Home Futebol Nova derrota para o Fluminense foi o retrato fiel de um Flamengo desorganizado, acomodado e sem brilho

Nova derrota para o Fluminense foi o retrato fiel de um Flamengo desorganizado, acomodado e sem brilho

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira analisa as atuações dos times de Paulo Sousa e Abel Braga no jogo de ida da final do Cariocão 2022

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

O primeiro “round” da decisão do Campeonato Carioca nos apresentou um Fluminense muito seguro sobre aquilo que deveria fazer dentro de campo. Ao mesmo tempo, nos mostrou um Flamengo desorganizado, sem brilho e até mesmo acomodado em determinados momentos da partida desta quarta-feira (30). A quarta derrota seguida para o Tricolor das Laranjeiras também expôs os problemas táticos e coletivos do escrete comandado por Paulo Sousa. Enquanto Abel Braga conseguia extrair o máximo do seu elenco, o treinador português parece perdido entre aquilo que acredita sobre futebol e a melhor maneira de se adaptar às características do jogadores que tem à disposição. Certo é que o Flamengo segue devendo em 2022 e que a vitória do Fluminense por 2 a 0 praticamente sacramentou o título estadual.

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Isso porque a equipe rubro-negra dá sinais claros de estagnação e mostra dificuldades claras para executar a proposta de jogo trabalhada por Paulo Sousa e sua comissão técnica nos treinamentos. Há ideias, há conceitos bem definidos, mas a execução é muito ruim. E falando do jogo contra o Fluminense, o treinador português repetiu seu 3-4-2-1 costumeiro com Filipe Luís jogando no lado esquerdo do trio de zagueiros, Marinho jogando como ala pela esquerda e Vitinho e Everton Ribeiro procurando Gabigol no comando de ataque. Do outro lado, Abel Braga reforçava o meio-campo da sua equipe com Felipe Melo se comportando como terceiro zagueiro e volante, André e Yago Felipe atentos na marcação na frente da área e Cano e Paulo Henrique Ganso voltando com os volantes rubro-negros.

Formação inicial das duas equipes no Maracanã. Paulo Sousa mandou o Flamengo para o jogo no seu 3-4-2-1 costumeiro e Abel Braga apostou num 4-1-4-1 que se transformava num 5-4-1 conforme o posicionamento de Felipe Melo com e sem a posse da bola.

O grande “pulo do gato” do Fluminense estava no congestionamento do meio-campo. Por mais que o Flamengo buscasse fazer associações pelos lados do campo (Matheuzinho e Everton Ribeiro à direita e Marinho e Vitinho pela esquerda), o time sofria demais para se livrar da forte marcação tricolor e ainda apresentava problemas sérios na recomposição defensiva. Ao mesmo tempo, Willian Arão mostrava dificuldade para jogar de costas para seus adversários e não conseguia dar sequência às jogadas. Na prática, a bola só circulava com mais velocidade quando David Luiz ou Filipe Luís avançavam para participar da construção. Muito pouco para quem ficou treinando por vários dias e trabalhando seus conceitos num dos raríssimos momentos de descanso que o calendário insano do nosso futebol permitiu.

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Mas é preciso deixar bem claro que o Fluminense teve seus méritos. O time comandado por Abel Braga soube picotar o jogo com faltas e conseguiu explorar a falta de controle emocional do seu adversário. Sem paciência para trabalhar as jogadas de ataque, o Flamengo se transformou em presa fácil para a marcação do Tricolor das Laranjeiras. E é nesse ponto que reside a crítica mais forte deste que escreve com relação ao trabalho de Paulo Sousa. Com quase quatro meses no comando do escrete rubro-negro, a impressão que fica é a de que o Fla evoluiu muito pouco em termos coletivos. Há boas ideias, há uma maneira clara de jogo, mas a execução e as alternativas táticas parecem escassas. Com isso, a execução fica ruim.

Os únicos momentos de maior perigo do Flamengo no primeiro tempo foram as bolas levantadas na área para Bruno Henrique (substituto de Vitinho) atacar o espaço às costas dos laterais do Fluminense para tentar o arremate a gol. O problema é que até mesmo essa jogada estava “manjada” por todo o sistema defensivo do Fluminense. Faltava também mais velocidade para bagunçar e abrir a linha de cinco defensores da equipe de Abel Braga. Ao mesmo tempo, Cano e Paulo Henrique Ganso mostravam muita entrega e intensidade na marcação voltando até o campo defensivo para fechar os espaços na frente da área. E a lentidão do ataque do Flamengo só facilitou a vida do Fluminense.

