Home Esportes Olímpicos Do atletismo ao bobsled, 1º contato com a neve e receio de sua mãe; saiba mais sobre Edson Bindilatti

Do atletismo ao bobsled, 1º contato com a neve e receio de sua mãe; saiba mais sobre Edson Bindilatti

Rumo à sua 5º Olimpíada, o atleta que disputa as categorias 2-Man e 4-Man de bobsled conta histórias de sua carreira e planos para o futuro

Flavio Souza
Formado em Gestão de TI e cursando Jornalismo. Desde 2006 escrevo sobre esportes em geral, ingressando em dezembro de 2018 no site Torcedores.com, onde atualmente exerço função de Colaborador Sênior. Atualmente meu foco é no futebol brasileiro e internacional, mas procuro falar sobre outras modalidades, como esportes olímpicos, por exemplo. Meu foco é trazer informações relevantes sobre os clubes fora de campo, como entrevistas, análises financeiras, desempenho das equipes em redes sociais e análises táticas.

O fato de o Brasil não ter neve não foi um problema para que Edson Bindilatti tivesse uma longa carreira no bobsled. Nascido em Camamu (BA), o atleta de 40 anos está se preparando para disputar a 5ª Olimpíada em sua carreira.

PUBLICIDADE

Você conhece o canal do Torcedores no Youtube? Clique e se inscreva!
Siga o Torcedores também no Instagram

Em entrevista exclusiva ao Torcedores, Edson contou sobre sua carreira no esporte, a primeira vez que encarou a neve, planos futuros e histórias interessantes de sua carreira.

Torcedores – Como você começou a praticar bobsled?

Edson Bindilatti – Comecei a praticar em meados de 1999 para 2000. Eu fazia atletismo, tinha resultados expressivos e o antigo presidente da Confederação Brasileira de Esportes no Gelo me convidou para praticar Bobsled. Ele perguntou se eu conhecia ou eu já tinha assistido o filme ‘Jamaica abaixo de zero’. Acabei assistindo e gostei. Minha mãe no começo não queria deixar porque era perigoso. Falei para ela que não, mas na verdade eu nem sabia, eu queria mesmo era conhecer.

PUBLICIDADE

T – Como foi seu 1º contato com a neve

EB – Primeiro contato foi bem difícil com a neve, com o frio. Saí do Brasil numa temperatura de 30 graus e cheguei nos Estados Unidos com -20 graus, uma diferença gigantesca. Quando sai do aeroporto foi igual ao filme, voltei para o aeroporto, coloquei minhas blusas, mas não adiantou nada, continuei passando frio. Entramos no carro, fomos para o alojamento apenas para troca de roupa e conhecer a pista de bobsled. Foi tenso, depois eles conseguiram umas roupas para nós, mas as roupas de frio que temos aqui não comportam o frio de lá.

T – Você praticou diversos esportes (ginástica artística, futebol, vôlei, basquete e atletismo). Essa formação prévia te ajudou de alguma forma no bobsled?

EB – Essas modalidades que fiz quando criança me ajudaram, na questão de destreza, explosão muscular e velocidade. Isso foi essencial para mim. A maioria dos atletas vem de modalidades como atletismo e rúgbi. Eu precisei apenas me adaptar a modalidade.

PUBLICIDADE

T – No Brasil não temos neve. Como vocês se preparam para as competições?

EB – O bobsled é uma das modalidades que não depende de neve. As pistas são feitas de concreto, refrigeradas. Então no verão nos Estados Unidos e Europa eles desligam a pista e ninguém desce. Nós conseguimos treinar a parte de velocidade e força nas pistas de push (trenó de rodinha em cima de um trilho, apenas para treino de largadas) aqui no Brasil. Quando abrem as pistas lá fora, nós também vamos para lá e treinamos no mesmo período.

O que perdemos é na qualidade do material.  Como comparação, temos a equipe dos Estados Unidos, que tem os trenós fabricados em parceria com a BMW, enquanto a seleção da Alemanha tem conta com fabricação própria dos seus trenós. Um trenó competitivo no mercado custa 60 mil euros e sem patrocínio não temos como comprar um modelo desses.

T – Você disputa competições em categorias distintas (2-Man / 4-Man). O que muda de uma modalidade para outra?

EB – Sou o piloto de ambas. O que muda é a velocidade. O 4-Man é um pouco mais rápido, mais pesado. Seria como você pilotar uma caminhonete, um caminhão contra um carro popular. Você precisa antecipar algumas coisas, se você demorar o trenó acaba tombando ou até virando. O 2-Man você dá o comando e o trenó já responde, é bem mais rápido.

Eu gosto mais do 4-Man, que inclusive é a modalidade onde temos mais resultados positivos.

PUBLICIDADE

T – Qual foi seu momento mais marcante no bobsled?

EB – Foi minha 1ª Olimpíada. Todos os atletas têm um objetivo de ir para uma competição grande, como Copa do Mundo no futebol ou Jogos Olímpicos. Quando eu entrei no estádio, nos Jogos Olímpicos de 2002 em Salt Lake City, você vê aquele estádio lotado, um monte de gente torcendo, gritando, falando ‘Brasil’, tendo todo aquele carinho, as pessoas pedindo autógrafos, pedindo fotos, você estando com aqueles grandes atletas que você só via na TV, almoçando com eles, para mim isso foi muito marcante.

