Home Futebol Derrota para a Cabofriense expõe os muitos problemas coletivos do Vasco de Abel Braga; entenda

Derrota para a Cabofriense expõe os muitos problemas coletivos do Vasco de Abel Braga; entenda

Treinador vascaíno foi xingado após o revés diante da Cabofriense dentro de São Januário nesta sexta-feira (31); Vasco precisa de combinação de resultados para se garantir nas semifinais da Taça Guanabara

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.
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Este que escreve não tem o costume de criticar um trabalho logo na quarta partida de uma equipe na temporada. No entanto, o que se viu do Vasco na derrota por 1 a 0 para uma não mais do que aplicada Cabofriense nesta sexta-feira (31) é realmente preocupante. Mesmo jogando com seus titulares, o time comandado por Abel Braga apresentou problemas sérios em todos os seus setores. Sobrava vontade e faltava um mínimo de organização e jogo coletivo. Tanto que as melhores chances do Vasco na partida saíram muito mais dos lampejos individuais de Gérman Cano, Thales Magno e dos garotos Vinícius e Juninho do que de alguma estratégia elaborada pelo seu treinador. Por mais que essa seja apenas a quarta partida oficial do Gigante da Colina na temporada e considerando também que o tempo é essencial para a montagem de qualquer equipe do mundo, as coisas não estão nada boas lá pelos lados de São Januário. E Abel Braga segue devendo um bom trabalho como treinador.

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Um mês depois de ser anunciado pelo Gigante da Colina, Abel Braga já convivia com os problemas citados aqui mesmo neste espaço no final do ano passado (clique aqui para relembrar). E talvez o mais difícil de ser superado seja a desconfiança com relação ao seu trabalho. Não são poucos os torcedores que o consideram ultrapassado. O grande problema é que as atuações do Vasco nas suas primeiras quatro partidas na temporada ajudaram a reforçar esse discurso. Contra a Cabofriense, eu e você vimos um time espaçado, sem ideias e escalado num 4-2-4 totalmente anacrônico e sem sentido. É bem verdade que Abelão não conta com um jogador que segure a bola e pense o jogo no meio-campo. O lance captado do frame abaixo chega a ser simbólico. Thales Magno recebe a bola na direita e corta para o meio. Os laterais Yago Pikachu e Henrique jogavam alinhados a Gabriel Pec, Marrony e Cano. Mais atrás, os volantes Bruno Gomes e Raul não encostavam e abriam uma verdadeira cratera no meio. Sem opção de passe, o jovem da camisa 11 teve que apelar para a jogada individual.

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Thales Magno recebe na direita e não vê ninguém aparecendo para dar opção de passe no meio-campo. O anacrônico 4-2-4 de Abel Braga abriu espaços enormes entre as suas linhas, isolou os jogadores de ataque e enfraqueceu demais a marcação do Vasco. Foto: Reprodução / Premiere

Também chama a atenção a produção ofensiva da equipe vascaína. O argentino Germán Cano mostrou que tem bom futebol e faro de gol, mas nunca será produtivo se a bola não chegar aos seus pés com qualidade. O camisa 14 é um definidor nato e não um construtor de jogadas. Não é sua características. Nem de Thales Magno, Marrony ou Bruno Gomes. O atleta do elenco do Vasco que mais se aproxima desse papel é Gabriel Pec, mas ele ainda parece muito “verde” para exercer essa função no time titular e também vem sendo prejudicado pelo esquema tático de Abel Braga. Aliás, vale lembrar que a ausência de um construtor de jogadas no meio-campo vascaíno é talvez o principal problema da equipe. Alguém que segure a bola e organize as jogadas de ataque, cadenciando e acelerando nos momentos certos. Esse jogador seria Fredy Guarín, mas o colombiano ainda não acertou a sua renovação com o Gigante da Colina. E o grande número de cruzamentos (24) para a área mostra bem a falta que esse construtor faz no time.

Essa falta de organização no esquema tático do Vasco também acaba prejudicando o sistema defensivo, curiosamente um dos pontos fortes das principais equipes de Abel Braga. Aliás, é preciso dizer que o veterano treinador vem vacilando nesse quesito desde a sua passagem pelo Flamengo. Essa fragilidade vem da falta de compactação e dos enormes espaços entre os setores do 4-2-4 proposto por Abel Braga no Vasco. Não há cobertura eficiente nas laterais, os zagueiros Werley e Leandro Castán (os dois pesados e de pouca mobilidade) ficam expostos e os volantes precisam se desdobrar para corrigir a marcação. Com o time sem criatividade e sem jogadores para manter a bola no campo de ataque, a defesa vascaína se transformou num verdadeiro convite ao contra-ataque adversário. E não é exagero nenhum afirmar que o time poderia até ter levado mais gols da Cabofriense. Bastou um pouco de organização defensiva para que a equipe da região dos Lagos complicasse a vida do Gigante da Colina e escancarasse seus problemas táticos e técnicos.

A falta de organização tática do Vasco foi escancarada na derrota para a Cabofriense. O time foi extremamente prejudicado pelos espaços entre os setores e a falta de coordenação na marcação dos adversários. Acabou que a derrota por 1 a 0 ficou barata para a equipe de São Januário. Foto: Reprodução / Premiere

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A única certeza que o torcedor vascaíno tem depois dessas últimas quatro partidas é a de que seu time do coração corre sérios riscos de ser eliminado precocemente da Copa Sul-Americana se enfrentar o Oriente Petrolero da mesma forma com que encarou a Cabofriense nesta sexta-feira (31). A vaga nas semifinais da Taça Guanabara ficou praticamente impossível, mas esse nem é o problema mais grave. As principais equipes do Brasil também sofrem com o início de temporada, a falta de entrosamento e de preparo físico mais adequado nesses primeiros dias de 2020. No entanto, enquanto essas mesmas equipes vão evoluindo gradativamente, o Vasco segue estacionado sem qualquer previsão de melhora no seu desempenho. E a insatisfação com o trabalho de Abel Braga só cresce. Ao mesmo tempo, algumas as suas declarações infelizes só minam a sua relação com a torcida e com o elenco vascaíno. Some isso ao problema dos salários atrasados e você terá um caldeirão pronto para explodir no próximo resultado ruim que a equipe de São Januário tiver.

Abel Braga merece todo o nosso respeito pelo que fez pelo futebol nessas últimas décadas. E é exatamente por isso que a qualidade dos seus últimos trabalhos preocupam tanto. Os problemas crônicos do Vasco influenciam sim. Mas o trabalho tático precisa melhorar. E pra ontem.

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