Home Futebol Atuação mediana contra o Coritiba é a prova de que o Cruzeiro de Mozart ainda está em busca da cadência perfeita

Atuação mediana contra o Coritiba é a prova de que o Cruzeiro de Mozart ainda está em busca da cadência perfeita

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa o empate sem gols no Mineirão e as atuações das equipes de Mozart e Gustavo Morínigo

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Este que escreve entende bem o fato de que o futebol apresentado nesse Brasileirão da Série B é muito mais brigado do que jogado e que as partidas da competição tendem a ser niveladas por baixo. Aqueles times que melhor se adaptam a esse cenário que envolve gramados pesados, retrancas e predomínio do jogo reativo costumam ter mais sucesso. É essa busca por uma cadência mais perfeita vem sendo a grande sina do Cruzeiro nessa Série B. A Raposa mostra volume de jogo e até cria algumas chances, mas acaba pecando demais pela posse de bola sem agressividade e pelos problemas crônicos nas transições defensivas. Fosse o Coritiba de Gustavo Morínigo um pouco mais feliz nas conclusões a gol, o escrete comandado por Mozart poderia ter ficado ainda mais próximo da zona do rebaixamento para a Série C. O terceiro empate seguido e a posição na tabela dizem muito sobre o momento do Cruzeiro na temporada.

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Essa procura pela cadência perfeita não envolve apenas a busca pela formação que melhor encaixe os talentos que Mozart tem à sua disposição na Raposa. Trata-se também da adaptação do estilo de jogo do treinador celeste às características dos seus atletas. Depois de ter apostado até num 3-4-3 interessante no jogo contra o Vasco, os desfalques obrigaram o treinador a voltar para o 4-2-3-1 para encara o organizado e aplicado Coritba de Gustavo Morínigo (que utilizava a mesma formação do seu adversário). O Cruzeiro tinha a bola, se movimentava, mas não conseguia ter a intensidade suficiente para furar o eficiente bloqueio defensivo do seu adversário. Nem mesmo com Rafael Sóbis jogando como referência móvel e com a chegada constante de Airton, Marcinho e Bruno José. O Coxa bloqueava as saídas da Raposa e ainda levava perigo ao gol defendido por Fábio com Rafinha bem próximo de Léo Gamalho.

Coritiba vs Cruzeiro - Football tactics and formations

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Diante dos desfalques de Cáceres, Weverton e Matheus Barbosa, o técnico Mozart escalou o Cruzeiro num 4-2-3-1 que mantinha a posse da bola, mas não tinha intensidade suficiente para levar perigo ao gol de Wilson. O Coritiba, por sua vez, apostava num jogo mais reativo e de muita velocidade.

Ainda no início da partida, Bruno José desperdiçou chance incrível na frente de Wilson. Além dele, Marcinho e Giovanni assustaram a equipe paranaense com chutes de média distância. Mas ficou nisso. Quando conseguia se livrar da marcação, o ataque do Cruzeiro ou errava o alvo ou facilitava demais a vida da defesa do Coxa Branca com chutes fracos ou passes errados. No segundo tempo, o Coritiba começou a se soltar mais e acabou escancarando outro problema crônico do time de Mozart: a recomposição defensiva. É compreensível que o técnico celeste queira adotar uma postura mais propositiva e ofensiva (principalmente jogando dentro de casa). A grande questão é que o Coritiba teve espaços generosos entre as linhas da Raposa e começou a criar problemas para o sistema defensivo do Cruzeiro apenas com a movimentação de Léo Gamalho e com Igor Paixão e Waguinho entrando em diagonal.

Um dos problemas mais crônicos do Cruzeiro está na transição defensiva lenta e sem compactação. Não foram poucas as vezes em que o escrete de Mozart viu o Coritiba explorar os espaços que apareciam entre as linhas da Raposa com boa movimentação ofensiva. Foto: Reprodução / YouTube / GE

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A cadência do Cruzeiro (que já não andava tão boa assim) começou a desandar de vez no final da partida, quando o ritmo ficou mais acelerado. Mozart ainda tentou dar mais fôlego ao ataque celeste com as entradas de Felipe Augusto e Marcelo Moreno nos lugares de Rafael Sóbis e Giovanni, mas os problemas continuaram. O ponto mais forte da Raposa era o lado direito, com as descidas de Bruno José e Norberto Neto naquele setor (sempre às costas de Guilherme Biro). Do outro lado, Gustavo Morínigo deu fôlego novo ao Coritiba com as entradas de Matheus Sales, William Alves e Robinho. Tanto que a melhor chance da partida aconteceu já nos acréscimos com o volante Val acertando uma bomba na trave esquerda de Fábio. O apito final no Mineirão veio com a sensação de que ambas as equipes poderiam ter feito mais. Além da certeza de que a busca pela cadência perfeita vai durar bastante tempo no Cruzeiro.

Cruzeiro vs Coritiba - Football tactics and formations

O final da partida no Mineirão ficou marcado pela postura mais solta de Cruzeiro e Coritiba. Mesmo assim, quem levou mais perigo foi a equipe de Gustavo Morínigo ao se valer de boas trocas de passe que exploravam os problemas crônicos na compactação e na cobertura da defesa celeste.

Este que escreve entende bem que o Cruzeiro vive um mar de problemas e que Mozart se vê obrigado a lidar com uma série de dificuldades. As lesões no elenco, as contratações duvidosas, as péssimas condições físicas de jogadores mais experientes e a falta de dinheiro para contratações são apenas algumas delas. Mesmo assim, essa mesma equipe já teve apresentações mais consistentes nessa mesma Série B. O ponto conquistado dentro de casa também ajuda muito pouco na briga pelo acesso e na saída da “zona da confusão”. É por isso que essa tal “cadência perfeita” precisa ser encontrada o mais rápido possível dentro do que Mozart já tem à sua disposição. Difícil não perceber nessa partida apenas razoável do Coritiba nesta terça-feira (6) um certo alento para as pretensões do Cruzeiro. Ainda mais sabendo que o Coxa Branca tem mais qualidade e mais organização com e sem a bola.

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A volta dos lesionados e o aproveitamento de jogadores mais experientes como o zagueiro Rhodolfo e o atacante Wellington Nem podem dar um toque a mais de solidez à equipe celeste. Mas ainda será muito pouco para colocar o Cruzeiro na briga pelas primeiras posições. A campanha ruim na Série B é o perfeito retrato de uma equipe que se perdeu na batida, desandou a cadência e atravessou completamente o ritmo. E olha que não há nada que não possa piorar nessa vida da Raposa…

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