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Mauro Beting conta a nova vida no Allianz Parque

Dia 27 de abril o Palestra Itália celebra 100 anos da compra do Parque Antarctica

Mauro Beting
Mauro Beting comenta futebol em rádio, TV, internet, jornal, blog e livro, faz filme de futebol para cinema, DVD e TV, e comenta no PES 2014
Allianz Parque

Allianz Parque, estádio da Sociedade Esportiva Palmeiras (IMAGO/ZUMA Wire)

Na semana passada, falei das minhas lembranças do antigo estádio. Hoje lembro o meu futuro na nova casa.

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19 de novembro de 2014. Algumas das minhas palavras como mestre de cerimônia na inauguração do Allianz Parque:

“Olá, palmeirense!
Entre sem bater… A casa é sua…
Só bata palmas pelo Palmeiras!
Também pode bater mais forte o coração verde no altar da comunhão do espírito de porco com a alma de periquito! Allianz Parque da aliança do velho Palestra com o novo Palmeiras.
Nossa casa, nossa vida.
Onde nos desentendemos como palmeirenses. Onde nos entendemos como gente.
Onde eu canto que sou Palmeiras até vencer. Em cada canto do nosso campo que mudou como um dia mudaram o nosso nome. Jamais a nossa alma. Mais Palmeiras eu sou em cada canto. No nosso campo plantamos Palmeiras.
O nosso time é a Academia de futebol. A nossa torcida é show de bola. O nosso Allianz Parque é um espetáculo.
O nosso berço foi transformado com lealdade em padrão.
Aqui você é patrão! Aqui somos Verdão!
Somos Palestra há 100 anos!
Allianz Parque, a nossa vida é você a partir de hoje.
No Dia da Bandeira do Brasil. Dia para celebrar o time que nasceu campeão em 1942 entrando em campo com a bandeira brasileira.
O clube que jogou pelo Brasil na Copa Rio de 1951.
A Academia que foi a Seleção no dia da independência do Brasil em 1965.
O clube que mais vezes foi campeão nacional do país mais vezes campeão mundial dá bandeira!
Dá bola! Dá show! Dá Palmeiras!
Da Guia. Do Dudu. Do Fiume. Do Junqueira. Do Heitor. Do Jair. Do Valdir. Do Julinho. Do Djalma. Do Luís Pereira. Do Leivinha. Do César. Do Sampaio. do Evair. Do Edmundo. Do Alex. Do São Marcos.
Do palmeirense que é doente e do palmeirense que é são.
Não somos mais. Não somos menos. Somos Palmeiras!
Somos os donos desta bela arena que nos orgulha tanto quanto nossa história. Paixão que passamos para nossos filhos que um dia vão contar aos netos deles que em 19 de novembro de 2014 eles vieram ao Allianz Parque para ver a reinauguração da nossa casa.
Na noite em que podemos dormir felizes pelo retorno ao nosso lar. Sonhando com tudo de lindo que já construímos. Com tudo de maravilhoso que conquistaremos de volta pra casa.
De volta pro futuro que é verde de esperança.
Um sonho de Verdão.
Sinta-se em casa, palmeirense.
Eu sou o Allianz Parque.
Nosso clube teve dois nomes. Nosso estádio tem dois nomes.
Mas eu só tenho uma palavra pra vocês, palmeirenses:
Amor.
O amor incondicional que constrói o Palmeiras que agora volta pra casa.
Verdão que volta pra mim.
O Allianz Parque.
Eu sou da casa. Eu sou o lar, doce lar.
Eu sou vocês. Vocês são minha alma. Vocês são a nossa arma.
Vocês são divinos como Ademir. Companheiros como Dudu. Malucos como César. Matadores como Evair. Animais como Edmundo.
Vocês são Marcos!
Vocês são Palmeiras!
Vocês são o Allianz Parque!
Vocês são a torcida que canta e vibra. Vocês são o alviverde inteiro.
Eu sou um pedaço de cada um de vocês, milhões de palmeirenses.
Eu sou o campo dos sonhos. Eu sou o berço da academia de futebol.
Eu sou cada canto onde vocês cantam que são Palmeiras até morrer.
Eu canto que na minha terra tem Palmeiras. Eu conto com o grito e o canto de cada um que joga por 11.
Aqui se fez o campeão do século XX quando compramos o Parque Antarctica.
Hoje começa a Arrancada Heroica do campeão do século XXI. Hoje eu sou Palmeiras até vencer. Pra sempre eu sou vocês.
Avanti, Palestra! Scoppia che la vittoria é nostra!!!
Venha, Palmeiras!
Os bons campeões a casa tornam.
Ela é toda nossa.
Vamos, Palmeiras.”

