Home Futebol Flexibilidade, toque de bola e alta velocidade nas transições: as ideias táticas de Fabián Bustos

Flexibilidade, toque de bola e alta velocidade nas transições: as ideias táticas de Fabián Bustos

Na coluna PAPO TÁTICO, Luiz Ferreira destaca os conceitos do treinador argentino e como eles podem ser aplicados no time do Santos Futebol Clube

Luiz Ferreira
Produtor executivo da equipe de esportes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, jornalista e radialista formado pela ECO/UFRJ, operador de áudio, sonoplasta e grande amante de esportes, Rock and Roll e um belo papo de boteco.

Você já deve ter ouvido falar da expressão “DNA ofensivo do Santos” em algum momento da sua vida futebolística. Ela sempre aparece na mesa de debates ou nas entrevistas coletivas quando a diretoria do Peixe está procurando por um novo treinador seja ele estrangeiro ou não. E quem assume o cargo recebe a missão de resgatar esse “DNA”. E com Fabián Bustos não foi diferente. O argentino de 53 anos chega ao Alvinegro Praiano com várias tarefas urgentes e tendo de lidar com a pressão de torcedores e dirigentes por resultados rápidos bem conhecida aqui por estas bandas. E isso sem mencionar o calendário insano e a alta expectativa pelo resgate do tal “DNA ofensivo” tão comentado ultimamente. É por isso que precisamos deixar claro que, apesar de ter ótimas ideias de jogo, Fabián Bustos não é exatamente o treinador com o “DNA” que a diretoria tanto buscou.

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Isso porque o novo comandante do Peixe é bastante flexível no que se refere a sistemas de jogo. Ele pode, por exemplo, adotar um estilo mais agressivo ou trabalhar mais a posse da bola nas partidas disputadas em casa. E pode partir para uma postura mais reativa e voltada para os contra-ataques nas partidas jogadas fora de seus domínios. Essas mudanças no estilo podem ser notadas até mesmo dentro de um mesmo jogo dependendo do contexto apresentado. Fabián Bustos também é o tipo de treinador que se adapta às características dos jogadores disponíveis no seu elenco e não tem medo de ser mais pragmático quando necessário. Em linhas gerais, ele gosta que suas equipes trabalhem bem a bola e sejam objetivas no ataque.

O torcedor brasileiro conhece Fabián Bustos pelo seu trabalho à frente do Barcelona de Guayaquil, onde se sagrou campeão equatoriano (em 2020) e chegou às semifinais da Libertadores do ano passado eliminando Vélez Sarsfield, Fluminense e o próprio Santos (este ainda na fase de grupos). Chegou ao “Coloso de América” credenciado pela ótima passagem pelo Delfín e pelo título nacional conquistado em 2018. Mesmo não sendo o técnico dotado do “DNA ofensivo” procurado pela diretoria do Peixe, Fabián Bustos sabe como potencializar o talento dos jogadores que têm à disposição e sempre montou equipes bastante consistentes nas transições ofensivas e defensivas. A flexibilidade, nesse sentido, é quase um mantra.

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Quem viu o Barcelona de Guayaquil jogando contra Fluminense, Flamengo e até mesmo o Santos deve ter percebido que Fabián Bustos tem no 4-2-3-1 a sua formação preferida. Um centroavante que prenda e arraste os zagueiros para dar profundidade às jogadas ofensivas (e consequentemente abrir espaços) é algo que o argentino não costuma abrir mão. Assim como a presença de um “camisa 10” que assuma o papel de organizador do time e que jogue logo atrás do atacante de referência e dois pontas velozes e intensos que apareçam no ataque e fechem os lados do campo nos momentos defensivos (onde o 4-2-3-1 se transforma num 4-4-2 bem compactado na frente da área). É a partir dessa espinha dorsal que Fabián Bustos monta suas equipes e trabalha as variações de jogadas. O estilo mais flexível e adaptável pode fazer com que a postura em campo mude de acordo com o contexto de cada partida.

Fabián Bustos tem no 4-2-3-1/4-4-2 a sua formação preferida e gosta de utilizar um centroavante de referência e um “camisa 10” organizador de jogadas. Gonzalo Mastriani e Damián Díaz executaram bem esses papeis no Barcelona de Guayaquil. Foto: Reprodução / YouTube / ESPN Brasil

A construção das jogadas de ataque no Barcelona de Guayaquil (equipe que tomamos como exemplo) sempre partiam da famosa “saída de três”, onde um dos volantes recuava até a linha defensiva para ajudar na troca de passes. Ao mesmo tempo, os laterais costumam ter muita liberdade para avançar e até mesmo pisar na área como autênticos pontas. O espaço criado na frente da última linha é ocupado pelos volantes e meias que atraem a marcação adversária e permitem que o setor ofensivo possa atacar o espaço e dar profundidade às jogadas de ataque. É por conta disso que o tal centroavante mais fixo é tão importante nessa formação tática. É ele quem vai segurar a bola e esperar a chegada dos companheiros de equipe através das bolas mais longas ou das jogadas de pé em pé. Ele pode jogar mais recuado ou se comportar como uma referência para prender os zagueiros.

