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Ronald Koeman no Barcelona: aposta certeira ou apego ao passado?

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa o que estaria por trás da chegada do ex-zagueiro holandês ao Barça e como ele pode recuperar o moral do clube

Por Luiz Ferreira em 04/09/2020 10:00 - Atualizado há 2 meses

Reprodução / Facebook / FC Barcelona

Uma das grandes questões do futebol atual gira em torno da “identidade” de um determinado time. Há clubes que são conhecidos por uma maneira quase única de tratar a bola dentro de campo. Por muito tempo, a Internazionale ficou conhecida pelo “catenaccio” de Helenio Herrera, o Milan está marcado pelos conceitos implementados por Arrigo Sachi e o Ajax virou sinônimo de “Futebol Total” com Rinus Michels e Johan Cruyff. O grande problema é quando essa “identidade” precisa de atualizações e ajustes para se adequar às inovações do velho e rude esporte bretão. É o que acontece com o Barcelona. A chegada do holandês Ronald Koeman pode significar um retorno ao passado marcado pelo “Dream Team” dos anos 1990. O problema é saber até onde essa escolha pautada em razões mais afetivas do que profissionais pode ajudar o Barça a recuperar o protagonismo perdido nos últimos anos.

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É óbvio que só o tempo dirá se Koeman vai dar certo no Barcelona ou não. O tempo e uma série de outros fatores. Por outro lado, a surra que o clube catalão levou do Bayern de Munique nas quartas de final da última Liga dos Campeões escancarou a crise nos bastidores blaugranas. Crise tão grande que fez o zagueiro Piqué se colocar à disposição para deixar o Barça para facilitar uma renovação mais do que necessária de nomes e de ideias. A geração campeã continental e mundial em 2015 já passa dos trinta anos de idade e já mostrava claros sinais de desgaste ainda com Ernesto Valverde (fato que obrigou o treinador utilizasse um esquema mais pragmático para dar consistência defensiva ao time). A sua saída e a aposta em Quique Setién (adepto das ideias de Johan Cruyff) só afundaria ainda mais o moral de um clube que estava preso ao passado e que precisava avançar.

A única certeza que este que escreve tem é a de que o Barcelona precisa de uma verdadeira revolução em todos os sentidos. Ronald Koeman, pela história no clube e por ter feito parte de uma das épocas mais vitoriosas do escrete blaugrana e marcado gol de título da Champions League em 1991/92 diante da Sampdoria. Não deixa de ser uma escolha baseada em lembranças afetivas de um tempo em que o Barça mandou e desmandou no futebol. Principalmente com o “Dream Team” idealizado por Cruyff. A mesma equipe que jogava numa espécie de 3-3-1-3 (e que se desdobrava num ofensivo 3-3-4 conforme a movimentação de Laudrup e Bakero) e que ficou ainda mais imprevisível e “rebelde” com a chegada de Romário em 1993. A goleada por 5 a 0 em cima do Real Madrid em pleno Santiago Bernabéu foi o ápice daquela equipe que jogava um futebol alegre e vibrante.

O “Dream Team” do Barcelona ganhou ainda mais força com a chegada de Romário em 1993. E o ápice daquela geração aconteceu no ano seguinte, com a goleada por 5 a 0 sobre o Real Madrid dentro do Santiago Bernabéu com grande exibição coletiva de toda a equipe comandada por Johan Cruyff.

O Barcelona ainda ganharia mais notoriedade com Guardiola no comando da histórica equipe que revolucionou o futebol com trocas de passe quase intermináveis no campo e com Messi desequilibrando com o auxílio luxuoso de Xavi, Iniesta, Puyol, David Villa, Abidal, Daniel Alves e Busquets. No entanto, o próprio Guardiola já afirmou mais de uma vez que aquele time ficou no passado e já reformulou várias vezes seu estilo para se adaptar ao futebol cada vez mais físico e intenso dos nossos dias. É preciso mais velocidade e mais objetividade para definir as jogadas. Coisa que o Bayern de Munique de Hans-Dieter Flick fez muito bem na última edição da Liga dos Campeões contra o próprio Barcelona. E o estilo defendido por muitos dentro do clube (o chamado “tiki-taka”) só aumenta as chances de equipes mais intensas roubarem a bola ou se organizarem na defesa.

