Análise: Mosaic (Krillbite Studio)

O peso da rotina pode ser nefasto quando estamos perante a um ciclo que funciona como um grilhão. Mosaic é uma representação artística desse círculo quando aplicado ao afundamento de um humano. As ilações deste ciclo ficam obviamente com quem o jogar, porém, é inegável o desconforto provocado e, sobretudo, a vontade que a Krillbite Studio tem em fazer da sua obra alimento para um repensamento.

Publicado originalmente no serviço Apple Arcade em novembro, 2019, chegou ao PC (Steam), PS4, Switch e Xbox One.

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Em um período tão conturbado do mundo, em que a economia pode colapsar, muitos deixaram de sair diariamente e estão trabalhando dentro de casa, Mosaic é uma obra que propõe uma reflexão do jogador, sobretudo, aos gamers mais velhos.

O jogo inicia em um quarto escuro onde o protagonista dorme. As roupas são sempre as mesmas, sociais, e ele até dorme com elas. Sua rotina é sempre a mesma no apartamento. Levantar, desligar o alarme, verificar as mensagens. Normalmente elas são mensagens do trabalho dizendo que o seu desempenho não é bom o suficiente. Vai ao banheiro, se arruma de forma lenta e preguiçosa. Sai para o trabalho.

Com o passar do tempo você começa a perceber algumas diferenças no apartamento, nada positivo. As contas em cima da mesa estão se acumulando e por mais que você trabalhe não consegue quitá-las. Louça suja, lixo acumulado, são os pequenos sinais de um morador infeliz.

Fora do apartamento é ainda pior. Todos são parecidos e usam roupas iguais. Evitam os olhares do protagonista ou mesmo se aproximar dele. Todos vão para o mesmo lugar, uma massa cinzenta em direção ao trabalho. Uma massa que você deve seguir, mas… o que acontece quando você não a segue?

Esse é o ponto em Mosaic, as coisas que podem acontecer quando você vai contra a rotina e contra o próprio sistema. Esses pequenos momentos são exibidos em cores vivas, em completo contraste com o restante do cenário. Não demoramos a perceber que a música é algo muito importante para o protagonista, algo que o faz se sentir renovado.

Além dos cenários no apartamento e no caminho para o trabalho, há o trabalho em si que, nenhuma surpresa, é repetitivo. Ele é representado por um puzzle simples que vai recebendo novas funções conforme o avanço na trama. A história e objetivo em Mosaic é simples: alcançar a felicidade em meio a metrópole.

Finalizar Mosaic é rápido, porém prazeroso. Algo que pode durar entre quatro ou cinco horas. Terminá-lo, lhe causa uma boa sensação. É um jogo completamente focado em contar uma narrativa, que é válida e bem feita. Talvez, porém, o preço cheio do jogo seja alto para o total de horas jogadas.

Mosaic não é o primeiro jogo a utilizar o dia-a-dia de trabalho como meio para retratar uma rotina depressiva e até distópica. “Papers, Please”, por exemplo, ganhou fama pelo modo como o trabalho burocrático executado pelo jogador (e suas consequências) reflete a ansiedade e tensão vividas pelo personagem dentro do jogo.

Mosaic convida o jogador a se imergir na rotina monótona que o personagem experimenta diariamente representando seus sentimentos com metáforas visuais fantásticas e sonhos surreais mas a simplicidade eficiente de “Papers, Please” se transforma em monotonia aqui.

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Resumo

Fica claro que a intenção do jogo é, de fato, nos guiar pelos dias monótonos e ver o personagem quase sucumbir aos poucos a um quadro de depressão, enquanto busca beleza e conforto em detalhes menos mortos – música, animais – numa cidade apática, monocromática. Isso abre espaço para questionamentos: um jogo precisa entreter? Até que ponto é possível esticar a noção de diversão para poder afirmar que um jogo cumpriu seu objetivo?

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