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Assim falei para a nova arena ouvir. A que junto com São Marcos teria anunciado em maio de 2013 o novo nome não estivesse de lua de mel com minha loirinha de olhos e coração verde Silvana. Mãe da minha enteada Manoela que foi ao Allianz na primeira vez. E também na segunda quando Henrique Dourado marcou nosso primeiro gol. E o santista Thiago Ribeiro o “segundo”, no mesmo Barradão onde em 2002… Onde em 2014 quase… Onde em 2016 fechamos o enea com as cores e camisa da Chapecoense. Contra o Vitória que foi rival antes da festa do deca, em 2018.

Quem tem mais tem Palmeiras. Quem não tem reclama por fax. Porque é fato. É feito. Muito bem feito.

A história se repete no novo templo de um novo tempo. Quando fiz o discurso no novo estádio, era mais coração do que cabeça. Até porque Palmeiras é tudo isso que somos todos nós. Em setembro de 2014, o primeiro evento na arena foi a exibição de meu primeiro documentário oficial do clube, dirigido em parceria com Jaime Queiroz. O “12 de Junho de 1993 – O Dia da Paixão Palmeirense”. Quando 3 mil convidados gritaram “Palmeiras” pela primeira vez no estádio construído e administrado pela WTorre no canto puxado por mim. Quando o primeiro “Evair é um terror” também se ouviu no Gol Sul, pedido por mim.

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Aquela arquibancada que não existia até 2010. Aquela que Robinho disse que faz desde 2014 o plano inclinado no estádio. Palavra do cara que encobriu Rogério Ceni pela primeira vez em 2015. O que passou para Dudu abrir o placar no tri da Copa do Brasil. O então adversário em 2017 pelo Cruzeiro que disse que a torcida que canta e vibra e paga caro pelo tíquete médio acima da média faz um inferno verde nas segundas etapas de ataque e mergulhos ao gol à frente das velhas piscinas. Fazendo o gramado inclinar até sair um gol nosso.

Onde Dudu fez dois e nos fez tri na final de 2015. Como Prass que trocou as mãos pelos pés no pênalti decisivo. O goleiro que chegou no derrubado Verdão para encerrar no Palmeiras a carreira que foi muito além. Como Jailson, a Pantera Invicta em 2016. Também porque Zé Roberto salvou em Araraquara o gol do mesmo Robinho enquanto Andrea Bocelli cantava “Nessun Dorma” no Allianz Parque (o estádio gramado que mais recebe shows no mundo). A mesma ária de Puccini que tocou na volta olímpica da Copa do Brasil, pela ideia do amigo Corcione, quando tive a felicidade de mandar o arquivo de áudio para o Luciano. Outro palestrino que meus filmes e livros me deram nos últimos anos.

Na véspera, se o treino fosse na arena, a preleção para o elenco teria sido minha. Como foi antes da vitória que não deu classificação contra a Ponte, no SP-17. Como foi na final do SP-15 na Vila, e não deu certo como deu na semifinal do Paulistão, em Itaquera. Como deu certo na semifinal nos pênaltis de Prass, contra o Fluminense.
Como às vezes funciona um cruzamento do Allione para a cabeçada do Andrei Girotto, contra o Inter, nas quartas da Copa do Brasil-15. O dia em que mais sofri comentando pela Jovem Pan desde abril de 2015. Uma das partidas mais sofridas que já vivi em 52 anos de vida, 45 de Palestra Italia. Não me pergunte o porquê. Mas virou meme aquela foto minha na maca carregada pelo compadre Felipe Abreu. “A boa notícia: ainda estou vivo. A má notícia: ainda morro disso”. Do Palmeiras. No post que até São Marcos compartilhou.

Como o nosso sofrimento até o enea. Só aos 39 do segundo tempo da vitória contra a Chapecoense no BR-16 gritamos o que somos. E ninguém foi mais. Ainda mais depois de 2010. Mesmo perdendo Libertadores seguidas em casa, ganhamos jogos na última bola ou além do último segundo com a nossa Mina e funda da nossa vida. Com o nosso Fabiano dos gols inusitados de Betinho-12.

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Teve despedida do Ademir da Guia no primeiro gol do Allianz Parque. A do Alex quando levei ovada do São Marcos. A do Zé Roberto quando também fui mestre de cerimônias e ainda comentarista da primeira das tantas transmissões do meu Esporte Interativo com o nosso Palmeiras. O Nosso Palestra que desde 2017 cobre e cobra o clube em nome da Sociedade Esportiva Jornalismo. De amigos e colegas de ofício que não são ofídicos.
Como os meus dois filhos de sangue verde que vão em quase todos os jogos, e em poucos podemos ir juntos pelo meu trabalho na TV e no rádio. Mas sempre saindo juntos da zona mista cornetando ou celebrando desde a estreia no SP-15 até a primeira despedida do Zé no BR-17. Nas festas pelas ruas nas conquistas, nos trios elétricos, nos decas que são mais do que dez. Na parceria com amigos queridos como Rogério, Heraldo, Rigotto, Felipes, Amanda, Parisi, Geamall. Parceiros de jogos de craques, eventos e tours pelo estádio onde o Alex, Gus, Mendez, Vitonez, Sergião, Bacconi, Aaron, Aguinaldo, Bruneli, Brunos, Greco, Neres, Senna, Fernanda, Santoro, Espírito de Porco, Piqueira, dona Cidinha, Thiago, Luana, Ezequiel, Galuppo, Jota, Vilaça, Giannubilo, Marcos Arnaldo, Nicolelis, Boccas, Fred, Serginho, Rudy, Sandro, Spina, Silvia, Vicente e outros fratelli ocupam o Palestra que MP e PM não querem ver fazendo festa nem pintados de verde.

