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Dia da Mulher: Conheça as quatro mulheres presidentes de clubes de futebol australiano

Neste Dia Internacional da Mulher, o Torcedores.com vai mostrar a história das quatro mulheres presidentes de clubes da AFL e de produtoras de conteúdo sobre esportes

Por Luís Martinelli em 08/03/2022 06:59 - Atualizado há 4 anos

Neste 8 de Março é comemorado o Dia Internacional da Mulher. Então, nesta data especial, o Torcedores.com vai contar a história de quatro mulheres que são destaque no futebol australiano, sendo presidentes de clubes da Australian Football League (AFL): Peggy O’Neal, do Richmond Tigers, desde 2013; Kylie Watson-Wheeler, do Western Bulldogs, eleita presidente do time em 21 de dezembro de 2020; Kate Roffey, do Melbourne Demons, nomeada em abril de 2021; Dra. Sonja Hood, designada em março deste ano, pelo North Melbourne Kangaroos.

Desse modo, dos 18 clubes da AFL, quatro são comandados por mulheres.

Além disso, convidamos três mulheres que produzem conteúdo sobre esportes para comentar sobre o impacto e a importância de se ter mulheres em cargos de poder.

Sonja Hood: a mais nova nomeada

Na próxima terça-feira (15), a Dra. Sonja Hood vai assumir a presidência do North Melbourne Kangaroos, após a aposentadoria do ex-presidente Ben Buckley, seis meses antes do término do seu mandato.

Doutora em Saúde da População pela Universidade de Melbourne e mestre em Política na Universidade de Penn State, Hood foi membro da Scanlon Foundation e presidente do conselho da McAuley Community Services for Women.

Entre 2011 e 2015, Sonja foi Gerente Geral de engajamento comunitário do North Melbourne, sendo uma das responsáveis por estabelecer o programa comunitário “The Huddle”, considerado um dos melhores programas comunitários da Austrália.

Profissionalmente, a Dra. Hood é CEO da Community Hubs Australia (CHA), um projeto social que liga governo, filantropia e escolas. Só para ilustrar, nos últimos cinco anos, Sonja aumentou o número de sedes de 39 para quase 100, além do crescimento significativo financeiro e de alcance.

Peggy O’Neal: pioneirismo e criação da dinastia mais recente do futebol australiano

Nascida em 19 de abril de 1952, no interior do estado de West Virginia, nos Estados Unidos, Peggy O’Neal foi a primeira pessoa da família a ingressar no ensino superior, formando-se em direito na Universidade da Virginia. Quando estava na escola secundária, ela vivenciou o início dos protestos do “Movimento da Libertação das Mulheres” e decidiu que levaria esses ideais de luta pela igualdade de gênero durante a sua vida.

O’Neal se mudou para a Austrália em 1993, vivendo no subúrbio de Richmond, em Melbourne. Lá, conheceu o futebol australiano e se interessou pelo time do Richmond Tigers. Na carreira profissional, ela trabalhou como parceira em um escritório de advocacia e atualmente é consultora em outro.

Em novembro de 2005, O’Neal entrou para o conselho dos Tigers, sendo a primeira mulher a  ocupar um cargo deste no clube, e ocupou outros posteriormente. No dia 3 de outubro de 2013, Peggy O’Neal foi eleita presidente do Richmond Tigers, após a saída de Gary March, sendo a primeira mulher a ocupar a presidência de um clube da AFL.

Antes de a atual presidente assumir, os Tigers viveram um período complicado. O clube não conquistava um título desde 1980 e passou 15 anos sem vencer nenhuma partida nas finais da Australian Football League. O clube era conhecido na imprensa por ser cenário de uma batalha de egos e por demitir treinadores com muita frequência.

