Home Futebol Fluminense consegue virada importantíssima, mas deixa a impressão de que sofreu mais do que deveria

Fluminense consegue virada importantíssima, mas deixa a impressão de que sofreu mais do que deveria

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira destaca as escolhas de Abel Braga e a atuação do Tricolor das Laranjeiras na vitória sobre o Millonarios

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Quem vê apenas o resultado final do jogo desta terça-feira (22) pode até pensar que o time do Fluminense fez boa partida na altitude de Bogotá (2.640 metros) e conseguiu controlar o ímpeto do Millonarios diante de sua fanática torcida. De fato, é um grande resultado. Ainda mais numa fase eliminatória de Libertadores. E isso é o que importa para o torcedor tricolor. Mas a grande verdade é que o escrete comandado por Abel Braga deixou a desejar em vários momentos da partida em vários quesitos. A começar pela recomposição defensiva ruim no lance do gol de Eduardo Sosa e finalizando com as claras dificuldades para controlar as ações dentro de campo após a expulsão do camisa 8 do Millonarios ainda no primeiro tempo. O resultado final (embora importantíssimo) não pode esconder as deficiências de um Fluminense ainda em formação. Mesmo com a boa campanha no Campeonato Carioca.

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É interessante notar que não é a primeira vez que a equipe comandada por Abel Braga se complica quando enfrenta adversários que o tiram dessa “zona de conforto”. Foi assim nos jogos contra Botafogo e Flamengo (apesar do Fluminense ter conseguido a vitória nas duas oportunidades). Este que escreve até entende as escolhas de Abel Braga por um elenco mais “cascudo” para encarar os jogos da Libertadores e compromissos que exigem mais da parte mental dos jogadores. Mas não é muito difícil compreender os motivos que deixam o Tricolor das Laranjeiras mais preso em determinados cenários. E o Millonarios conseguiu tirar o Fluminense dessa “zona de conforto” com uma certa facilidade no início de partida.

Isso porque a equipe de Abel Braga demorou para entender como o escrete colombiano se comportava em campo e mostrou um certo nervosismo. Yago Felipe não estava numa noite muito inspirada e acabava sobrecarregando André na armação das jogadas. Do outro lado, as transições mais rápidas e o jogo de velocidade pelos lados do campo do 4-2-3-1 do time comandado por Alberto Gamero conseguiam desarrumar a defesa tricolor. Felipe Melo sofria para conter os avanços de Eduardo Sosa, Mackalister Silva e Daniel Ruíz pelo seu setor e a dupla de zaga mostrava certa dificuldade na marcação do ataque do Millonarios. Fora os erros de passe no meio-campo e a clara falta de criatividade no meio-campo de um Fluminense ainda atônito.

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Por outro lado, Abel Braga foi feliz na escolha da formação inicial do Fluminense. Justo por saber que o ponto forte do seu adversário era a ocupação da intermediária e a troca de passes na frente da defesa. Com Felipe Melo muito mais como volante do que como zagueiro, o Tricolor das Laranjeiras conseguia resolver parte dos seus problemas. No entanto, o gol de Eduardo Sosa expôs a fragilidade do escrete tricolor na recomposição e a falta de velocidade e objetividade para sair da forte pressão do Millonarios. Na prática, o jogo do Fluminense só fluía quando Luiz Henrique (um dos melhores em campo na opinião deste que escreve) deixava o lado do campo e abria o corredor para Calegari e André apoiarem. Mesmo assim, faltava capricho na conclusão das jogadas e a ausência de alguém que organizasse o time no meio-campo era facilmente percebida por todos que viam o jogo.