Mas que a gente bota fogo e paixão nos Esquentas na Cantina Palestra com o Rossi. No Tá Lá Dentro do Costi e dos que Jogaram na SEP, nosso endereço. Na Leggera como Keno e Willian. Nos entornos entornados e entortados da esquina do nosso mundo da antiga Turiaçu com a remoçada Caraíbas do Caveira. No Dissidenti da sala Joelmir, na Savóia da frase na parede. No Sindicato dos Cornetas da esquina. No Tifosi na frente. Nas coberturas como a do Dudu contra o Denis em mais uma vitória contra o São Paulo. Nos chapéus como o de Dudu desde 2015.

Momentos que a nova arena repete como festa pelas casas verdes. Quando recomeçamos em nova arrancada com novos parceiros e o velho espírito empreendedor. Parcerias históricas pra nós e histéricas pros rivais que mais falam de nós.

Pioneirismo PPP. Parceria Palestra-Palmeiras.

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Mudamos de casa e de nome da rua. Mas não de CEP desde 1920. De SEP desde 1942.

O vereador Laércio Benko queria chamar o nosso trecho de rua na frente do campo de Joelmir Beting. A família agradeceu, mas declinou. Melhor Palestra Italia. Sempre melhor. O Babbo já está homenageado com a frase na entrada do escritório do estádio. Na sala de imprensa que leva o nome e a foto dele. Na Academia do clube. E esteve escrito no vestiário de 2008 a 2010, por inciativa de Paulo Nobre, depois de ouvir a frase que não precisa de explicação no evento que meu pai apresentou o projeto do novo estádio, em 2007.

Meu Babbo que pela última vez passeou com os netos na obra da arena então sem nome, na véspera do último Dia dos Pais, em 2012. Quando o Nonno deles teve de sair carregado do passeio pelas pernas que fraquejaram e o levaram ao hospital dias depois do lançamento da biografia de São Marcos, e para sempre em 29 de novembro de 2012. Sempre lembrado pelos meus filhos e pelo Thomas e Martin do meu irmão.
Foi o último estádio dele, ainda que não fosse então. Foi o último estádio do Danilo, goleiro da Chapecoense, marido da Letícia, pai do Lorenzo, que trouxemos para o deca. Quando o menino correu até a última meta do pai. Quando a mãe não conseguia falar.

Como eu não consegui falar quando o Júnior filho do Vagner Bacharel levou a mãe dele pela primeira vez a um estádio desde a partida do pai, em 1990, no Camarote Fanzone do Léo Rizzo. Quando o Dracena fez de cabeça seu primeiro gol pelo Palmeiras contra o Santos jogando na posição e como se fosse o Bacharel que na véspera estivera com o meu primo Calabar na Cantina. Trocando experiências de Palmeiras e família como se fôssemos o que somos.
Uma família de velhos palmeirenses de todas as idades que se comportam como crianças de todas as idades. Esses meninos vão longe como o Erich e meus sobrinhos-primos. Como o Daniel Barud que era Fluminense mas foi no Palmeiras no seu último jogo em estádio antes de partir com apenas 18 anos. Os casais que se conheceram e viraram noivos e casados no Allianz. O Bolsoni que chorou com o filho no colo no Choque-Rei. O neto que contou ao pai e ao avô que eles seriam avô e bisavô na arquibancada. O neto corintiano que estreou o avô no Allianz aos 80 anos.

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Tantas histórias que aqui não cabem porque temos limites de espaço. Como a arena. Mas que no nosso lindo estádio de espírito só se multiplicam como o amor incondicional. Como o Palmeiras. Paixão que ainda não sabemos exatamente onde nos colocar e comparar com a velha casa. Mas que sabemos que é nossa. Como pela vida mudamos varias vezes de endereço. Mas não do espirito do lar que crescemos amando.

Amor incondicional de pais para filhos que não precisam ver para sentir tudo isso. Como a Silvia que foi escolhida pelo Nickollas como mãe e contadora dessa paixão. Como o Palmeiras que não nos escolhe, nos acolhe.

Nossa casa, nosso amar.

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