Home Futebol São Paulo de Fernando Diniz segue devendo, mas responsabilidades precisam ser divididas; confira a análise

São Paulo de Fernando Diniz segue devendo, mas responsabilidades precisam ser divididas; confira a análise

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a derrota do Tricolor Paulista para o Vasco neste domingo (16)

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.
PUBLICIDADE

Mais posse de bola, mais finalizações a gol, mais passes trocados e mais acerto nos dribles. De acordo com o cada vez mais excelente SofaScore, o São Paulo foi melhor o Vasco em quase todas as estatísticas. No entanto, a equipe de Fernando Diniz acabou jogando mal mais uma vez e saiu de São Januário derrotada por 2 a 1 com justiça. Não somente pela aplicação tática e organização dos comandados de Ramon Menezes (que conquistou a sua quarta vitória em quatro jogos oficiais no comando da equipe), mas pela maneira como o Tricolor Paulista vem se comportando nas últimas partidas. O time pecou pela falta de intensidade e pelos erros nas tomadas de decisão, principalmente quando chegava com a bola perto da área adversária. Por outro lado, se Fernando Diniz peca em alguns aspectos, a responsabilidade pela má fase precisa ser dividida com muita gente.

Você conhece o canal do Torcedores no Youtube? Clique e se inscreva!
Siga o Torcedores também no Instagram

A questão aqui nem são os conceitos defendidos por Fernando Diniz, mas a maneira como o time assimila essas orientações dentro de campo. O São Paulo entrou em campo armado inicialmente num 4-1-4-1 com Igor Gomes jogando mais aberto pela direita. A equipe do Morumbi até conseguiu criar boas chances de abrir o placar em São Januário, mas pecava em dois aspectos: nas conclusões a gol e nas tomadas de decisão. Não foram poucas as vezes em que a equipe roubou a bola, armou o contra-ataque e desperdiçou a chance com a defesa do Vasco desarrumada e concedendo espaços. Com o passar do tempo, Igor Gomes voltou a jogar mais por dentro e Daniel Alves foi para o lado (tal como mostra o frame abaixo), mas o escrete tricolor seguia sem profundidade porque seus laterais preferiam cruzar da intermediária e seus atacantes se movimentavam pouco. Aí fica bem difícil.

PUBLICIDADE

O São Paulo tinha organização, tinha uma proposta de jogo clara, mas errava demais nas tomadas de decisão. Seja com Igor Gomes pelo lado ou por dentro, os comandados de Fernando Diniz mostravam uma certa insegurança nos momentos mais decisivos da partida contra o Vasco. Foto: Reprodução / TV Globo

Mas as dificuldades também surgiam porque Ramon Menezes fez o Vasco jogar dentro de suas possibilidades. Deixou Henrique mais plantado à esquerda, Gabriel Pec abria o jogo pela direita, Cayo Tenório vinha mais por dentro e Andrey dava o toque de qualidade na saída de bola. Mais à frente, Talles Magno e Germán Cano se movimentavam bastante e confundiam a defesa do São Paulo. E aí nos deparamos com outro problema sério do time comandado por Fernando Diniz: a falta de intensidade nas transições. Nesse ponto, o lance que originou o segundo gol do Vasco na partida chega a ser emblemático. Benítez rouba a bola no meio, Andrey parte em velocidade vigiado por Paulinho Bóia e Bruno Alves. Notem que nenhum deles dá o bote para roubar a bola do camisa 15. O jogador vascaíno tem tempo para pensar e servir Cano (já longe de Arboleda) na entrada da área.

Andrey parte para o ataque vigiado de perto por Bruno Alves e Paulinho Bóia, mas nenhum deles dá o bote ou diminui o espaço. O camisa 15 tem tempo para pensar, ajeitar o corpo e passar a bola para Cano na entrada da área. E isso sem mencionar Talles Magno livre na esquerda e mais Reinaldo e Tchê Tchê chegando atrasados. Foto: Reprodução / TV Globo

PUBLICIDADE

Se Arboleda foi mal no lance do segundo gol do Vasco, Reinaldo também vacilou a conceder o escanteio que resultou no primeiro gol da partida num momento em que tinha espaço para dominar a bola e tempo para sair jogando. Se Fernando Diniz é sim um dos culpados pela má fase (muito por conta da escolha das estratégias para cada partida e também pelo fato de não conseguir fazer um elenco qualificado se comportar como uma equipe), os jogadores precisam dividir essa responsabilidade com o treinador. Vale lembrar que a tomada de decisão dentro de campo é deles. E não estamos falando de nenhuma equipe sub-20 ou sub-17 que ainda necessita de orientações desse tipo. Por mais que a torcida do São Paulo esteja na bronca com Fernando Diniz (e até com certa razão), ela também precisa entender que boa parte do problema está na maneira como os atletas executam as orientações do seu treinador.

A ideia aqui não é apenas defender Fernando Diniz e repetir o “mantra” que parte da imprensa ainda entoa nas mesas redondas. Ele teve tempo, elenco e estrutura não só no São Paulo, mas em outros clubes grandes e ainda não “decolou”. Por outro lado, é preciso deixar bem claro que o treinador do Tricolor Paulista não pode ser considerado o único culpado pela má fase do clube na temporada. Já falei outras vezes aqui e vou repetir: futebol é contexto. Puro e simples. A atuação do São Paulo na derrota para o Vasco mostra muito mais um time tomado por vícios que seu treinador ainda não conseguiu resolver do que uma equipe mal treinada. Há conceitos ali. Há uma ideia bem clara (e isso pode ser notado nas instruções de Fernando Diniz durante as partidas sem público). O grande problema está na execução. O que fazer? Barrar meio time e correr o risco de perder o grupo?

Fernando Diniz ainda precisa emplacar um bom trabalho para justificar a boa vontade de boa parte da imprensa esportiva. Mas apontar o treinador como único responsável pela má fase do São Paulo é esquecer todo o contexto envolvido na formação de uma equipe de futebol. E tem jogador lá no Morumbi que parece estar em outra sintonia. E essa situação não vem de hoje.

LEIA MAIS:

PUBLICIDADE

Zizinho: o primeiro grande camisa 10 do São Paulo

A estreia de Domènec Torrent no Flamengo e por que precisamos analisar o futebol sem exaltações