Abel Braga apostou em Felipe Melo como volante num 4-1-4-1 mais característico na partida contra o Millonarios. O Fluminense encontrava muitas dificuldades para fazer a bola chegar no ataque e sofria com as transições rápidas do seu adversário. Foto: Reprodução / YouTube / ESPN Brasil

Nem a tola expulsão de Eduardo Sosa fez com que o Tricolor das Laranjeiras se acertasse em campo num primeiro momento. Na prática, o escrete comandado por Abel Braga só conseguia ser mais efetivo e mais perigoso quando avançava a sua última linha e tirava o espaço de transição do Millonarios (já organizado num 4-4-1). O gol do empate nasceu de um lance parecido, com o goleiro Álvaro Montero soltando uma bola relativamente fácil dentro da pequena área antes de David Braz estufar as redes. Na volta do intervalo, Abel Braga fez aquilo que já se pedia no final da primeira etapa: sacou um dos atacantes (Willian Bigode no caso) e mandou John Arias para o jogo. O Fluminense ganhou mais velocidade e muito mais confiança. Principalmente quando Fábio defendeu penalidade de Mackalister Silva e o escrete colombiano sentiu a oportunidade perdida de voltar à frente no placar.

A expulsão de Eduardo Sosa fez com que o Millonarios recuasse suas linhas e fechasse a entrada da sua área num 4-4-1. O Fluminense ganhou volume de jogo e velocidade com a entrada de John Arias no lugar de Willian Bigode logo depois do intervalo. Foto: Reprodução / YouTube / ESPN Brasil

Com Ganso e Martinelli nos lugares de Felipe Melo (já amarelado) e Yago Felipe, Abel Braga conseguiu melhorar a produção ofensiva da sua equipe. O Fluminense ganhou mais movimentação no ataque e já não encontrava tantas dificuldades para entrar na área do seu adversário. O gol de Cano (o da virada) surgiu de contra-ataque de manual puxado por Martinelli (que parece estar voltando a jogar no nível de 2020) e Luiz Henrique pela direita. É interessante notar a movimentação de John Arias pelo outro lado quando este puxa a marcação do lateral Andrés Román e abre o espaço onde o camisa 14 do Fluzão aparece para balançar as redes. Resultado importantíssimo na altitude de Bogotá. Mas nem ele e nem os números da partida (ver no tweet após o primeiro parágrafo) escondem o fato de que o escrete comandado por Abel Braga teve mais sorte do que juízo nessa estreia na Libertadores.

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Martinelli recebe no meio-campo, vê John Arias e Luiz Henrique dando amplitude e Cano atacando o espaço. O gol da virada do Fluminense nasceu de contra-ataque de manual que teve a participação de dois jogadores que entraram no decorrer da partida. Foto: Reprodução / YouTube / ESPN Brasil

A impressão de que o Fluminense sofreu muito mais do que deveria passa por uma série de fatores. A altiude de Bogotá não pode ser ignorada e influencia sim no desempenho dos jogadores que não estão acostumados com esse cenário. Assim como a pressão da torcida do Millonarios no El Campín (ponto que explica a opção do técnico tricolor por um onze inicial mais “cascudo”). Mas também é preciso dizer que todas as dificuldades do Fluminense no jogo desta terça-feira (22) têm origem em algumas das escolhas de Abel Braga. Seja no 3-4-3 ou no 4-1-4-1, a criação das jogadas fica comprometida por conta da ausência de um criador de jogadas (que pode ser John Arias, Nathan ou até mesmo Ganso). Ao mesmo tempo, Yago Felipe, justamente o volante responsável por levar a bola ao ataque, não vem em boa fase e isso acaba sobrecarregando André e os laterais. Muitos ajustes ainda são necessários.

Mas também é preciso lembrar que a virada sobre o Millonarios foi apenas a NONA PARTIDA do Fluminense na temporada. Ainda é muito pouco tempo para se cobrar soluções e bom desempenho de qualquer equipe do mundo. Por outro lado, o jogo de estreia da equipe na Copa Libertadores da América deixou lições valiosíssimas para Abel Braga e companhia. Está mais do que claro que o Tricolor das Laranjeiras não pode jogar sem um meia de criação. Seja ele quem for.