Home Mídia Esportiva PC Oliveira faz relato pessoal e desabafa após mais um caso de racismo no futebol: “As pessoas que ditam as regras são brancas”

PC Oliveira faz relato pessoal e desabafa após mais um caso de racismo no futebol: “As pessoas que ditam as regras são brancas”

PC Oliveira não poupou críticas ao árbitro do jogo do Porto e cobrou mudanças nas entidades que comandam o futebol

Danielle Barbosa
Jornalista. Escrevendo para o Torcedores desde 2014.

O ex-árbitro Paulo César de Oliveira abriu o quadro ‘A Regra é Clara’, do Seleção SporTV, nesta segunda-feira (17), comentando o caso de racismo sofrido pelo atacante Marega, do Porto, no domingo, e que fez o jogador abandonar o campo – e ainda receber cartão amarelo pelo ocorrido. O ex-árbitro brasileiro criticou a postura da arbitragem e fez um desabafo pessoal sobre as inúmeras vezes que é alvo preconceito.

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“A gente não poderia deixar de comentar o caso que aconteceu entre Vitória Guimarães x Porto (pelo Campeonato Português), um episódio lamentável. A arbitragem tem uma responsabilidade muito grande porque ela não seguiu os passos que a Fifa determinou e, enquanto as entidades não assumirem e combaterem, não só no papel e na regra, mas de maneira eficaz, essa situação não vai mudar”, avaliou PC.

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“Faltou por parte do árbitro tomar as devidas providências, faltou aos companheiros e aos adversários uma postura mais dura, de até mesmo abandonar o campo com ele (Marega), para que realmente a mensagem pudesse chegar de maneira mais efetiva”, acrescentou.

PC Oliveira ainda relembrou o episódio com os brasileiros Taison e Dentinho, na Ucrânia, no final do ano passado, e destacou a ausência de mais negros em cargos de chefia. “Isso faz parte de todo um contexto de um racismo estrutural que faz parte da nossa sociedade, porque normalmente os cargos de chefia e as pessoas que ditam as regras e fazem os regulamentos, são brancas. Dificilmente um branco passa por uma situação como essa, ele não sabe, efetivamente, o que passou na cabeça do Taison, do Dentinho e do Marega ontem.”

O ex-árbitro ainda fez um desabafo pessoal ao revelar ser alvo constante de abordagens policiais na estrada. “Às vezes a gente tem o cuidado para falar porque hoje em dia tudo é “mimimi”. Não é “mimimi”, é um assunto muito sério e que acontece diariamente, não só no futebol, mas na nossa sociedade. Trazendo um relato pessoal, eu moro no interior de São Paulo e venho sempre de carro para cumprir minhas escalas no Rio de Janeiro. Eu confesso que eu já perdi as contas de quantas vezes eu já fui parado em uma abordagem policial. Quase toda semana eu sou abordado pela polícia e já fui abordado de maneira ostensiva, com os policiais com arma em punho. Talvez os policiais não aceitam ou acham estranho um negro dirigindo um bom carro, e quando me reconhecem não pedem nem o documento do carro. Geralmente é uma abordagem agressiva e violenta, mas quando eu desço do carro: “Ô PC, tudo bem? Você vai trabalhar hoje?”, e muitas vezes é um policial negro.”

“Isso faz parte mesmo da cultura, e tudo isso que está acontecendo no futebol é um reflexo da sociedade, da população carcerária que tem a sua maior parte de negros, do desemprego que na população negra é maior, do salário do negro que é menor, são poucos negros ocupando cargos de chefias e isso é uma dívida muito antiga. Desde o processo de colonização que a gente vive com esse problema, só que agora está chegando a um nível que a gente pode ter situações mais graves se os dirigentes não tomarem as devidas providências”, completou.

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