Mas com a gestão de Peggy O’Neal, o Richmond começou a reencontrar o caminho do sucesso. Após a temporada 2016, quando o clube terminou apenas na 13ª posição na tabela – enquanto nos três anos anteriores os Tigers tinham atingido os playoffs -, houve forte pressão para demitir o treinador Damien Hardwick, que treinava Richmond desde 2010, porém O’Neal foi paciente e manteve Hardwick no comando do time. Resultado: a partir de 2017, os Tigers venceram três dos quatro títulos da Australian Football League até 2020, tornando-se a dinastia mais recente do futebol australiano.

Kylie Watson-Wheeler

Em 21 de dezembro de 2020, Kylie Watson-Wheeler foi eleita por unanimidade presidente do Western Bulldogs pelos diretores do conselho do clube. Por quatro anos, ela foi vice-presidente da agremiação, substituindo Peter Gordon, que ocupou a presidência dos Bulldogs duas vezes, no período entre 1989 e 1996, e a partir de 2012.

Kylie nasceu no subúrbio de Footscray, onde fica a sede do Western Bulldogs, sendo torcedora dos Bulldogs e desde 2013 era membro da diretoria do clube. Na vida profissional, ela é vice-presidente sênior e diretora administrativa da Walt Disney Company na Austrália e Nova Zelândia.

Na temporada passada, o Western Bulldogs chegou à AFL Grand Final, a decisão da liga de futebol australiano, mas foi derrotado pelo Melbourne Demons, time que também é comandado por uma mulher.

Kate Roffey

No dia 11 de abril de 2021, a diretora de negócios, investimentos e grandes projetos de Wyndham City, uma área governamental do estado de Victória, na Austrália, Kate Roffey assumiu a presidência do Melbourne Demons, o clube mais antigo de futebol australiano da Australian Football League (AFL), que existe desde 1858, se tornando a 22ª presidente da instituição e a primeira mulher.

Ex-diretora geral de uma organização sem fins lucrativos e de instituição promovedora de esportes no estado de Victória, Kate era membro do conselho dos Demons há sete anos e ocupa o posto deixado por Glen Bartlett, o qual era presidente do clube desde 2013 e decidiu deixar o cargo para se dedicar mais à vida profissional e pessoal.

Kate Roffey pretende levar o clube ao sucesso dentro e fora de campo, conquistando premierships (como é chamado o campeonato do futebol australiano), promover avanços das mulheres dentro do esporte e a inclusão de todas as pessoas.

Aliás, logo durante o primeiro ano do seu mandato, os Demons conquistaram o título da AFL em 2021. Depois de ter terminado a home-and-away season, como é conhecida a temporada regular da liga, no primeiro lugar, sendo minor premiership, os Demons acabaram com 54 anos de seca e bateram os Bulldogs na Grand Final, ganhando o 13° título da história do clube.

Mulheres no esporte: representatividade e inspiração

De acordo com a cientista de dados e produtora de conteúdo sobre a National Football League (NFL), a principal liga de futebol americano dos Estados Unidos, desde 2016, Carol Grigori, carioca, mas que atualmente vive em Santos, São Paulo, de 26 anos, ver mulheres em cargos de poder no esporte é importante para a questão da representatividade.

“Ser mulher é muito difícil, já foi muito mais, a gente vai conquistando (espaço) passo a passo e essa questão da representatividade é muito importante, para inspirar mais mulheres e elas verem que é possível e também são capazes de alcançar o que elas desejarem, seja no esporte, seja em qualquer área”, diz Carol. “Todas as mulheres que alcançaram esses cargos são plenamente capazes e vão provar; quem discorda ou dúvida, só vão morder a língua”, brinca.

Assim como Carol, a técnica em mecânica, moradora de São Paulo e produtora de conteúdo sobre futebol americano, Giovanna Sociarelli, 18, bate na tecla da representatividade e cita o exemplo da treinadora de futebol americano Katie Sowers.

