira de André Negrão
Desde 2017 na Alpine, o piloto brasileiro tem marcas importantes no WEC. Ele foi bicampeão de Le Mans na categoria LMP2 em 2018 e em 2019. EM 2018/19 ele conquistou o Campeonato Mundial de Endurance também na categoria LMP2.
Já em 2021 Andre Negrão terminou em 3º no FIA WEC 2021 na categoria principal, a Hypercar. Nesta temporada ele lidera a Hypercar, tendo conseguido os seguintes resultados com a Alpine:
1ª etapa – 1000 Milhas de Sebring: 1º lugar
2ª etapa – Seis Horas de Spa-Francorchamps: 2º lugar
3ª etapa – 24 Horas de Le Mans: 5º lugar
4ª etapa – Seis Horas de Monza: 1º lugar
5ª etapa – Seis Horas de Fuji: 3º lugar
The FIA World Endurance Championship is heading to the Home of Motorsport in the Middle East for the 2022 season finale with the BAPCO 8 Hours of Bahrain schedule on November 12 at 2PM (UTC +3). All the titles are on the line…you can’t miss this!#WEC #8HBahrain pic.twitter.com/zXSf8wVzdA
— FIA World Endurance Championship (@FIAWEC) October 12, 2022