Um dos volantes (ou um dos laterais) recua até a linha dos zagueiros para fazer a “saída de três”. É a partir dessa formação que Fabián Bustos organiza as transições ofensivas das suas equipes. Sempre com amplitude e profundidade. Foto: Reprodução / YouTube / CONMEBOL Libertadores

Uma das marcas registradas dos times comandados por Fabián Bustos é o ataque rápido. Esse elemento era facilmente perceptível no Delfín e no Barcelona de Guayaquil, equipes que gostavam de fazer inversões e passes mais longos sempre na direção da área adversária. O estilo mais flexível pode até trazer momentos em que a bola é mais trabalhada (sempre dependendo do contexto) e onde o time pode marcar mais alto ou mais baixo. Mas um movimento muito notado nos times comandados pelo novo treinador do Santos era o ataque do espaço às costas da última linha defensiva do seu adversário. Geralmente são os jogadores que atuam mais por dentro que realizam esses movimentos de desmarque na direção do gol adversário. Mas um ponta que corte para dentro também pode fazer isso. Com poucos toques, o time já chegava na frente do goleiro com condições plenas de balançar as redes.

O ataque rápido é uma das marcas dos times de Fabián Bustos. Geralmente são os jogadores que atuam mais por dentro que são os responsáveis por empurrar a defesa adversária para trás, mas um ponta que corte para dentro também pode fazer esse movimento. Foto: Reprodução / YouTube / ESPN Brasil

O estilo mais adaptável de Fabián Bustos permite que o jogo ofensivo possa ser feito com toques por baixo e mais ocupação das entrelinhas. Mas tudo depende do cenário e do contexto de cada partida. Sem a bola, os times comandados pelo argentino tendem a executar a pressão pós-perda logo no campo adversário para evitar que a equipe seja atacada. Caso a primeira essa primeira pressão não funcione, a ordem é retornar e fechar a entrada da área com duas linhas com quatro jogadores. É preciso notar aqui que os times de bustos tinham alguns problemas, como a falta de intensidade nas transições defensivas e a marcação das bolas aéreas. Não foram poucas as vezes em que o Barcelona de Guayaquil sofreu com bolas levantadas na área. Por mais que a linha de quatro defensores esteja sempre bem fechada e compactada, falhas como essas eram perceptíveis e bem exploradas pelos seus adversários.

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Os times de Fabián Bustos costumavam sofrer muito nas transições defensivas e com as bolas aéreas. Por mais que falte intensidade no retorno para o campo de defesa e que as linhas estejam organizadas, suas equipes sofriam demais nesses dois pontos. Foto: Reprodução / YouTube / CONMEBOL Libertadores

Antes de partir em busca do tal “DNA ofensivo”, Fabián Bustos tem que encontrar a melhor formação dentro de um elenco recheado de jovens valores e de atletas que já estão bem longe da sua melhor forma física. Diante de tudo o que foi mostrado acima, a tendência é que nomes como Marcos Leonardo, Lucas Braga e Gabriel Pirani larguem na frente, já que a preferência pelo toque de bola mais rápido é um ponto forte dos três. Ao mesmo tempo, Camacho pode ser o volante que recua para fazer a “saída de três” enquanto Ricardo Goulart pode atuar como o “camisa 10” do Santos de Fabián Bustos. Tudo depende, é claro, das suas condições físicas e do entendimento dos conceitos do treinador argentino. É possível também pensar em Vinícius Balieiro ficando mais preso na lateral para que Lucas Pires ganhe liberdade de apoio. São perguntas que só os treinamentos e as partidas vão responder.

Certo é que Fabián Bustos é flexível e sabe se adaptar às características dos jogadores. O que ninguém sabe dizer é se torcida e dirigentes terão a paciência necessária com ele. Já se sabe que o tempo nesse processo de entendimento entre treinador e atletas é fundamental. Até para que ele encontre de fato esse tal “DNA ofensivo” no Peixe sem que a equipe perca equilíbrio. Não é uma tarefa fácil de ser cumprida. Mesmo num clube repleto de jovens e promissores jogadores como o Santos Futebol Clube.

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