Home Futebol Ex-Doido é ótimo técnico. Que não vire outro cricri

Ex-Doido é ótimo técnico. Que não vire outro cricri

Em carreira ascendente, Lisca precisa reavaliar o hábito de reclamar que marcou de vez o também treinador gaúcho Mano Menezes

Cláudio Arreguy
Colaborador do Torcedores

Luiz Antônio Venker Menezes, gaúcho de Passo do Sobrado conhecido como Mano Menezes, surgiu como revelação entre os treinadores brasileiros ao levar o modesto 15 de Novembro de Campo Bom às semifinais da Copa do Brasil em 2004. Destacou-se no Grêmio com o título da Série B do Brasileiro na épica Batalha dos Aflitos em 2005 e como finalista da Libertadores de 2007. Contratado para tirar outro gigante da Segunda Divisão Nacional, atingiu o objetivo no Corinthians em 2008 e, de quebra, faturou a Copa do Brasil de 2009. Ascensão que o levou à Seleção Brasileira para suceder o também gaúcho Dunga em 2010. Cargo do qual foi apeado dois anos depois pela dupla José Maria Marin-Marco Polo del Nero que comandava a CBF, para o retorno de mais um nascido no Rio Grande do Sul: Felipão.

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O tapete puxado na Seleção não impediu Mano de pegar outro caminho e continuar prestigiado. À frente do Flamengo, pediu demissão dias depois de eliminar o favorito Cruzeiro nas oitavas de final da Copa do Brasil de 2013. Com um time que, nas mãos de Jaime de Almeida, conquistaria o título da competição. Retornou ao Corinthians, com passagem razoável em 2014, e foi chamado pelo Cruzeiro que padecia no Brasileiro de 2015 nas mãos de Vanderlei Luxemburgo. Tirou o time das últimas colocações e por pouco não o levou à Libertadores. Atraído por proposta milionária, foi para a China, mas não ficou mais do que alguns meses. Ao retornar, o Cruzeiro o chamou de volta, dispensando o português Paulo Bento, que colhia maus resultados no processo de adaptação ao futebol brasileiro.

Não se pode negar que Mano tenha feito bom trabalho no Cruzeiro, ao conquistar o bicampeonato da Copa do Brasil em 2017 e 2018 e o bi mineiro em 2018 e 2019. Mas deixou o time em má situação, com o clube envolvido em escândalos e em trajetória descendente rumo à Série B. Mais que isso, consolidou a fama de reclamão. Não passava jogo em que não fosse visto discutindo com árbitros e assistentes à beira do campo. Com quase 59 anos, depois de passagens sem sucesso por Palmeiras e Bahia, dirige hoje o árabe Al-Nassr.

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Pois bem, nas pegadas do Mano, um xará gaúcho faz sucesso hoje no futebol mineiro: Luiz Carlos Cirne Lima de Lorenzi, neto e bisneto de goleiros do Internacional. Aos 48 anos, o porto alegrense Lisca não teve a ascensão fulminante do coestaduano, gramou mais em clubes de menor expressão. Mas no América-MG encontrou o cenário ideal para mostrar as qualidades de bom treinador, cultor do futebol ofensivo, com jogadas ensaiadas e repertório respeitável.

Com tais credenciais, não é à toa que deixou para trás o complemento de Doido que acompanhava o nome de guerra. Em atitude elogiável, recusou propostas do Cruzeiro e do Santos e sondagens de outros gigantes, preferindo ajudar o Coelho a galgar mais um degrau entre as forças nacionais. Semifinalista da Copa do Brasil de 2020, depois de eliminar Corinthians e Internacional na sequência, e vice-campeão da Série B, superado pela Chapecoense no saldo de gols, ele quer levar o time a deixar de ser ioiô entre a Primeira e a Segunda Divisões. De fato, é agradável ver seu América jogar.

Mas Lisca precisa cuidar do que já vem se tornando um defeito que colou de vez em Mano. Não há jogo em que ele não seja visto discutindo à beira do campo com árbitros, assistentes e adversários, como ocorreu no último clássico contra o Cruzeiro. Ainda que tenha razão em uma ou outra queixa, não tem em todas. O vitimismo pode acabar se voltando contra ele. Se não se cuidar, vai acabar tachado de cricri como o ex-comandante cruzeirense. E ninguém vai se lembrar que, ao falar de futebol em entrevistas, exibe grande conhecimento e atualização sobre o assunto.

Que Lisca continue em sua escalada entre os bons técnicos do futebol brasileiro, desejam os apreciadores do futebol bem jogado, cujo América por ele dirigido é bom exemplo. Mas que deixe um pouco de lado o hábito nada saudável de reclamar de tudo e de todos que marca o xará Mano.

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