Home Futebol Bicampeonato da Sul-Americana é a prova de que o Athletico Paranaense está acostumado a vencer jogos grandes

Bicampeonato da Sul-Americana é a prova de que o Athletico Paranaense está acostumado a vencer jogos grandes

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira explica como Alberto Valentim montou o Furacão para vencer o Red Bull Bragantino de Maurício Barbieri

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

É verdade que a final da Copa Sul-Americana não nos reservou grandes emoções. O jogo (disputado no Estádio Centenário, em Montevidéu) foi muito mais truncado do que jogado e a decisão exigia atenção e concentração por parte das duas equipes que estavam em campo neste sábado (20). Diante desse cenário, é preciso reconhecer que o Athletico Paranaense fez por merecer o bicampeonato da competição continental. Não somente pela maneira como Alberto Valentim organizou seu sistema defensivo e pela concentração apresentada contra o Red Bull Bragantino (time apontado como favorito ao título por muita gente), mas por estarmos falando de um clube acostumado a vencer jogos grandes. Essa tem sido a tônica do Furacão nos últimos três anos com os títulos da Copa Sul-Americana em 2018, da Copa do Brasil em 2019 e agora com o bicampeonato continental em 2021. Conquista mais do que merecida.

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Se o Red Bull Bragantino quase não ameaçou o gol de Santos, muito se deve à organização defensiva do Athletico Paranaense. Time escalado no 3-4-3 e que marcava num 5-2-3/5-4-1 que fechava bem os lados do campo com o recuo de Marcinho e Abner para junto do trio de zagueiros. Enquanto Alberto Valentim mandava a campo aquilo que tinha de melhor, este que escreve se surpreendia com a escalação inicial do Massa Bruta. Sem Eric Ramires e Lucas Evangelista à disposição, Maurício Barbieri apostou na entrada de Cuello mais recuado e alinhado a Praxedes (com a bola) e recuando como um volante sem ela no 4-3-3/4-4-2 costumeiro do treinador. Na prática, o que se via no Estádio Centenário era um Athletico Paranaense marcando em bloco mais baixo e muito sólido e organizado na defesa com a linha de cinco fechando a área. Por mais que o Bragantino tentasse, o time não conseguia passar da intermediária.

Athletico Paranaense vs Red Bull Bragantino - Football tactics and formations

Formação inicial das duas equipes no Estádio Centenário. Alberto Valentim não mexeu no Athletico Paranaense e Maurício Barbieri surpreendeu entrada de Cuello no meio-campo.

Mesmo assim, o Athletico Paranaense demorou um pouco para encaixar seu jogo e se organizar na defesa, visto que o Bragantino conseguiu levar certo perigo com as investidas de Helinho e Edimar pelo lado esquerdo às costas de Marcinho. Mesmo assim, a impressão que ficava era a de que o Massa Bruta parecia receoso de ser mais incisivo no ataque, de mostrar a agressividade e o futebol de toques rápidos que eu e você nos acostumamos a ver nessa temporada de 2021 com Maurício Barbieri. Enquanto isso, o Furacão ia se organizando e encontrando espaços no campo ofensivo. Principalmente pelo lado esquerdo, com Terans e Abner.

Os primeiros minutos da primeira etapa nos mostrava um Athletico Paranaense mais organizado, mais focado e mais “cascudo”. O time de Alberto Valentim tinha uma identidade e um espírito mais competitivo do que seus adversários. E isso faz muita diferença num torneio como a Copa Sul-Americana. Ainda mais quando o Furacão aproveitou os problemas de marcação no lado direito do Bragantino para abrir o placar aos 28 minutos. Pedro Henrique viu Terans se lançando às costas de Aderlan e fez a inversão. O camisa 20 aproveitou a falha do lateral do Massa Bruta, invadiu a área e chutou cruzado. No rebote, Nikão acertou um belo voleio.

