Home Futebol Flamengo supera os problemas coletivos, vê Diego Alves se agigantar e leva o título da Supercopa do Brasil 2021

Flamengo supera os problemas coletivos, vê Diego Alves se agigantar e leva o título da Supercopa do Brasil 2021

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a atuação do time de Rogério Ceni contra o Palmeiras de Abel Ferreira

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Flamengo e Palmeiras foram os protagonistas daquele que foi o jogo mais emocionante dessa temporada. Este que escreve fala com tranquilidade. Tudo o que vimos neste domingo (11) na Arena Mané Garrincha, em Brasília, coloca as equipes comandadas por Rogério Ceni e Abel Ferreira com as melhores do país no momento. Só que cada uma delas tem seu estilo. Enquanto o Fla tentava se garantir na base da qualidade individual de Gabigol, Filipe Luís, Arrascaeta e (principalmente) Diego Alves, o Verdão sobrou no aspecto coletivo com as entradas de Danilo, Gabriel Menino e Gabriel Verón na segunda etapa. Quiseram os deuses do velho e rude esporte bretão que o camisa 1 rubro-negro se agigantou na decisão por penalidades e garantiu mais um título para um Flamengo que ainda pode jogar muito mais do que jogou. Mesmo assim, o título da Supercopa do Brasil 2021 está em ótimas mãos.

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Quem esperava um Palmeiras mais reativo e pragmático, viu a equipe de Abel Ferreira jogar no campo do Flamengo com suas linhas adiantadas e com cada jogador sabendo exatamente a quem pressionar naquele setor. O golaço marcado por Raphael Veiga nasceu justamente dessa pressão. Felipe Melo interceptou o chute de Diego Alves e passou a bola para o camisa 23 se livrar de Willian Arão com um drible desconcertante e tocar na saída do goleiro rubro-negro. A decisão da Supercopa do Brasil começava a todo vapor e com um Palmeiras que alternava a forte marcação na saída de um Flamengo ainda atônito com uma postura mais cautelosa: linhas mais baixas e espaço para acionar Wesley, Breno Lopes e Rony nas bolas longas às costas de Rodrigo Caio e Willian Arão. Destaque para a grande atuação de Raphael Veiga. Perfeito na leitura dos espaços e na distribuição dos passes no meio-campo.

Do outro lado, o Flamengo seguia extremamente previsível e lento nas transições. A partir do momento em que Bruno Henrique, Arrascaeta e Gabigol começaram a se movimentar mais, a qualidade do atual bicampeão brasileiro começou a ser facilmente percebida. Filipe Luís merecia ter feito o gol que o camisa 9 não desperdiçou aos 22 minutos do primeiro tempo. Tudo isso contrastava com a visível irritação de Abel Ferreira com relação à arbitragem confusa de Leandro Vuaden. Mesmo assim, o Palmeiras não sentiu o gol e seguiu com sua estratégia. Breno Lopes e Wesley eram tormento constante para Rodrigo Caio, Willian Arão e Isla. Ao mesmo tempo, Rony continuava com muito espaço atacar. Só que o Flamengo tinha Arrascaeta. E o uruguaio confirmou mais uma vez que vive uma grande fase ao fazer toda a jogada do segundo gol da equipe comandada por Rogério Ceni aos 48 minutos da primeira etapa.

Vale destacar que Rogério Ceni repetiu a estratégia utilizada no Campeonato Brasileiro mais de uma vez. O treinador trouxe Arrascaeta para o meio e abriu Bruno Henrique pelo lado esquerdo. O objetivo aqui era explorar os erros de Marcos Rocha no lado direito da defesa do Palmeiras. O camisa 2 errava no tempo do bote e ainda abria espaços generosos para qualquer jogador rubro-negro entrar na área ou tentar o chute a gol. Fora isso, o escrete de Abel Ferreira sofria muito com a movimentação do quarteto ofensivo às costas de Zé Rafael e Felipe Melo. As entradas de Danilo e Gabriel Menino não só corrigiram esse problema no segundo tempo. Elas fizeram o Palmeiras ganhar o meio-campo, controlar a primeira e a segunda bola e ainda colocar ainda mais pressão num Flamengo que já sentia demais o cansaço e o horário da partida na Arena Mané Garrincha. Coletivamente, o Palmeiras sobrava.

Sobrava tanto que a equipe paulista empatou a partida aos 28 minutos do segundo tempo novamente com Raphael Veiga (desta vez cobrando penalidade sofrida por Rony após puxão de Rodrigo Caio). Se Abel Ferreira acertava em cheio com as entradas de Gabriel Verón e Mayke nos lugares de Wesley e Marcos Rocha, Rogério Ceni vacilou ao sacar Diego Ribas (que já havia salvado um gol em cima da linha no primeiro tempo) e manter Everton Ribeiro em campo e Willian Arão na zaga. O Flamengo seguiu sofrendo com os problemas nas transições defensivas. Não é algo pontual. É algo que vem se tornando corriqueiro. Além disso, o 4-4-2 proposto por Ceni ainda precisa de muitos ajustes. Difícil não afirmar que o Fla sofreu demais no seu primeiro grande teste nessa temporada. Mesmo com Gabigol e Vitinho fazendo Weverton trabalhar nos minutos finais da partida. Faltava intensidade. Isso era mais do que claro.

Este que escreve também ficou com a impressão de falta dentro da área em lance envolvendo Isla e Wesley (ainda que o VAR tenha dito o contrário). Mas se a torcida do Palmeiras está na bronca com a arbitragem, também deve reclamar muito da participação dos jogadores na decisão por penalidades. O escrete de Abel Ferreira deve duas chances de levantar a taça, mas Luan e Danilo (justo um dos melhores em campo) esbarraram num gigante chamado Diego Alves. Foram quatro cobranças defendidas com uma tranquilidade de quem fazia tudo parecer fácil e com uma força mental que poucos jogadores no mundo possuem. Difícil não perceber o claro nervosismo de Luan, Danilo, Gabriel Menino e Mayke na frente do goleiro rubro-negro. Mesmo respeito que Weverton impunha debaixo das traves com a bola rolando e na marca de cal. A impressão que ficou, no entanto, foi a de o Flamengo parecia ter mais “casca” do que o Palmeiras.

É lógico que o Flamengo teve muitos méritos na conquista da Supercopa do Brasil. A questão é que o time foi muito mais letal quando as individualidades apareceram do que no jogo coletivo. Nesse ponto, o Palmeiras de Abel Ferreira foi amplamente superior e só não construiu a virada ainda no tempo normal por conta das falhas nas conclusões a gol e por conta da grande atuação de Diego Alves. Está mais do que claro que Rogério Ceni já faz parte do primeiro escalão do futebol brasileiro, mas ainda erra demais em algumas escolhas. Quando consegue organizar a equipe, o Flamengo se impõe até com uma certa facilidade. Todas as deficiências do escrete rubro-negro foram percebidas e muito bem exploradas por Abel Ferreira na escalação inicial e na maneira como seu time se impôs no segundo tempo. Ceni ainda vai evoluir bastante. Mas precisa rever alguns dos seus conceitos e fazer ajustes no Fla.

A Supercopa do Brasil 2021 reuniu as duas melhores equipes do Brasil no momento. Ainda estamos no início de temporada e a tendência é vermos Flamengo e Palmeiras oscilando demais nos próximos meses por conta da grande maratona de jogos que ambos terão pela frente com Libertadores, Copa do Brasil e o Brasileirão. Natural diante de um calendário insano e que atinge diretamente a qualidade do jogo praticado aqui por essas bandas.

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