T – Qual sua história mais curiosa nestes quase 20 anos de carreira?

EB – Foi quando chegamos nos Jogos Olímpicos de 2014 na Rússia. Antes da competição nós queríamos pintar o trenó, mas não ia dar tempo. Nossa qualificação foi no dia 10 de janeiro de 2014 nos EUA e o trenó já tinha que ser enviado para a Rússia no dia 18. Chegamos no dia 02 de fevereiro e no dia 03 já tinha um treino livre que precisávamos para conhecer a pista. Já tínhamos começado a lixar o trenó para envelopar lá mesmo. Parecia carro que você vê na funilaria, remendado, cheio de massa, só esperando para ser pintado.

No primeiro dia de treinos livres todos os trenós estavam prontos, só o nosso que não. Quando nosso trenó saiu do caminhão parecia o filme “Jamaica abaixo de zero”.  Todo mundo olhando nosso trenó, tirando foto, estava feia a coisa.

PUBLICIDADE

Foi engraçado por conta do 1º dia de treinos oficiais. Já tínhamos envelopado, deixado o trenó todo bonito, com as cores da bandeira do Brasil. Quando chegamos com ele todo arrumado, foi muito legal ver várias pessoas querendo tirar foto

T – Hoje você se dedica integralmente ao esporte?

EB – Infelizmente hoje não consigo me dedicar, senão as contas pessoais não fecham. Eu tenho o Bolsa Atleta que me ajuda muito, se não fosse por ele eu já teria abandonado o esporte. Mas eu tenho que trabalhar, sou professor de educação física e personal trainer. Nos horários que tenho livre, eu uso para treinar. Sabemos que não é o ideal para um atleta de alto rendimento, mas eu consigo me dedicar bastante, me manter em alto nível, mesmo trabalhando fora do esporte.

T – Qual ou quais são seus principais ídolos no esporte?

EB – Ayrton Senna, um cara dedicado, focado, algo que sempre segui na minha vida, tanto como atleta como pessoa. Procuro me espelhar nele. Quando eu coloco um objetivo na frente, vou atrás até que aconteça. Outro que me espelho Steven Holcomb, campeão olímpico em 2010 em Vancouver. Era um cara super focado e dedicado. Sua morte foi uma perda muito grande para o esporte (Steven foi encontrado morto em maio de 2017 nos EUA).

T – Qual sua expectativa para os Jogos de Inverno na China?

EB – Depende de investimento, principalmente da Confederação em relação aos materiais, mas a expectativa é muito grande. Estamos treinando com um time permanente, entrosado, há mais de 4 anos, praticamente juntos desde os jogos de 2014.

PUBLICIDADE

Chegamos da Áustria recentemente e ficamos na 11º colocação na Copa Europa, um resultado espetacular, porque estávamos com um trenó emprestado de um atleta da Sérvia, lâminas emprestadas da Croácia e ainda conseguimos ter o 4º melhor push da competição, que é o tempo computado nos primeiros 50 metros de largada. Teoricamente com um bom material nós estaríamos entre os melhores.

Estamos evoluindo e crescendo e a expectativa é de bons resultados em 2022, claro, se tivermos apoio, retorno e material competitivo.

T – Quais são seus planos futuros?

EB – Depois da minha 5ª e última Olimpíada, eu pretendo ajudar na formação de novos atletas, tanto no masculino como feminino. O Marley Linhares é muito bom, fisicamente muito forte, bom piloto e vem crescendo, fazendo bons resultados. Também estamos trabalhando com a Marina Tuono, que estuda nos EUA.

Temos também com alguns atletas que foram para os Jogos Olímpicos da Juventude em Lausanne que estão na modalidade monobob, onde os atletas empurram, pilotam e treinam. Um atleta só, mas é considerado bobsled.

PUBLICIDADE

Se não for comigo, quem sabe lá na frente algum atleta brasileiro não consiga trazer uma medalha olímpica. Temos um material humano muito bom e a mesmas condições de treino de qualquer time do mundo.

T – Caso alguém se interesse em praticar o bobsled ou outra modalidade de inverno, qual sua orientação?

EB – Quem tiver interesse pode entrar em contato com a Confederação Brasileira de Desportos no Gelo. Costumo colocar nas minhas redes sociais (Instagram e Facebook) as seletivas para o bobsled. As outras modalidades são direto com a Confederação. Outra opção é o Clube Paulista de Esportes no Gelo.

Tem também Arena Ice Brasil, que é no Extra Brasil, é um espaço espetacular, a maior Arena de prática de esportes no gelo na América Latina. Tem Curling, Patinação Artística, Hóquei no Gelo. Um espaço bom para quem quer ser atleta ou para quem quer levar a família, conhecer os esportes de inverno.

LEIA MAIS

Prêmio Laureus: Rugby da África do Sul é eleito o melhor time de 2019

PUBLICIDADE

Mattel lança primeira linha de brinquedos com temas olímpicos