Home Futebol Pia Sundhage, a montagem da Seleção Feminina e a busca pela inédita medalha de ouro

Pia Sundhage, a montagem da Seleção Feminina e a busca pela inédita medalha de ouro

Luiz Ferreira destaca os desafios da treinadora sueca a menos de um ano da edição dos Jogos Olímpicos na coluna PAPO TÁTICO

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Uma das grandes esperanças de medalha do Brasil nos Jogos Olímpicos de Tóquio (que serão realizados em julho de 2021) é a Seleção Feminina. Mesmo com todos os problemas estruturais já relatados várias e várias vezes por quem acompanha diariamente a modalidade aqui no Brasil, o talento das nossas jogadoras é reconhecido mundialmente e o sonho da medalha dourada ainda é bem possível de ser concretizado. Não por acaso, uma das missões mais urgentes da técnica Pia Sundhage é a montagem da equipe vai para o Japão no próximo ano tentar o lugar mais alto do pódio. Por mais que a treinadora sueca tenha uma vasta experiência e o material humano à disposição seja extremamente qualificado, o cenário não é dos mais favoráveis. Não somente pela pandemia de COVID-19, mas por toda a situação em que se encontra o Departamento de Futebol Feminino da CBF.

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Pia Sundhage completou um ano no comando da Seleção Feminina no mês de julho com bons números. Em onze partidas disputadas, o escrete canarinho teve seis vitórias, quatro empates e apenas uma derrota, com 22 gols marcados e cinco gols sofridos. Esse desempenho recolocou o Brasil no TOP 10 no Ranking de Seleções da FIFA, onde a equipe ocupa o 8º lugar. Em um ano de trabalho, Ao todo, Pia convocou 46 jogadoras (com 43 delas entrando em campo). É bem verdade que algumas das suas escolhas foram bastante questionadas. No entanto, elas acabaram se justificando por conta do contexto em que a treinadora sueca chegou na Seleção Feminina: o tempo escasso até os Jogos Olímpicos e também a necessidade de se formar um grupo coeso para a disputa das competições em Tóquio. Pia Sundhage manteve a base que jogou a Copa do Mundo em 2019, deu chance a novas atletas e lapidou outras.

Faltou, no entanto, um título em pelo menos uma das competições que a Seleção Feminina disputou na temporada passada (os torneios internacionais de São Paulo, da China e da França). Por outro lado, o trabalho tático na equipe se mostrou bastante promissor. Principalmente com a entrada de Luana Bertolucci (atleta do Paris Saint-Germain) no time titular ao lado da interminável Formiga. Não apenas pela qualidade no passe e visão de jogo, mas também por pisar na área com frequência sem comprometer a marcação. Mas o que ficou claro para todos que acompanharam a Seleção Feminina é o fato de que um dos grandes problemas da equipe está na criação no meio-campo. Luana foi bem ao lado de Formiga e mostrou versatilidade ao atuar bem como lateral. Andressinha foi apenas regular e Gabi Zanotti agradou bastante. O que estaria faltando?

Este que escreve já mencionou mais de uma vez que um dos desenhos que Pia Sundhage poderia utilizar mais é o 4-2-3-1. O primeiro tempo da Seleção Feminina contra o Canadá (na última partida da equipe antes da paralisação por conta da pandemia de COVID-19) é um bom exemplo. O meio-campo ficou mais preenchido, as jogadoras ficaram mais próximas umas das outras e a treinadora sueca pôde trabalhar bem o potencial de cada uma delas. Principalmente de Bia Zaneratto e Ludmila, duas jogadoras que cresceram muito desde a chegada da sueca. A grande questão, no entanto, está no posicionamento de Marta. Vadão optava pela escalação da melhor de todos os tempos pelos lados do campo mesmo quando esta já não mostrava a mesma explosão de tempos não tão longínquos assim. E ainda temos Cristiane, atacante de grande qualidade, mas que vem convivendo com lesões nos últimos anos.

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Antes de mais nada, é preciso lembrar que Pia Sundhage poderá levar apenas 18 jogadoras para Tóquio. Esse é um dos motivos pelos quais a treinadora sueca vem apostando em jogadoras que atuem em mais de uma posição. A confiança depositada em nomes como Luana e Tamires (que joga como lateral na Seleção Feminina e atacante no time do Corinthians), no entanto, vem também pela necessidade de se encaixar Formiga, Marta e Cristiane na equipe. Apesar da idade já avançada, as três são extremamente experientes e ainda impõem muito respeito às adversárias. Dificilmente Pia vai abrir mão de uma delas nos Jogos Olímpicos. O já mencionado 4-2-3-1, inclusive, poderia trazer o equilíbrio necessário para encaixar Cristiane e Marta no comando de ataque e Formiga dando suporte à saída de bola sem que a equipe perdesse força na marcação e coordenação entre os setores.

Pia Sundhage pode apostar num 4-2-3-1 mais definido para encaixar os talentos de Cristiane, Marta e Formiga numa equipe que também pdoe contar com a versatilidade de Luana, a velocidade e o bom chute de Debinha e uma Tamires definitivamente meio-campista se juntando ao quarteto ofensivo. Vale a pena tentar.

É claro que o elenco brasileiro está recheado de grandes talentos. O grande problema, no entanto, nem está nas próprias escolhas de Pia Sundhage, mas na estrutura oferecida a ela. É por isso que este que escreve sempre vai bater na tecla da necessidade de se observar o contexto. Já se passaram dois meses desde a saída de Marco Aurélio Cunha da coordenação das Seleções Femininas e até o presente momento, a CBF não indicou um sucessor para o cargo. Em entrevista às Dibradoras, a própria Pia ressaltou a importância de se ter alguém nesse posto por conta de todo o planejamento para a disputa dos Jogos Olímpicos de Tóquio. Parece óbvio para quem lê, mas o trabalho de se marcar amistosos não é da treinadora. O tempo está passando, as atividades estão sendo retomadas no futebol feminino e a coisa simplesmente não anda lá pelos lados da Barra da Tijuca. Complicado…

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É possível sim organizar e montar uma equipe forte para a disputa da tão sonhada medalha de ouro olímpica no ano que vem. Acabou que a pandemia de COVID-19 fez com que Pia “ganhasse” mais alguns meses para preparar a Seleção Feminina, implementar ainda mais seus conceitos e observar mais jogadoras. Ainda mais com o reinício do Brasileirão marcado para o final desse mês. Tudo para mesclar experiência e juventude num time que também contaria com ótimas opções no banco de reservas para o decorrer das partidas. O desafio de Pia, no entanto, não está somente dentro de campo, mas fora dele também. Apesar do adiamento das Olimpíadas para julho de 2021, a Seleção Feminina ainda não conta com a estrutura necessária para que ela possa trabalhar como gostaria. A impressão que fica é que Marco Aurélio Cunha nem chegou a se desligar da CBF…

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Pia Sundhage tem a missão de equilibrar e encaixar talentos já conhecidos num time equilibrado para tentar o inédito ouro olímpico no ano que vem. A treinadora sueca vem fazendo a sua parte dentro de campo (mesmo que algumas das suas decisões não sejam as melhores). Mas fica difícil trabalhar diante do contexto no qual ela está inserida. Este que escreve não se surpreenderá se a culpa por conta de uma campanha ruim caia sobre os ombros da comandante da Seleção Feminina.

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