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Pedro Henrique avançou até a intermediária sem ser incomodado e fez a inversão para Terans (que se lançava às costas de Aderlan). O camisa 20 do Athletico Paranaense teve liberdade para entrar na área e fuzilar Cleiton. No rebote, Nikão marcou o gol do título. Foto: Reprodução / YouTube / Conmebol Sudamericana

Notem no frame acima que Artur não fecha a linha do meio-campo e abre o espaço para que Terans pudesse se lançar em diagonal às costas de Aderlan (que também falha ao tentar interceptar o passe). O gol de Nikão nada mais é do que consequência dessa hesitação do Bragantino na marcação e nas tramas ofensivas. Tanto que a vantagem no placar fez com que o Furacão passasse a ocupar mais o campo de ataque e forçasse bastante as jogadas pelos lados do campo com boas triangulações envolvendo os alas e a movimentação constante de Renato Kayzer entre as linhas defensivas do Massa Bruta. Léo Cittadini (outro que fez partida muito consistente) perdeu boa chance após erro na saída de bola ainda no primeiro tempo.

Mas a estrela da tarde se chamava Nikão. O camisa 11 do Athletico Paranaense fez de tudo. Acompanhou os avanços de Edimar para o ataque, fechou seu setor quando o Bragantino estava com a bola e foi importantíssimo nas transições ofensivas como o ponta com o “pé invertido”, isto é, o canhoto que joga pela direita, corta para dentro e abre o corredor para as descidas de Marcinho pelo setor. Fora isso, o espírito de liderança e a inteligência para jogar sem a bola foram fundamentais na campanha vitoriosa do Athletico Paranaense. Nikão não é dos jogadores mais “badalados”, mas costuma mostrar seu valor em momentos decisivos e jogos grandes. Exatamente como a final da Copa Sul-Americana.

A segunda etapa nos mostrou um Bragantino mais agressivo no ataque, mas que ainda encontrava problemas para entrar na área do Athletico Paranaense. Sempre que Artur, Helinho e Ytalo conseguiam dar sequência às jogadas pelos lados do campo, eles esbarravam na ótima marcação de Pedro Henrique, Thiago Heleno e Nico Hernández na frente da área. Difícil não notar as dificuldades do Massa Bruta para superar a linha de cinco defensores montada por Alberto Valentim e também para conter os avanços do Furacão. Maurício Barbieri ainda tentou dar mais força para sua equipe com as entradas de Gabriel Novaes, Hurtado e Alerrandro, mas o que se via era um Bragantino que jogava uma partida muito abaixo do que podia. Muito por causa da ótima marcação do Athletico Paranaense na frente da sua área, da aplicação tática dos jogadores e da “casca” criada em torno de um time acostumado a disputar (e vencer) jogos grandes.

O Bragantino melhorou seu desempenho na segunda etapa, mas teve muitas dificuldades para furar o eficiente bloqueio defensivo do Athletico Paranaense. Maurício Barbieri viu o Massa Bruta esbarrar eficiente e sólida linha de cinco defensores do escrete de Alberto Valentim. Foto: Reprodução / YouTube / Conmebol Sudamericana

O bicampeonato da Copa Sul-Americana deixa bem evidente que o Athletico Paranaense merece mais crédito e reconhecimento de todos nós. A equipe de Alberto Valentim pode não jogar o futebol mais vibrante e mais qualificado do continente, mas compete como poucos e ganhou muita experiência nesses últimos três anos, justamente o período mais vitorioso da história do clube do Paraná. Desde as conquistas com Tiago Nunes (em 2018 e 2019) e chegando até a classificação para a final da Copa do Brasil (com grande atuação coletiva na vitória em cima do Flamengo no Maracanã), o Furacão finalmente se consolida como um dos grandes do país na última década. Enquanto alguns mais tradicionais e com mais “grife” afundam em dívidas, desorganização e problemas de toda ordem, o Athletico Paranaense mostra que é possível ser competitivo e vencer jogos grandes sem grandes estrelas no seu elenco. É um time com uma identidade forte.

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Nikão, Santos, Thiago Heleno, Terans e Léo Cittadini se transformaram nos pilares de uma equipe que sabe jogar e sabe vencer jogos grandes. Como o deste sábado (20), em Montevidéu. Contudo, o título continental pode ser mais uma página de uma história que pode ser incrivelmente vencedora nos próximos meses. Certo é que o Athletico Paranaense já fincou sua bandeira no seleto grupo dos grandes clubes do continente. E negar isso é não reconhecer os méritos de todos que passaram por lá nos últimos anos.

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