Home Futebol Defensivo? Burocrático? Palmeiras mostra que é possível ser ofensivo e envolvente jogando com três zagueiros

Defensivo? Burocrático? Palmeiras mostra que é possível ser ofensivo e envolvente jogando com três zagueiros

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa a goleada do time de Abel Ferreira sobre o Independiente del Valle

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

As críticas (na grande maioria infundadas) e todos os questionamentos sobre a escolha de Abel Ferreira pela formação com três zagueiros só serviram para mostrar como o debate sobre o velho e rude esporte bretão ainda é extremamente raso aqui por estas bandas. Ao invés de citarem o calendário insano de jogos e o desgaste de um ótimo elenco que conquistou dois títulos importantíssimos não tem muito tempo, alguns preferem se manter na mesmice e classificar o 3-5-2 utilizado pelo treinador português como sinônimo de “retranca”. E a resposta não poderia ter sido melhor. O Palmeiras jogou com muita aplicação tática e mostrou que é plenamente possível adotar uma postura agressiva no ataque jogando com três zagueiros nos 5 a 0 inapeláveis sobre o Independiente del Valle pela segunda rodada da fase de grupos da Copa Libertadores da América. Vitória com autoridade. E jogando no 3-5-2.

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A estratégia de Abel Ferreira era bem simples. Com Danilo na base do meio-campo, Patrick de Paula jogando mais avançado (e alinhado a Raphael Veiga), Luiz Adriano puxando a marcação e Rony acelerando no terço final, o Palmeiras aproveitou bem os problemas defensivos do seu adversário desta terça-feira (27) no Allianz Parque. Mesmo nas duas vitórias sobre o Grêmio na fase eliminatória, o Independiente del Valle mostrou certa dificuldade na recomposição defensiva e sofreu demais com a ausência do meia Christian Ortiz. O primeiro gol do Verdão (marcado por Rony aos 10 minutos de partida) mostra bem como a marcação na saída de bola da equipe equatoriana funcionou muito bem e como o camisa 7 já se posicionava de modo a projetar o corpo para esperar o passe de Raphael Veiga logo depois da roubada de bola na intermediária ofensiva. O Independiente del Valle tinha a posse da bola, mas produzia pouco.

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Raphael Veiga intercepta o passe na intermediária e lança Rony entre os zagueiros do Independiente del Valle no lance do primeiro gol do Palmeiras. Destaque para a defesa desarrumada do Independiente del Valle e para a postura agressiva do Palmeiras assim que o time recupera a bola. Foto: Reprodução / ESPN Brasil

Os números do SofaScore nos mostram que o Palmeiras teve “apenas” 37% de posse de bola em toda a partida no Allianz Parque. Mas o grande “x” da questão está no número de finalizações. Se o Independiente del Valle finalizou 17 vezes contra 12 do escrete de Abel Ferreira, apenas quatro desses chutes foram na direção do gol de Weverton (contra dez finalizações no alvo por parte do clube paulista). Não é sobre ter a bola. É sobre o que fazer com ela assim que você a recupera. E o Palmeiras tem mostrado que sabe muito que movimentos deve realizar em cada situação de jogo. O lance do gol de Luiz Adriano (o segundo da partida) mostra Raphael Veiga e Patrick de Paula exercendo uma forte pressão no portador da bola ao mesmo tempo em que Rony, Danilo e Victor Luís puxam a marcação para deixar o camisa 10 com liberdade para receber o passe, escolher o canto e sair para o abraço em São Paulo.

Raphael Veiga e Patrick de Paula forçam o erro na saída de bola e o camisa 5 acha Luiz Adriano entre os zagueiros no lance do segundo gol o Palmeiras. A postura agressiva do time comandado por Abel Ferreira explorava bem os (muitos) problemas defensivos do Independiente del Valle. Foto: Reprodução / ESPN Brasil

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O Palmeiras só sofreu com o ataque adversário quando diminuiu o ritmo. Na maior parte do jogo, o que se via era uma equipe que tinha a posse da bola e não sabia ao certo o que fazer com ela e outra muito bem organizada num 3-5-2/3-1-4-2 que colocava muita intensidade nas transições. A partir do momento em que o escrete de Abel Ferreira resolveu acelerar, os gols foram saindo aos poucos. O lance mais emblemático para este que escreve é o gol de Patrick de Paula, nascido da postura agressiva do setor ofensivo e da aplicação do camisa 5 até o momento em que ele vence o goleiro Moisés Ramírez. Mesmo com Luiz Adriano mais afastado da jogada, Marcos Rocha e Victor Luís aparecem no campo adversário e são importantes para fechar as linhas de passe do Independiente del Valle. E lá atrás estão os tão comentados três zagueiros encurtando o campo e empurrando o adversário para trás.

O trio de zagueiros avança para a linha do meio-campo, Marcos Rocha e Victor Luís avançam e Patrick de Paula e Raphael Veiga pressionam a saída de bola do Independiente del Valle. O tão criticado 3-5-2/3-1-4-2 de Abel Ferreira funcionou muito bem na partida desta terça-feira (27) Foto: Reprodução / ESPN Brasil

Ainda haveria tempo para Rony e Danilo Barbosa balançarem as redes e fecharem a goleada do Palmeiras sobre um frágil e desorganizado Independiente del Valle em São Paulo. A vitória não somente dá um pouco de paz para Abel Ferreira trabalhar. Ela também serve como uma resposta clara para aqueles que analisam (???) o futebol de maneira tão rasa. O esquema com três zagueiros já foi sim utilizado como uma forma de reforçar o sistema defensivo de várias equipes do país num contexto específico de cada uma. O 3-5-2 do Palmeiras foi agressivo no ataque, intenso nas transições e muito organizado enquanto o time como um todo manteve o ritmo. Além disso, ajudou a espalhar melhor os jogadores em campo sem perder o equilíbrio. Principalmente com Patrick de Paula jogando mais próximo de Raphael Veiga e participando ativamente das jogadas de ataque num Palmeiras letal e preciso em cada investida.

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Assim como acontece com qualquer equipe do mundo, o Palmeiras também passa por um novo processo de adaptação. É preciso lembrar que estamos em outra temporada, com um calendário muito mais puxado do que o do ano passado e que é preciso se planejar muito bem para não estourar os jogadores. As oscilações vão acontecer. É natural. O que não pode acontecer é a redução do debate a um nível baixíssimo como aconteceu nos últimos dias. Seja no time de Abel Ferreira ou em qualquer outro.

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