O ponto aqui é simples: a chegada de Ronald Koeman no Barcelona é uma aposta certeira ou apenas o apego ao passado? Embora o currículo como treinador não empolgue muito (a conquista que mais salta aos olhos é a da Copa do Rey de 2007/08 com o Valencia), a filosofia de Johan Cruyff ainda está presente no discurso e a experiência recente com o Southampton e o Everton na Premier League deu mais “casca” ao ex-líbero. Na prática, no entanto, Koeman tende a ser um pouco mais pragmático. Seus últimos trabalhos foram pautados em cima do 4-1-4-1 e do 5-3-2 com equipes bem fechadas e rápidas no contra-ataque. Elementos que podem ser úteis na montagem de um time que pode adaptar a “filosofia” do Barcelona ao jogo mais intenso e mais físico dos nossos dias sem perder a consistência defensiva, uma das grandes pedras no sapato do escrete blaugrana nas últimas temporadas.

Simbolicamente, a chegada de Ronald Koeman também atende aos anseios daqueles mais saudosos dos tempos de vitórias e títulos no Barcelona. Principalmente quando o treinador em questão foi treinado por Rinus Michels na Seleção Holandesa campeã da Eurocopa de 1988 e por Johan Cruyff no “Dream Team” do início dos anos 1990. O grande X da questão é saber a medida certa do saudosismo nessa equação. Este que escreve já mencionou mais de uma vez a necessidade do Barcelona de se reinventar dentro e fora de campo. E por mais que Koeman seja sim uma referência para quem está chegando ao clube e até para os mais jovens, ainda existe a necessidade de se resolver o destino dos mais experientes. Incluindo Messi que, até onde se sabe, não parece disposto a continuar no clube. E isso tendo que usar o dinheiro para fazer contratações que possam elevar o patamar do time.

Fora que as últimas atuações do time na temporada passada beiraram o ridículo. Principalmente quando se sabe que cada jogador poderia entregar muito mais em campo. Mesmo os experientes. Por outro lado, a diretoria do Barcelona errou feio e errou rude na contratação de nomes bastante discutíveis. Atletas mais caros, como Griezmann e Dembelé não saíram do banco de reservas na goleada sofrida contra o Bayern de Munique por não passarem confiança. Diante disso, a missão de Koeman é bem clara: reorganizar o elenco, montar a estratégia e usar seu prestígio de líder do “Dream Team” dentro de campo para unir e reunir as forças dentro do clube. Mesmo que isso cause a saída de Piqué, Busquets e Suárez, nomes que fizeram demais pelo Barça e que foram os melhores das suas posições por muito tempo. Até há meios de adaptá-los dentro do elenco. Mas a tal “filosofia”, o tal “DNA” do clube precisa se adaptar aos novos tempos.

A atuação do Barcelona contra o Bayern de Munique nas quartas da Liga dos Campeões foi a prova clara de que as decisões da diretoria haviam afundado o time. E a grande missão de Koeman é (re)unir as forças, usar bem o dinheiro das contratações e tornar o escrete blaugrana forte novamente. Não é tarefa fácil.

Ivan Rakitic já deixou o Barcelona (rumo ao Sevilla) e a imprensa espanhola afirma que Arturo Vidal, Samuel Umtiti e Luís Suárez estariam fora dos planos de Koeman. O treinador holandês, inclusive, vê no compatriota De Jong o substituto ideal para Busquets (jogador que já não tem a mesma velocidade de anos passados) e aposta em nomes mais jovens para substituir aqueles que são considerados “descartáveis” pela comissão técnica e pela diretoria. Koeman ainda aguarda pela permanência de Messi apesar de já ter se “preparado psicologicamente” para a possível saída do maior ídolo da equipe em todos os tempos ou para ter que comandar um jogador que já demonstrou publicamente a sua insatisfação com a atual diretoria mais de uma vez. Se Messi permanecer, como será seu relacionamento com comissão técnica, dirigentes e torcedores? É algo difícil de ser resolvido.

A tendência é vermos Ronald Koeman sendo usado muito mais como um escudo para a diretoria do Barcelona como alguém que realmente possa devolver o protagonismo ao clube catalão. É claro que o holandês pode dar certo e fazer com que sua equipe volte a jogar em alto nível. O grande problema é que isso depende de uma série de fatores que vão desde a permanência (ou não) de Messi chegando até às escolhas extremamente equivocadas de Josep Maria Bartomeu na presidência do Barça. Complicado enxergar um horizonte favorável.

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