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Cruzeiro: S.A ou inviabilidade

Projeto do clube-empresa é visto pelo comando da agremiação e por empresários como única maneira de salvação celeste

Cláudio Arreguy
Colaborador do Torcedores

Grande parte da torcida do Cruzeiro tem se especializado ultimamente em matéria que passava muito distante de suas preocupações: balanço, equilíbrio receita-despesa, dívidas de curto, médio e longo prazos, valor de marca, patrimônio negociável… Algo bem distinto dos tempos em que pensava mais em gols, vitórias e troféus.

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A cada fracasso em campo e/ou troca de treinadores ‒ ocorrências constantes nos últimos dois anos ‒ a China Azul se convence de que não depende apenas dos resultados do time a recuperação da imagem, leia-se poderio, que o fazia ser temido por adversários brasileiros e sul-americanos. Se o clube não se viabilizar como tal, não reaprender a andar sozinho, nada feito.

Com dívida beirando os R$ 900 milhões e previsão de não mais do que R$ 110 milhões de faturamento na temporada, o Cruzeiro não pode contar com meios de arrecadação que o ajudavam a tocar o barco até dois anos atrás. A pandemia tirou os torcedores dos estádios e matou as arrecadações. As cotas de TV, com a queda para a Série B no ano passado e a permanência neste, despencaram. Os poucos jogadores negociados saíram na baixa, quase todos da base. Entre os experientes, não há nenhum capaz de atrair grandes somas. Vender patrimônio é uma saída, mas não resolve tudo. A sede urbana, por exemplo, está sendo negociada com uma instituição da Justiça, mas o preço (R$ 40 milhões) mal arranha a dívida. E boa parte do que é arrecadado é retida judicialmente.

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Em meio a tudo isso, avolumam-se ações movidas por ex-jogadores e funcionários ou por clubes com os quais a agremiação mineira negociou e não honrou as parcelas acordadas. Na atual Série B, os cruzeirenses não entraram com seis pontos a menos como na de 2020, por determinação da Fifa, mas a ameaça de novo transfer ban (proibição de contratar no mercado) permanece num horizonte longe de ser belo para a equipe da capital mineira. Revoltada, a torcida tem feito manifestações pela renúncia do presidente Sérgio Santos Rodrigues. Ele avisa que nem pensa nisso.

Uma luz no fim do túnel parece surgindo: um grupo de empresários está disposto a ajudar o Cruzeiro, de acordo com informações do colunista do Estado de Minas Jaeci Carvalho. O portal Superesportes, ligado ao EM, revela que haverá uma reunião na segunda-feira entre Sérgio e os empresários. Entre eles, Pedro Lourenço, dono do Supermercados BH, principal patrocinador da Raposa. Ele está rompido com Sérgio, insatisfeito com a condução do futebol.

Estes já adiantaram que ninguém porá no clube os R$ 300 milhões necessários para finalizar 2021 de maneira mais amena. Mas se interessam pelo projeto do senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG), o PL 5.516/2019, enviado no último dia 10 à Câmara dos Deputados.

Pelo texto do hoje presidente do Senado, seria criado o Sistema do Futebol Brasileiro, tipificado como Sociedade Anônima do Futebol, que estabelece diretrizes de governança, controle fiscal e transparência, meios de financiamento e sistema tributário específico. O modelo da SAF, se aprovado, submeterá os clubes que aderirem a regulação da Comissão de Valores Mobiliários, que permite emissão de debêntures e ações, mas exigirá contrapartidas sociais e critérios de responsabilização.

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Para esses empresários, o modelo pode ser a salvação celeste. Entendem que a marca Cruzeiro é forte para atrair investidores, porque não dá para desprezar uma paixão que move mais de 9 milhões de torcedores. Assim, eles topam entrar no jogo e participar dessa nova fase de reconstrução. E não custa registrar que Sérgio Rodrigues sempre se disse favorável à transformação do clube em empresa. E até se disporia, sempre no caso da aprovação da S.A., a deixar o futebol sob o comando de um dos empresários, até mesmo Pedro Lourenço.

Independentemente do andamento do projeto na Câmara e de sua aplicação no caso cruzeirense, convém ao time tentar fazer algo melhor em campo do que vinha sendo feito. Sem dinheiro para contratações, o novo técnico, Mozart, prefere buscar o que chama de “reforços internos”, ou seja, reincorporar aos planos jogadores que andavam em baixa com o antecessor, Felipe Conceição. Se vai dar certo, só o tempo dirá. Mas a medida aparentemente transformou para melhor o ambiente na Toca da Raposa.

Desconfiada, a torcida espera e torce duplamente: pela equipe e pela S.A.

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