Filipe Luís avança pela intermediária e vê todo o time do Flamengo encaixotado pela defesa do Fluminense. A lentidão e a falta de movimentação do ataque rubro-negro só facilitou a vida do seu adversário no Maracanã. Foto: Reprodução / YouTube / Cariocão TV

É preciso dizer que o Flamengo teve uma leve melhora no seu desempenho com a entrada de Arrascaeta no segundo tempo. Só que o Fluminense reequilibrou as ações em campo depois das entradas de Jhon Arias e Martinelli nos lugares de Ganso e Willian Bigode. A saída de Fabrício Bruno (um dos melhores do Fla na partida junto com o sempre regular e aplicado João Gomes) fragilizou ainda mais a recomposição defensiva. Ainda frio e desconcentrado, Léo Pereira perdeu a posse da bola no meio-campo para Arias e o colombiano serviu Germán Cano na entrada da área. O argentino venceu o duelo com Filipe Luís e chutou cruzado para abrir o placar no Maracanã aos 37 minutos do segundo tempo.

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O gol desarrumou ainda mais a equipe do Flamengo e escancarou os problemas coletivos da equipe. Por mais que o time de Paulo Sousa tenha mais qualidade individual, a impressão que fica é a de que os jogadores pareciam fazer força demais para executar aquilo que o treinador português queria. Mesmo com Pedro, Arrascaeta e Lázaro em campo, o Fla seguiu perdido e sem muitas ideias de jogo a não ser os cruzamentos de Gabigol para Bruno Henrique atacar as costas do lateral adversário. Conforme escrito anteriormente, o Fluminense se preparou para isso e teve no veterano Fábio a referência técnica de um sistema defensivo bastante coeso e consistente apesar da saída de Felipe Melo no segundo tempo.

O gol de Cano desarrumou completamente o Flamengo na partida e expôs ainda mais os problemas coletivos do escrete comandado por Paulo Sousa. As únicas jogadas de ataque eram as bolas levantadas para Bruno Henrique. Foto: Reprodução / YouTube / Cariocão TV

Estava mais do que claro que a falta de variações e a insistência num estilo de jogo que não se encaixa com as características do elenco só fez ruir o castelo de cartas rubro-negro. Dois minutos depois de abrir o placar, Cano aproveitou bobeira de Willian Arão e Léo Pereira e recebeu passe açucarado de Calegari para dar números finais ao jogo. Este que escreve entende que o trabalho de Paulo Sousa está muito abaixo das expectativas e que ele precisa encontrar soluções. Por outro lado, já se sabia que o treinador português tinha um estilo de jogo que não “casava” com as características dos jogadores. Os números do SofaScore (ver abaixo) mostram que o Flamengo tentou dominar as ações, mas agrediu muito pouco. Ao mesmo tempo, o Fluminense apostou numa proposta reativa e foi muito feliz.

Fala-se em demissão e reformulação do elenco nas redes sociais, mas pouco se fala das decisões ruins da diretoria rubro-negra. Se ela optou por contratar um treinador que tenta moldar o elenco em torno daquilo que ele acredita, haviam duas escolhas a serem feitas. Ou se adapta todo um elenco em torno do treinador ou se dá um tempo muito maior de adaptação e assimilação dos conceitos trabalhados nos treinamentos. Será que a diretoria do Flamengo sabia quem estava contratando e o que precisava ser feito para que a aposta em Paulo Sousa desse certo? Ou apenas apostou em mais um “tiro no escuro” como aconteceu com Jorge Jesus? Este que escreve não está afirmando que Paulo Sousa é um mau treinador. Ele tem uma visão bem interessante do futebol. Mas as dificuldades de adaptação são nítidas.

A impressão que fica é a de que o Campeonato Carioca já foi “para o vinagre” por conta de todo o contexto desfavorável da partida de volta. Dificilmente o Flamengo terá bola e nervos para tirar uma vantagem de dois gols de um Fluminense mais focado e consistente. Paulo Sousa já precisa enfrentar a sua primeira grande crise no comando do escrete rubro-negro. E relembrando os últimos meses lá na Gávea, a bomba sempre acaba caindo no colo do treinador.