“Eu sempre gosto de usar o exemplo da Katie Sowers, que era coordenadora do [San Francisco] 49ers. Ela sempre gostou de futebol americano, mas ela nunca achou que ela pudesse trabalhar com futebol americano, porque ela sempre viu homens trabalhando com futebol americano.  Você não tinha, alguns anos atrás, mulheres sendo sendo assistentes, seja na NFL, seja na NBA, seja na NHL. Ela disse que o ponto fundamental para ela foi quando a Becky Hammon (atualmente treinadora do Las Vegas Aces, da WNBA) foi contratada na NBA [como técnica assistente do San Antonio Spurs, onde ficou de 2014 a 2022] e foi ali que a Katie Sowers viu que ela poderia seguir o sonho dela no esporte, que ela poderia chegar em algum lugar, gostando de esporte, ela poderia trabalhar com isso”, conta Giovanna. “Então, representatividade é um assunto bem mais sério do que as pessoas tratam… as pessoas, às vezes, gostam de fazer piada sobre isso, falar que ‘ninguém está fazendo caridade’, mas não é sobre caridade, às vezes as pessoas não estão nem procurando talento em todo lugar, às vezes não dando oportunidades iguais para todo mundo. E, quando você começa a ver que, sim, a gente pode dar oportunidades iguais para todo mundo, é muito melhor”.

Para a estudante de audiovisual e escritora em um site feito apenas por mulheres sobre a National Hockey League (NHL), a maior liga de hóquei no gelo na América do Norte, Giselle Weichert, de 20 anos, que vive em São Paulo, saber que há mulheres em postos maiores no esporte significa muito, mesmo para meninas mais novas, não só para quem está começando a acompanhar modalidades.

“É muito bom ver mulher no meio, se infiltrando e tendo cargos ainda maiores é muito importante, porque não é uma questão de gente que está começando, mas de quem nem começou”, afirma Giselle.

“Eu não conheço muito desse esporte, mas estou chocada”, afirma Giselle, ao saber das três presidentes de clubes da AFL. “Porque são mulheres presidentes e isso é muita coisa, é o auge do auge, a mulher não é uma treinadora assistente, ela é a presidente do clube, isso é muito bom, é um passo”.

Giovanna ainda acrescenta que mulheres presidentes podem mudar certos hábitos machistas das organizações esportivas.

“Você pode pensar que elas podem tentar mudar umas lógicas que são completamente machistas dentro do esporte, por exemplo, contratação somente de homens ou então contratação de pessoas com histórico não tão bom, quanto tantos jogadores que a gente conhece, que tem um histórico péssimo e às vezes eu acho que uma mulher no poder não faria algumas escolhas”.

As três contam que lidam bastante com o preconceito de homens nas redes sociais. Carol afirma que já foi bastante criticada enquanto fazia a divulgação da sua identidade visual, ao decidir fazer conteúdo por conta própria, enquanto Giselle diz que as mídias sociais do site onde escreve recebem piadas machistas. Por sua vez, Giovanna relata que mulheres que produzem conteúdo são por muito tempo subestimadas, principalmente no caso dela, por ter começado a falar sobre NFL quando tinha 16 anos.

Embora ainda haja muitos desafios, Carol, Giselle e Giovanna desejam que as mulheres continuem lutando por espaços no esporte.

“As mulheres que estão querendo trabalhar dentro dos times ou produzindo conteúdo não estão sozinhas, porque em um meio onde você se vê cercada de homens às vezes pensa ‘será que sou só eu?’, não é só você, tem muitas passando pela situação e muitas mulheres vencendo” diz Carol.

“Para qualquer mulher que quer seguir nessa área tem que ter muita força, vontade e perseverança, a gente não pode parar, a gente tem que seguir até o final”, complementa Giselle.

“Você vai conseguir, mesmo nos momentos que você disser ‘eu não aguento mais’, sim, você vai aguentar, vai continuar, vai chegar onde quer, porque é possível. Você, com certeza, é muito capaz. Simplesmente, não desista. Seja forte. Pense em você; pense nos outros, no impacto que você pode ter na sociedade também. Seguir os sonhos e não desanimar nunca. Quando as coisas ficarem muito difíceis, sempre vai ter alguém para te apoiar, te ouvir e falar ‘vai, continua’ e eu acho que isso é o mais importante, continuar sempre”, conclui Giovanna.

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