Home Futebol Gurias Coloradas superam o São Paulo na base da organização e do controle da profundidade; confira a análise

Gurias Coloradas superam o São Paulo na base da organização e do controle da profundidade; confira a análise

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira explica como o Internacional de Maurício Salgado superou a equipe de Lucas Piccinato nesta segunda-feira (21)

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Que o futebol é um jogo de controle de espaços e estupidamente caótico, todo mundo sabe. Diante de um dos maiores dogmas do velho e rude esporte bretão, é fácil concluir que aqueles que conseguem controlar mais as ações no campo costumam sair vencedores de cada partida. As Gurias Coloradas seguiram essa linha na boa vitória sobre o São Paulo nesta segunda-feira (21). Mesmo jogando ainda um pouco abaixo do potencial do elenco, o escrete de Maurício Salgado soube como correr poucos riscos e anular o Tricolor Paulista com muita organização defensiva e muito controle da profundidade. Ao mesmo tempo, difícil não perceber a falta que a ótima atacante Gláucia faz no time do São Paulo. Não somente pelos gols, mas pelo fato da equipe de Lucas Piccinato não ter à disposição uma jogadora que entregue o que ela entrega com e sem a bola.

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Mas é preciso dizer que as Gurias Coloradas não venceram o jogo desta segunda-feira (21) apenas por conta da ausência desta ou daquela atleta no time adversário. A grande verdade é que o Internacional soube aproveitar bem as chances que teve e concedeu poucos espaços para o São Paulo trabalhar as jogadas no campo ofensivo. Ainda que não pratique um futebol que encha os olhos dos amantes da modalidade, a equipe de Maurício Salgado usa um estilo mais vertical e pautado nos duelos físicos do que propriamente num toque mais refinado com a bola. A escolha das titulares explica bem essa estratégia do treinador colorado. Há força, mas também há precisão no passe e boa visão de jogo.

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A formação escolhida por Maurício Salgado também foi importante nessa fluidez do jogo das Gurias Coloradas. O 3-5-2 (que trazia Fabi Simões como ala pela direita) conseguiu travar o 4-4-2 costumeiro de Lucas Piccinato no São Paulo e levar ampla vantagem nas bolas lançadas às costas da última linha de defesa tricolor. Sempre com Lelê e Millenne se movimentando bastante no terço final e abrindo espaços para que as habilidosas Duda e Maiara (a camisa 18 do Internacional) pudessem distribuir os passes. Exatamente como aconteceu no lance do primeiro gol das Gurias Coloradas, marcado logo aos cinco minutos de jogo por Millene (mesmo em posição duvidosa).

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A movimentação ofensiva das Gurias Coloradas foi fundamental para bagunçar a defesa do São Paulo. Duda receba a bola no meio-campo e vê o avanço de três companheiras de equipe enquanto Lelê atrai Thaís Regina e Millene ataca o espaço. Foto: Reprodução / SPORTV

A impressão que ficava da partida era a de que o São Paulo perdeu sua referência ofensiva. Não que isso tenha sido um problema em outras ocasiões (como na final da Brasil Ladies Cup no mês de dezembro), mas o contexto desta segunda-feira (21) exigia que alguém pudesse exercer esse papel no ataque tricolor. Isso porque as Gurias Coloradas se fechavam muito bem com uma linha de cinco defensoras protegendo a área da goleira Mayara e ainda conseguiam colocar muita intensidade nos contra-ataques. Formiga (talvez uma das poucas jogadoras lúcidas do escrete de Lucas Piccinato) tentava organizar o time, mas a falta de alguém que ocupasse o espaço entre as linhas e mexesse um pouco com o sistema defensivo o escrete comandado por Maurício Salgado foi nítida. Na prática, o Internacional soube muito bem como travar o ataque adversário.

Formiga tem a posse da bola no meio-campo, mas não dá sequência às jogads de ataque por conta do posicionamento do quarteto ofensivo do São Paulo. Faltava movimentação no terço final e alguém que ocupasse o espaço entre as linhas do Internacional. Foto: Reprodução / SPORTV

O São Paulo só conseguia levar perigo ao gol colorado na base das finalizações de média e longa distância, mas ainda assim sem o capricho necessário. O segundo tempo nos mostrou um Internacional mais presente no campo ofensivo sem perder o controle da partida com Capelinha jogando no lugar de Lelê e o deslocamento de Fabi Simões para o meio-campo numa formação bem próxima de um 4-4-2 com a camisa 7 à direita, Duda pela esquerda e Maiara e Millene exercendo a mesma função de atrair e arrastar a marcação adversária. O gol de Bruna Benites (marcado aos 13 minutos da segunda etapa) praticamente acabou com o ímpeto ofensivo do São Paulo. Conforme aconteceu no primeiro tempo, apenas Formiga mostrava alguma qualidade no passe e tentava fazer algo de produtivo no time de Lucas Piccinato. Nem mesmo as entradas de Duda Serrana e Rafa Travalão surtiram efeito.

Fabi Simões passou a jogar no meio-campo no segundo tempo e foi importante para dar ainda mais força ofensiva para as Gurias Coloradas no jogo. O São Paulo, por sua vez, continuou perdido e as mexidas de Lucas Piccinato não surtiram o efeito desejado. Foto: Reprodução / SPORTV

Ainda que a equipe jogue um pouco abaixo do potencial do elenco, precisamos reconhecer que as Gurias Coloradas estão aproveitando bastante esse início de Brasileirão Feminino. Não somente pelos resultados em si (três vitórias nas três primeiras rodadas), mas pela confiança adquirida com as atuações seguras. Por mais que se critique Maurício Salgado por esta ou aquela escolha, as últimas atuações do Internacional apontam para a consolidação da equipe de Porto Alegre entre as mais competitivas do país ATÉ O MOMENTO. Isso porque o início de temporada ainda prejudica bastante o desempenho dos nossos principais times e a busca pelo entrosamento e entendimento entre jogadoras e comissões técnicas ainda está longe do fim. Por outro lado, também é possível afirmar que o São Paulo ainda está abaixo do seu potencial. Mesmo com o desfalque de Gláucia.

É verdade que as coisas podem estar muito diferentes na última rodada da primeira fase do Brasileirão Feminino. Mas é justamente por isso que adquirir essa “gordura” é tão importante para dar mais tranquilidade ao time na reta final. E nem mesmo a tabela “mais fácil” das Gurias Coloradas (vitórias sobre os frágeis Cresspom e ESMAC nas primeiras rodadas) diminui o feito da equipe nessa vitória sobre o São Paulo. Tudo porque a equipe de Maurício Salgado prezou pela organização e pelo controle das ações dentro de campo. E isso é fundamental.

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